O desastre no Rio Grande do Sul, causado por fortes chuvas no início de maio, afetou o lucro das seguradoras em mais de R$ 122 milhões no segundo trimestre.
De acordo com o jornal Valor Econômico, as seguradoras BB Seguridade, Caixa Seguridade e Porto, listadas na bolsa, foram as mais impactadas.
Apesar desse valor, o prejuízo foi menor do que o esperado por especialistas no auge da tragédia, quando enchentes destruíram cidades inteiras. Analistas, como os do BTG, destacaram que as empresas tiveram um desempenho melhor do que o previsto, com boas margens de lucro.
No total, as seguradoras lucraram R$ 1,87 bilhão de abril a junho, um aumento de 1,6% em relação ao mesmo período de 2023. Esse cálculo seguiu a norma contábil CPC 11, que ainda é utilizada pela Susep, mesmo com a introdução de novas regras neste ano.
Entre as empresas, a Porto (antiga Porto Seguro) foi a mais impactada, com uma redução no lucro de R$ 87,2 milhões. O valor dos sinistros pagos chegou a R$ 255 milhões, mas as resseguradoras devem cobrir apenas entre R$ 3 e R$ 4 milhões, conforme informou Celso Damadi, diretor financeiro da Porto.
Os impactos das enchentes para as empresas
A cobertura se concentra nas áreas empresarial e residencial, já que a Porto não realiza resseguros na carteira de veículos, onde 3,8 mil veículos foram sinistrados após a tragédia no Sul.
Na Caixa Seguridade, o impacto das chuvas resultou em uma perda de R$ 34,7 milhões, considerando as participações nas empresas Caixa Residencial, CNP Seguros e Too Seguros.
O diretor financeiro, Eduardo Oliveira, destacou que, sem os contratos de resseguro, o efeito sobre o lucro teria sido muito maior, já que os sinistros totalizaram R$ 461 milhões, dos quais R$ 349,7 milhões foram cobertos pelo resseguro.
O trimestre registrou 10,8 mil acionamentos, com os setores habitacional e residencial sendo os mais afetados.
A BB Seguridade, embora tenha visto um aumento na sinistralidade de suas seguradoras controladas, não sofreu impactos significativos no resultado. O diretor-presidente, André Haui, mencionou que a empresa recebeu pouco mais de 5 mil acionamentos durante o período crítico.
Despesas com sinistros
As despesas com sinistros foram de cerca de R$ 225 milhões, mas a estratégia de resseguro da BB Seguridade reduziu significativamente o impacto líquido. Cerca de 80% dos sinistros ocorreram no setor agrícola e de penhor rural, onde a empresa possui mecanismos robustos de proteção.
No segundo trimestre, a BB Seguridade foi a única a reduzir a taxa de sinistralidade, que caiu para 27,2%, comparada a 28,2% no mesmo período de 2023. A Porto, por outro lado, viu sua sinistralidade aumentar 3,2 pontos percentuais, atingindo 52,5%, com as enchentes sendo responsáveis por parte desse aumento.
No segmento de automóveis, a sinistralidade subiu 4,7 pontos percentuais para 59,0%. Já a Caixa Seguridade registrou um aumento de 38,8 pontos percentuais na sinistralidade, alcançando 59,4%, devido tanto às enchentes quanto ao recebimento tardio de uma base de clientes falecidos.
Expectativas para os próximos meses
As seguradoras acreditam que os próximos trimestres não serão tão impactados pelo desastre no Sul quanto o período de abril a junho. Sperendio, da BB Seguridade, afirmou que não há necessidade de aumentar as provisões de sinistros além do que já foi registrado no segundo trimestre.
Oliveira, da Caixa Seguridade, também disse que, do ponto de vista financeiro, o impacto do desastre no Rio Grande do Sul não deve mais influenciar os resultados.
Damadi, da Porto, afirmou que 99,9% dos efeitos ficaram concentrados no segundo trimestre e que qualquer impacto residual no terceiro trimestre será insignificante. A administração da Caixa reforçou que os impactos financeiros devem ser pouco significativos nos próximos trimestres.
Os efeitos podem ser mais duradouros para as resseguradoras, como a IRB (Re), onde se espera algum impacto até o final do ano, embora de menor magnitude. Marcos Falcão, diretor-presidente da IRB, explicou que 70% dos efeitos já ocorreram no segundo trimestre, e o impacto em junho foi de apenas R$ 5 milhões, comparado aos R$ 60 milhões dos dois meses anteriores.
A expectativa inicial do mercado era que as enchentes no Rio Grande do Sul teriam um impacto maior, mas a resseguradora distribuiu os riscos entre outras resseguradoras. O total de pedidos de indenização relacionados às enchentes atingiu R$ 5,6 bilhões entre o final de abril e o início de agosto, segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg).
O presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, observou que os pedidos estão desacelerando, sugerindo que os números estão próximos do valor final.
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