O pacote fiscal anunciado na última quarta-feira, 27, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, caminha na direção certa de sanar problemas velhos conhecidos, mas que veio sem a potência esperada pelo mercado. Primeiro porque, segundo escreve o economista Luís Otávio de Souza Leal, no seu “Canário da Mina”, relatório que a G5 Partners distribui a seus clientes semanalmente, junto com o pacote foi anunciada uma medida tributária fora de hora. O economista se refere à reforma do Imposto de Renda, que só será discutida no Congresso Nacional em 2025.
“Portanto, a uma medida tributária fora de hora, somou-se a um pacote na direção certa, porém sem a potência esperada pelo mercado”, afirma o economista. “Por exemplo, discussões sobre a desvinculação dos benefícios sociais do INSS, ou mesmo apenas do abono salarial, do salário mínimo, não aparecem. Assim como mudanças no seguro-desemprego, que, claramente mal desenhado, vem crescendo exponencialmente, mesmo com a taxa de desemprego chegando a mínimos históricos.”
Por isso, de acordo com Souza Leal, a reação do mercado não era para causar surpresas. Ele se refere à subida de mais de 3% do dólar entre quarta e quinta-feira 28, chegando a R$ 5,99, e da taxa de juros nominal de 5 anos, que passou de 13,04% para 13,74%, e a real, de 6,95% para 7,19% no mesmo período.
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Sem dúvida nenhuma, segundo o economista da G5 Partners, há um exagero nesses movimentos, potencializados pelo stop loss. “Entretanto, eles não aconteceram sem razão”, observa. Um pacote fiscal desidratado e a divulgação de uma medida extemporânea apenas consolidaram no mercado a certeza de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem nenhum interesse em resolver o problema fiscal antes das eleições de 2026.
“Bem, se o governo continua mantendo o pé no acelerador dos gastos — e a isenção para quem ganha até R$ 5 mil vai nessa direção, uma vez que libera recursos para uma faixa de renda que consome a maior parte da renda, compensando com a queda da renda de um estrato da sociedade que tende a poupar —, a política monetária tem que colocar o pé no freio”, avalia Souza Leal.
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Outras observações do economista da G5 Partners
Até porque, continua ele, “considerando que já temos uma desvalorização de 23% no ano, o impacto no IPCA nos próximos 12 meses pode chegar a 1 ponto porcentual”. Nesse sentido, o economista garante que “por isso, quando se trata da próxima reunião do Copom, no dia 11 de dezembro, a discussão não é mais sobre se o BC vai subir os juros em 0,5 ponto ou 0,75 ponto, mas se a alta vai ser de 0,75 ponto para 1 ponto.”
Inclusive, lembra o economista, no final da última quinta-feira, o mercado atribuía uma chance de 52% de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central escolher o aumento mais salgado.
“Obviamente, nossas projeções não passaram incólumes dessa piora dos ativos”, disse Souza Leão. “Mesmo considerando que estamos em um claro modo pânico nos mercados, quando os preços perdem a ligação com a realidade, mudamos nossa expectativa para a reunião do Copom de dezembro de 11,75% ao ano para 12%, alta que passou de 0,50 para 0,75 ponto porcentual. Em consequência, nossa projeção para os juros de final de ciclo passou de 13% ao ano para 13,5% e, para o final de 2025, de 12% ao ano para 12,5%.”
No caso da inflação, a G5 Partners prefere esperar a divulgação do IPCA de novembro — o que ocorrerá ainda neste início de dezembro — para reavaliar o cenário, mas as projeções de 4,7% para este ano e de 4,3% para o ano que vem têm um claro viés de alta.
“A mesma sinalização vale para o câmbio”, avaliou o economista. “Nossa projeção de que dólar pudesse ficar entre R$ 5,50 e R$ 5,60 no final de 2024 partia da premissa de um pacote bom. Como ele não foi bom, vai ser revisada para cima. Para que nível? Vamos esperar a poeira baixar um pouco para fechar questão, mas certamente ficará ao redor de R$ 6 tanto para este ano quanto para o próximo.”
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Revista Oeste, com informações da Agência Estado