O dono do jornal norte-americano Washington Post (WP), Jeff Bezos, teria dado uma orientação ao comando editorial da sua empresa para que acrescente à equipe articulistas com opiniões de perfil mais conservador.
A informação coincide principalmente com o momento em que o veículo de imprensa manifesta neutralidade nas eleições presidenciais. O WP afirmou que não vai endossar nenhuma das duas candidaturas, rompendo com uma tradição de 36 anos.
Desejo de Bezos seria aproximar-se da direita
Segunda pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna avaliada em US$ 211 bilhões, conforme índice da Bloomberg, Bezos estaria mais interessado em conquistar um público com visão mais diversa.
Conforme reportagem do concorrente The New York Times, apoiador declarado da democrata Kamala Harris, o objetivo de Bezos seria de se aproximar de consumidores de direita.
Bezos evita polêmica com imprensa
O bilionário fundador e controlador da Amazon não se manifestou sobre o assunto, tampouco comentou publicamente protestos de funcionários de alto escalão da empresa, como os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein.
Marty Baron, que era editor executivo do jornal quando Bezos comprou o Washington Post há mais de uma década, denunciou a atitude como um ato de “covardia”.
Ao contrário de Bezos, jornalistas queriam apoiar Harris
Os funcionários do Washington Post ficaram chocados com a decisão de Bezos de impedir a publicação de um artigo de endosso a Harris. O rascunho, aliás, estava pronto quando foi interceptado pela direção da companhia.
Os próprios repórteres publicaram, então, um artigo alegando que Bezos tomou a decisão de, a menos de duas semanas da eleição, vetar o endosso.
CEO assume decisão pelo veto
Bezos contratou o ex-chefe do Wall Street Journal, Will Lewis, como seu presidente-executivo, apesar de protestos de profissionais do jornal.
Lewis assumiu a autoria do veto e disse que a decisão foi, na verdade, um retorno à tradição que o jornal tinha, no passado, de não apoiar candidatos.
Ele disse que [a decisão] era “consistente com os valores que o Post sempre defendeu” e refletia a fé do jornal na “capacidade dos nossos leitores de formarem suas próprias opiniões”.
“Reconhecemos que isso será lido de várias maneiras, incluindo como um endosso tácito de um candidato, ou como uma condenação de outro, ou como uma abdicação de responsabilidade. Isso é inevitável”, escreveu.
“Estamos a serviço da ética norte-americana”
“Não vemos dessa forma. O Post sempre defendeu o que esperamos de um líder: caráter e coragem a serviço da ética norte-americana”.
A decisão gerou uma reação negativa entre funcionários e leitores — com dezenas de usuários de mídia social declarando que haviam cancelado suas assinaturas do jornal.
Repórter se diz com o “coração partido”
Uma repórter do WP disse que ficou “de coração partido” quando sua mãe cancelou sua assinatura em razão do veto ao endosso.
Membro da editoria de opiniões, Robert Kagan renunciou como forma de protesto. Ele disse que a explicação de Lewis era “risível”. Afirmou que a decisão de não endossar decorreu de um suposto acordo entre Bezos e o ex-presidente Donald Trump.
A empresa de exploração espacial de Bezos, Blue Origin, tem contratos com o governo federal. O acordo é para construir uma nave espacial para transportar astronautas de e para a superfície da Lua.
“Este é obviamente um esforço de Jeff Bezos. Ele quer ganhar o favor de Donald Trump na expectativa de sua possível vitória”, disse Kagan à CNN na sexta-feira. Acrescentou que Trump ameaçou perseguir Bezos, referindo-se à Amazon.
Los Angeles também registra protestos
O drama que envolve o Washington Post reflete a turbulência em vigor na redação do Los Angeles Times. No jornal, pelo menos três membros da equipe editorial renunciaram em protesto a uma decisão superior. O proprietário do veículo, Patrick Soon-Shiong, mandou bloquear o apoio à candidata Kamala Harris.
A filha de Soon-Shiong disse que a recusa em apoiar a democrata decorreu da insatisfação com as políticas do governo Biden em relação a Israel.
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