Em entrevista a Oeste, o pesquisador do Insper Marcos Mendes afirmou que as medidas econômicas do governo federal para combater o coronavírus estão no caminho certo. Segundo ele, que está desenvolvendo um estudo acerca do tema, são políticas essenciais agora porque garantem que as empresas continuem de portas abertas e asseguram uma rede de proteção social aos mais vulneráveis. Contudo, ele alerta que as despesas temporárias não devem se converter em gastos fixos, que trarão prejuízo a longo prazo. No segundo cenário, o aumento da dívida pública poderia consumir mais de 100% do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) em 2021.
“A decisão de adotar medidas de gastos temporários está correta, para que tanto o governo federal, como os Estados e os municípios, possam ter flexibilidade no orçamento e não se endividem”, afirmou Marcos, ao mencionar que, por outro lado, há uma pressão muito forte no Congresso Nacional para a aprovação de medidas que, a longo prazo, podem se tornar despesas permanentes. O especialista citou, por exemplo, a tentativa de aumento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que passaria a custar anualmente R$ 20 bilhões, e do gasto adicional com o novo Fundeb. “Se essas iniciativas prosperarem, teremos um volume de despesas que vai comprometer o resultado fiscal do ano que vem”, explicou.
“É preciso que os servidores públicos, principalmente os de alta renda e com emprego garantido, também paguem essa conta”
Marcos afirma que, independentemente do modelo adotado, a conta terá de ser paga em algum momento. Para isso, ele defende que os servidores públicos, com estabilidade no emprego e altos salários, ajudem a quitá-la. De que forma? Contribuindo com a redução de seus próprios rendimentos. “Toda a população teve uma perda de renda muito grande. É preciso que os servidores públicos, principalmente os de alta renda e com emprego garantido, também paguem essa conta”, constatou. Além da venda de ativos da União, o economista sugere que o Judiciário e o Legislativo estaduais também ajudem, haja vista que são favorecidos com verbas públicas que sequer foram gastas.
“Se somar todos os legislativos e os judiciários estaduais, eles têm em caixa entre R$ 5 e R$ 10 bilhões que não foram gastos em razão do grande volume de verbas recebidas. O dinheiro fica guardado para, no fim do ano, pagar salários-extras, auxílio-paletó e construir sedes suntuosas. Esse valor tinha de ser transferido para o Executivo combater a epidemia”, observou Marcos. Ele afirma que é necessário haver espaço para reduzir as despesas excessivas de pessoal em todos os Estados, sobretudo nas chamadas atividades-meio, que, no momento, não são essenciais em razão de a maioria dos brasileiros estar na quarentena.
Por fim, Marcos Mendes avalia que, passada a crise, a agenda de reformas econômicas adotada pelo governo precisa ser retomada quanto antes porque a dívida pública terá crescido muito. “Uma vez passada essa crise, é preciso retomar a agenda de reformas. Se torna premente, também, vender ativos públicos para pagar essa conta”, concluiu.
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Muito bom! Marcos Mendes não decepciona. Análise precisa e ponderada, algo cada vez mais raro no cenário nacional. Já o texto, impecável. Síntese clara e concisa das propostas e do pensamento do entrevistado. Fica a sugestão da transcrição na íntegra da entrevista, na revista desta semana, se é que já não o farão.