A volta do horário de verão é considerada improvável no curto prazo. Especialistas afirmam que a mudança requer um amplo planejamento prévio, inclusive com companhias aéreas. As informações são do Broadcast, programa de notícias em tempo real do Estadão.
Essa política geralmente era adotada no mês de outubro de cada ano, até fevereiro do ano seguinte. O argumento central para um possível retorno do horário de verão é a possibilidade de redução da demanda no horário de pico e, consequentemente, a diminuição da pressão sobre o sistema elétrico, especialmente tendo em vista o cenário hidrológico desfavorável do momento, que tem levado ao acionamento de termelétricas, de custo mais elevado.
Porém, o governo já tem buscado adotar outras medidas para aumentar a confiabilidade do sistema, sem precisar imediatamente da volta do horário de verão, afirmou uma fonte.
Do ponto de vista do planejamento e redução da demanda em horário de ponta, há um movimento em prol do avanço do programa Resposta da Demanda (RD) — quando grandes consumidores apresentam ofertas de redução de demanda em troca de uma remuneração.
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O que dizem especialistas?
O ex-diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Luiz Carlos Ciocchi, que deixou a instituição em maio, disse que todos os anos o ONS costuma realizar, a pedido do governo federal, estudos sobre os benefícios, do ponto de vista elétrico, de retomar o horário de verão, atualizando os dados de acordo com a situação de cada ano.
“Nos anos anteriores, o resultado sempre foi que, do ponto de vista energético, a diferença é pequena, não vale a pena [adotar o horário de verão]”, afirmou. Ele cita, porém, que outros benefícios devem ser levados em consideração, como maior estímulo ao turismo.
Procurado agora para comentar sobre o estudo atualizado sobre o tema, o ONS evitou responder e indicou questionar o Ministério de Minas e Energia.
Diante de reservatórios de hidrelétricas mais baixos e temperaturas mais elevadas, que estimulam maior consumo, o preço da energia tem acelerado, em especial no fim da tarde, entre 17h e 19h, justamente no período que seria influenciado pela mudança no relógio.
Na semana passada, por exemplo, o preço spot horário da energia — tecnicamente conhecido como preço de liquidação das diferenças (PLD) — chegou a R$ 712 por megawatt-hora (MWh), às 18 horas.
Para Ciocchi, a adoção do mecanismo somente alteraria o horário do preço-teto diário, sem efetivamente provocar benefício substancial de redução de custos, porque não haveria mudança significativa na demanda de ponta.
Ele explicou que o preço sobe no fim do dia justamente quando a geração solar diminui, exigindo maior produção de energia, basicamente hidrelétricas e termelétricas. “Todos os dias, quando o sol se põe, vemos uma rampa de 20 a 25 gigawatts para cobrir; o sol se põe na hora que ele tem que se pôr, se você chama aquela hora de 5, 6 ou 7 horas da noite, pouco importa, a rampa é a mesma.”
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Horário de verão não traria ajuda significativa, diz especialista
Na visão do sócio da CBIE Advisory Bruno Pascon, a retomada do horário de verão traria “alguma ajuda”, mas nada significativo. Ele lembra que a razão original do mecanismo era deslocar o pico de consumo de energia, que se dava quando as pessoas voltavam para casa e utilizavam chuveiros elétricos no início da noite.
Atualmente o pico ocorre entre 14h30 e 15h30, devido ao uso de ar condicionado. “Com essa dinâmica, o efeito do horário de verão é muito pontual.” Ele afirmou que em 2018, último ano de vigência do mecanismo, o efeito de economia de energia foi de somente 0,4%.
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“Jamais deveria ter sido cancelado”, diz ex-diretor da Aneel
Para o ex-diretor da Aneel Edvaldo Santana, o horário de verão jamais deveria ter sido cancelado. “Diante da situação atual, de escassez de recursos hídricos, que limita a geração de energia exatamente na hora da demanda máxima, que é entre o fim da tarde e o início da noite, o horário de verão seria positivo. Não é nada excepcional, mas ajuda” argumentou.
Já o ex-diretor-geral do ONS Luiz Eduardo Barata avalia que a política do horário de verão é positiva, pois reduz a geração de termelétricas. Na direção do ONS à época em que o governo acabou com a medida, ele ressalta que foi contra o fim do adiantamento dos relógios e considera que a decisão de voltar “é política e não técnica”.
“Eu não acredito que a mudança no clima [favorável para os reservatórios] vai ocorrer de forma abrupta, a nossa expectativa é contar com temperaturas altas por mais tempo”, diz, em relação às propostas para a confiabilidade do sistema elétrico, incluindo o horário de verão.
O presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica, Alexei Macorin, afirmou que o país tem aumentado a inserção de fontes intermitentes (solar e eólica), em que a curva de demanda não acompanha a curva de geração. Ele também defendeu o horário de verão como alternativa viável para aliviar o sistema, no horário de pico de demanda.
Redação Oeste, com informações da Agência Estado