O ano de 2020 parecia ser de realização de sonhos para Ana Caroline Acedo, a Carol, como a personal trainer de 36 anos gosta de ser chamada
Depois de 14 anos de carreira, Ana Caroline Acedo, educadora física, e o marido Jovadir Junior, atleta da seleção brasileira de trail running, finalmente conseguiram financiar o primeiro imóvel em Bragança Paulista, a 70 quilômetros de São Paulo e decorá-lo da forma como sempre sonharam, também com a ajuda de um empréstimo a ser pago em suaves prestações.
Mudaram para o tão planejado apartamento no final de janeiro deste ano. Em março, veio o pesadelo, como a própria Carol conta em depoimento dado a Oeste.
Exercitando a internet
“O fato de estarmos impossibilitados de trabalhar me fez perder 80% dos meus alunos.
Então o que eu fiz? Fui para a internet. Passei a fazer lives. Naquela hora em que estava bem difícil mesmo, em que ninguém mais saía na rua, passei a dar live segunda, quarta e sexta e ficava pulando na frente da câmera no Instagram. E isso me trouxe muita coisa.
Por exemplo, minha live mais cheia teve 94 espectadores, eu nunca colocaria 94 pessoas numa sala. Isso não me trouxe renda nenhuma, porém fez com que as pessoas me vissem mais. Ganhei muitos seguidores que, hoje em dia, são meus alunos por vídeo.”
Desespero pesado
“Teve um dia em que eu caí em depressão. Chorei horrores, fiquei muito mal, nem liguei para o coronavírus e fui lá na casa da minha mãe, porque eu precisava de colo. Foi na virada do mês de março para abril, quando as pessoas começaram a me dizer ‘olha, não vou continuar, não dá para continuar’. E vou reclamar o que para quem? Eu sei que está difícil. Se eu tivesse que pagar para fazer atividade física, também não pagaria, porque também estou sem dinheiro. Fiquei muito mal de ver todos os meus alunos irem embora, eu também preciso de dinheiro!”
Tecnologia fitness
“Aí, meu marido, que é muito mais racional que eu, chamou a equipe de marketing digital dele e disse ‘Calma! Você vai cobrar pelas aulas online que você está dando agora’ e eu passei a oferecer esse produto, que chama Personal Living Action.
Nessa aula, não podia cobrar caro, porque as pessoas não têm dinheiro. Então, se a pessoa faz aula comigo uma vez na semana, ela paga R$ 20 a aula. Se ela faz duas ou mais vezes, R$ 10 a aula.
Não estou gastando absolutamente nada, a pessoa está gastando o mínimo possível, está me conhecendo e ainda existe a possibilidade de se tornar um aluno [presencial] meu mais para frente.
Tem dado certo, tenho uma aluna de Living Action, por exemplo, às 6 horas da manhã de segunda, quarta e sexta.
É claro que os alunos do estúdio ainda pedem e muito para voltar. Muitos deles dizem que usariam luvas e máscaras sem problemas e redobrariam o uso do álcool gel, porque não aguentam mais ficar parados. O mais engraçado é que boa parte dessas pessoas são médicos, mas não posso fazer nada, por enquanto estou me virando como posso.”
Finanças na balança
“Minha renda caiu 80%, literalmente. Voltei para aquela fase em que minha mãe precisa me ajudar. Ela vai no supermercado, quando pega uma caixa de ovo para ela, pega uma para mim. Estou indo comprar carne num supermercado longe de casa porque lá o frango sai por R$ 10 o quilo.
A minha sorte é que em abril, não tive de pagar a parcela do apartamento, o dono mesmo empurrou o financiamento para frente. Mas não sei se isso vai acontecer em maio.
As parcelas dos móveis, ainda bem, são mais leves, então, apertando um pouco aqui e ali, consegui dar um jeito e pagamos.
Mas é nessas horas em que você vê quem está do seu lado de verdade. Teve uma amiga minha que conversei por telefone e contei minha situação. Estou lá no estúdio, chega um mototáxi com uma caixa de verduras, sem eu pedir, porque ela foi à feira e mandou pra mim, pro Juninho [marido] e pro João [filho de 13 anos de Carol]. São coisas que nunca vou poder retribuir.
É difícil quando você é autônomo, trabalha e ganha e se você não trabalha, você não ganha. É muito difícil essa situação de não ter reserva.”
Esperança para uma vida mais leve
“Mais uma vez foi o Juninho que me fez sair de uma vibração negativa quando me disse para eu parar de pensar no “se tudo isso acabar” e focar no “quando as coisas melhorarem”, porque elas vão melhorar. Foi aí que eu virei a “chavinha”, eu parei de reclamar e passei a agradecer. Está pingando? Graças a Deus. Meia dúzia voltou? Graças a Deus. Tive de atrasar o convênio, mas agora vou pagar? Graças a Deus.
Aqui em Bragança, tivemos 63 casos de coronavírus e dez mortes, mas os casos são bem espalhados.
Tem muitos lugares aqui na cidade que abriram falência, não vão voltar. É muito duro isso, foi uma pancada grande a que tomamos.
Precisamos que as coisas comecem a voltar logo para que possamos retomar a vida.”
1. “No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade.” (Albert Einstein)
2. “Só os gênios enxergam o óbvio”. (Nelson Rodrigues) / “Os gênios olham para o que todo mundo vê e enxerga sempre algo diferente (geralmente escondido dentro do óbvio).”
3. “Cabeça fria bota as coisas no lugar.” (música sertaneja)
4. “Quando tudo nos parece dar errado acontecem coisas boas que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo.” (Renato Russo)
5. “Muita calma nessa hora” e sempre alerta para oportunidades e ideias.
Esse é só mais um dos milhões de casos Brasil a dentro. O vírus é perigoso? Sim. Deve voltar tudo abruptamente? Não. Mas o Brasil PRECISA retomar as atividades produtivas. Que sejam estabelecidos todos os critérios necessários, mas não dá mais para continuar assim. Fizeram uma quarentena extensa como essa e até o momento não houve efeito de achatamento da curva. Vamos ficar trancafiados em casa até quando? 2030? …
Um testemunho como este escancara a necessidade das voltas as atividades, anda que de maneira controlada. Felizmente esta parece ser a tendencia.