O dia 13 de outubro de 2010 é considerado um segundo nascimento para 33 mineiros que trabalhavam na mina San José, no Chile. Eles foram libertados da mina em que ficaram presos, depois de soterramento, a quase 700 metros de profundidade.
Foram mais de dois meses. O drama teve início em 5 de agosto de 2010, quando a mina de San José desabou, relata o History Channel Brasil. Lá embaixo, os trabalhadores ficaram em uma área de abrigo com suprimentos apenas para alguns dias.
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“Já se passaram 14 anos, as memórias vão mudando”, diz a Oeste o mineiro Mário Sepúlveda, que, alegre e carismático, se tornou um líder do grupo durante aquele período. “Mas lembro que a primeira coisa que me veio à cabeça foi um sentimento de raiva. Raiva e pena.”
Nos dias seguintes, ele foi assimilando a situação e passou a transmitir equilíbrio e confiança para seus companheiros.
“Com o passar dos dias fui me equilibrando, não falo que tive esperança, não acredito em esperança”, observa, para depois explicar melhor. “A esperança é algo inconsistente, vai e vem, uma hora você tem, depois desanima. Tem a ver com seu estado de ânimo. O que eu tive foi fé, uma fé ligada a algo espiritual.”
Nas duas primeiras semanas, a situação tornou-se crítica, e alguns mineiros chegaram a pensar em alternativas desesperadoras, como o suicídio e o canibalismo, de acordo com relatos. Foi então que Sepúlveda diz que a fé foi o mais importante.
“A fé é vinculada a uma crença em Deus, que ajudou a mim e aos meus companheiros nos mantermos focados em sobreviver e a nos prepararmos para sermos libertados.”
Em 22 de agosto, as equipes de resgate conseguiram acessar o local onde os homens se encontravam, por meio de uma broca. Para surpresa de todos, os mineiros enviaram um bilhete que dizia: “Estamos bem no refúgio, os 33”.
Alimentos, água, cartas e medicamentos foram enviados através de um furo estreito, o que permitiu que os socorristas se comunicassem e observassem as condições em que os homens estavam, confinados em um espaço quente e úmido.
Durante o processo, especialistas em mineração e engenheiros de várias partes do mundo uniram esforços para garantir o resgate. Os mineiros mantiveram uma rotina de trabalho, o que ajudou a preservar sua saúde mental.
Quando finalmente saíram da mina, foram recebidos por uma multidão, incluindo o presidente do Chile, Sebastián Piñera (1949 – 2024), além de jornalistas de todo o mundo, familiares e amigos que aguardavam ansiosamente na base da mina, no deserto de Atacama. Milhões de pessoas assistiram ao resgate ao vivo pela televisão.
Em menos de 24 horas depois do início da operação, todos os 33 mineiros, com idades entre 19 e 63 anos, foram resgatados com segurança. A maioria deles estava em boas condições de saúde, usando óculos escuros para proteger os olhos, após tanto tempo em um ambiente mal iluminado.
Mudanças na vida
Em homenagem aos mineiros, eles foram convidados a conhecer diversos lugares, como Inglaterra, Israel e até Walt Disney World, onde um desfile especial foi realizado em sua honra.
A vida de Sepúlveda sofreu uma transformação depois do resgate. Ele se tornou tema de filme Os 33, em que Antonio Banderas interpretou o seu personagem. O livro História de um invisível, da historiadora Emma Sepúlveda (sem parentesco) também revelou detalhes de sua vida antes e depois do ocorrido.
Sepúlveda conta que o que mais mudou em sua visão de mundo foi a questão do apego a bens materiais. Hoje ele se diz muito menos preocupado com esta questão, que antes o mobilizava.
O maior desafio que Sepúlveda enfrenta atualmente é o autismo severo de seu filho, de 12 anos, que trouxe profundas mudanças à dinâmica familiar. Essa luta pessoal se tornou uma parte central de sua vida. Molda sua visão sobre resiliência e amor.
Além disso, ele dá palestras motivacionais, nas quais inspira os trabalhadores a cultivar a persistência e o espírito de equipe, enfatizando sempre a importância da segurança no trabalho e do uso adequado de equipamentos de proteção.
Tudo isso para compensar as dificuldades financeiras que o colocaram em uma situação dramática. Mesmo desapegado destas questões, o sustento e uma vida de conforto para o filho se tornaram também um desafio.
A demora em receber a indenização determinada pela Justiça (já recebida) trouxe a incerteza financeira pesa sobre seus ombros. Além disso, a sua imagem, retratada pela mídia como conflituosa e de cunho sindical, dificultou sua reintegração ao mercado de trabalho.
“Eu precisei me vigiar, as empresas ficam em dúvida na hora de contratar devido à maneira como sou retratado”, ressaltou. “Mas agora encontrei caminhos satisfatórios, com as palestras. Não valorizo mais tanto os bens materiais, me desapeguei e aprendi a ver o lado bom da vida. Por isso, hoje digo que me sinto feliz.”