Enquanto unidades correm para cumprir protocolo do governo, alunos e pais precisam trabalhar o lado emocional para retomar atividades
“Nossa expectativa era voltar em setembro, junto com as escolas regulares.” Nas palavras da coordenadora pedagógica e proprietária da Rockfeller Vila Leopoldina, Ieda Griebel, é possível entender a surpresa de donos, pais e alunos ao saberem que as escolas de idiomas poderiam voltar a funcionar já na fase amarela do Plano São Paulo de retomada da economia.
A possibilidade de reabertura, anunciada em 13 de julho, fez com que boa parte das unidades corresse para começar o processo de adaptação ao protocolo imposto pelo governo Doria para a volta às aulas.
Muitas das marcas franqueadoras procuradas por Oeste durante a apuração desta reportagem ainda não haviam terminado de cumprir todos os requisitos.
“A gente só pode voltar com 40% dos alunos, e é por isso que estamos trabalhando para receber a todos da melhor forma e com todo o protocolo”, explica Marcelo Machioni, gerente-geral da unidade Wizard Grajaú.
A escola já conseguiu implementar o que foi solicitado pelo governo: logo na entrada, uma funcionária usa um termômetro digital para medir a temperatura de quem entra e fornece álcool em gel para a desinfecção das mãos. Um pano com desinfetante para os pés também está na entrada e a recepção foi fechada com fibra de vidro transparente. Além de álcool em gel, em todos os ambientes placas indicam a obrigatoriedade do uso da máscara facial.
“A gente criou esse protocolo com todas as medidas de cuidados, como o uso da máscara, o descarte dela, o distanciamento social, o aumento da frequência de limpeza — estamos limpando os recintos várias vezes por dia — e a medição da temperatura de todos os funcionários”, conta a gerente da unidade de recursos humanos, Elaine Ferreira Costa, que ficou responsável por treinar os empregados para o retorno e garante: tudo é cumprido à risca.
Inclusive o distanciamento entre as carteiras. Em salas onde antes cabiam até 25 alunos, serão apenas seis por turma.
Previsibilidade e segurança
Mas, afinal, será que, com tudo isso, os alunos estão dispostos a voltar?
“Eu me adaptei superbem ao on-line. Para mim, está ótimo fazer de casa”, diz a advogada e aluna Bianca de Souza.
Como ela, muitos estudantes ainda não se sentem confortáveis para retornar à sala de aula.
“Essa é uma adaptação que ninguém vivenciou ainda, não é um retorno de férias nem um começo de ano letivo”, lembra a psicopedagoga e professora de educação infantil Rossane Rosental, do Colégio Mackenzie.
Para ela, é fundamental que a escola seja transparente sobre como vai funcionar todo o processo e, principalmente, ouça o aluno e o que ele espera desse retorno.
Rossane destaca que a comunicação entre a escola e os pais também é essencial, até para que todos saibam as novas regras a serem seguidas e não exista a sensação de insegurança.
“O foco é a previsibilidade, ‘o que vou encontrar quando voltar”’, conclui a psicopedagoga. “Sabendo o que vai acontecer, estabelecendo uma rotina, você diminui a carga emocional e facilita o aprendizado do aluno.”
Segurança é a palavra que parece estar por trás do que buscam os pais:
“No caso da escola de inglês, que praticamente tinha a Lívia e mais algumas crianças, acho que até mandaria, por ter um número bem reduzido de alunos”, pondera Carla Alves, mãe de Lívia Alves, de 7 anos. “Mas se a sala crescesse demais, por exemplo, aí esperaria um pouquinho para deixá-la voltar.”
“Se eu puder escolher, ele continua de casa. Apesar que ainda não vi a escola. Quem sabe se vendo não mudo de ideia?”, pondera Flávia Camilo, mãe de Joaquim Betim, de 13 anos.
Pelo que se pôde constatar pela aplicação de todos os protocolos determinados pelo governo, seguro é. O difícil é vencer a sensação de medo que durante tanto tempo foi imposta e, agora, precisa ir embora.