As bolsas de valores da Europa e da Ásia tiveram o pior dia em 37 anos, desde a chamada Black Monday de 1987. O principal motivo é o temor de uma recessão nos Estados Unidos, que ganhou musculatura depois da divulgação de dados sobre o mercado de trabalho americano.
Em julho, os Estados Unidos criaram 114 mil vagas fora do setor agrícola, menos do que o esperado pelos analistas. Já a taxa de desemprego ficou em 4,3%, acima dos 4,1% do mês anterior.
Além disso, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) indicou, na última quarta-feira, 31, um provável início de corte nos juros já em setembro.
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Especialistas do mercado financeiro ouvidos por Oeste destacam que todos esses fatores, somados ao aumento da taxa de juros no Japão, podem ter contribuído para a movimentação negativa das bolsas asiáticas.
“O mercado estava precificando um cenário de ‘céu de brigadeiro’, em que a inflação ficaria sob controle e os juros poderiam começar a cair sem que o país entrasse numa recessão”, explica a gerente de research e conteúdo da Nomad, Paula Zogbi.
“Agora, o temor é que o Fed tenha demorado demais para começar a baixar juros e que esse juros altos tenham, sim, causado início de uma recessão”, acrescenta Paula.
A especialista da Nomad destaca que o Banco Central japonês manteve a taxa de juros baixa por mais de 17 anos, o que provocou um grande carry trade — movimento em que um investidor toma dinheiro emprestado em uma moeda com juros baixo e o investe em ativos de outra divisa que tenha taxa de juros mais elevada.
“Porém, o mercado diz que esse dinheiro não estava sendo usado só pra lucrar com moedas de países emergentes, mas também para investimentos, por exemplo, em big techs“, afirma. “Ou seja, eles estavam se alavancando por meio de carry trade para comprar ações nos mercados globais, e esses movimentos estão se desmontando.”
Já o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, explica que as altas taxas de juros no Japão provocam um movimento de migração de recursos aplicados em renda variável para renda fixa. Essa é uma forma de investidores buscarem “proteção” para seus ativos.
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“Todo mundo tenta se proteger indo para títulos públicos norte-americanos, porque com os Estados Unidos desacelerando, todo mundo tende a desacelerar”, acrescenta. “Então, quem perder [dinheiro], vai perder menos. É uma coisa meio é irracional, mas é assim que o mercado funciona.”
Investidores da Ásia querem sair por “porta estreita”
O especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias concorda, e acrescenta que a recente movimentação de Warren Buffett, que vendeu quase metade de sua participação na Apple, também influenciou a queda nos mercados da Ásia.
“A partir do momento que a percepção de risco se altera e o Banco Central japonês indica que haverá um aumento dos juros, os investidores que montaram essas posições durante muito tempo começam a desmontá-las”, explica Dias.
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Segundo o especialista, dentro desse processo, existe um ciclo de queda – intensificado por investidores que querem sair por uma espécie de “porta estreita”.
“Imagina que começa um incêndio em uma sala de cinema com 400 pessoas para sair de uma porta onde só passam três pessoas”, exemplifica Dias. “Isso vai engasgar. Dentro do mercado financeiro, quando acontece isso, a gente vê essas altas ou quedas muito fortes”, conclui.