Em 5 de outubro de 1743, o governador e colonizador espanhol Manso de Velasco ordenou a fundação do vilarejo de Santa Cruz de Triana, que mais tarde seria conhecida como Rancagua, uma das cidades mais importantes para a história do Chile.
Antes da chegada dos espanhóis, o vale de Rancagua era habitado pelos promaucas, um grupo indígena que vivia em relativa paz sob o domínio do cacique Cachapoal.
Esses povos indígenas estavam fortemente conectados à natureza ao redor, com o Rio Cachapoal sendo uma fonte vital para a vida e para os rituais que eles realizavam.
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Embora as referências históricas sobre os promaucaes e seus líderes sejam esparsas, é certo o papel de Cachapoal como uma figura central na organização indígena durante os primeiros contatos com os espanhóis.
Foi ele quem, junto de outros caciques da região, negociou uma breve trégua com os conquistadores liderados por Pedro de Valdivia, que exploravam o sul do território.
Com o avanço da colonização espanhola, a cidade foi traçada de forma organizada, com suas ruas dispostas em linhas retas, planejamento urbano típico das fundações espanholas na América Latina.
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O objetivo da fundação era agrupar os espanhóis que viviam dispersos em fazendas e ranchos, o que incentivou o desenvolvimento de um núcleo urbano forte e capaz de fomentar o crescimento agrícola e econômico da região.
Manso de Velasco teve de enfrentar resistência de algumas ordens religiosas, como os jesuítas, que possuíam grandes propriedades nas proximidades e relutavam em ceder terras e materiais para a construção da nova vila.
No entanto, o governador conseguiu superar estas dificuldades e garantiu que Rancagua se estabelecesse como um centro regional importante.
Ao longo do século 18, a cidade crescia e se beneficiava das ricas terras agrícolas da região e do trabalho de indígenas e mestiços.
Rancagua na luta pela independência
A cidade entrou para a história do Chile em 1814, quando foi palco de uma das batalhas mais decisivas durante o processo de independência do país: a Batalha de Rancagua.
Esse confronto marcou o fim da chamada Patria Vieja, um dos primeiros períodos de governo independente do Chile, e resultou na vitória das forças realistas espanholas sobre os patriotas chilenos.
A batalha ocorreu nos dias 1º e 2 de outubro de 1814, quando as tropas lideradas pelo general Bernardo O’Higgins enfrentaram as forças realistas comandadas por Mariano Osorio.
Os patriotas, cercados dentro da cidade, lutaram com bravura, mas foram derrotados depois de dois dias de intensos combates.
A derrota em Rancagua teve consequências desastrosas para a causa independentista naquele momento, o que forçou O’Higgins e outros líderes patriotas a fugir para Mendoza, na Argentina, onde reorganizariam suas forças para o que seria a etapa final da luta pela independência.
Apesar da derrota, a Batalha de Rancagua foi um evento fundamental que estimulou o movimento independentista e transformou a cidade em um símbolo de resistência e sacrifício.
Nos anos seguintes, O’Higgins e o Exército dos Andes, liderado por José de San Martín, retornariam ao Chile para libertar o país definitivamente do domínio espanhol.
Desenvolvimento pós-independência
Com o fim das guerras de independência, Rancagua passou a se desenvolver como um centro agrícola. Durante o século XIX, a produção de grãos, especialmente de trigo, se consolidou como a base da economia local.
Além disso, a construção de canais de irrigação permitiu o aumento da produtividade das terras ao redor, o que impulsionou o crescimento da cidade.
Com a expansão das ferrovias no Chile no fim do século 19, Rancagua foi integrada à rede ferroviária, o que facilitou o transporte de produtos agrícolas para outras regiões e para os portos, o que promoveu ainda mais o crescimento econômico da cidade.
O desenvolvimento industrial também começou a tomar forma, com o estabelecimento de pequenas fábricas e indústrias voltadas para o processamento de produtos agrícolas.
No século 20, Rancagua passou por um processo de modernização e diversificação econômica. Um dos principais marcos deste período foi a exploração das minas de cobre em El Teniente, a maior mina de cobre subterrânea do mundo, localizada nas proximidades da cidade.
A mineração trouxe novas oportunidades de emprego e riqueza para a região, o que transformou Rancagua em um dos mais importantes centros industriais e urbanos do centro do Chile.
A cidade continuou a desempenhar um papel importante na história do país, não apenas por sua economia baseada na agricultura e mineração, mas também por sua posição estratégica próxima à capital, Santiago.
Nos tempos modernos, Rancagua se destaca como uma cidade em crescimento, que preserva sua rica herança histórica enquanto se adapta às exigências do mundo contemporâneo.
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