Os cidadãos da Venezuela aguardam ansiosamente as eleições presidenciais, marcadas para o dia 28 de julho. Embora muitos não tenham condições de protestar contra a crise, pesquisas mostram que eles estão dispostos a votar por mudanças. O desejo de transformação preocupa o governo, que está aumentando o controle sobre o processo eleitoral e seus resultados.
Esse é o ponto de vista da revista Americas Quarterly. Em maio, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela retirou o convite à União Europeia para enviar observadores. Poucos dias depois, o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, anunciou que seu país não enviaria observadores, lançando dúvidas sobre a imparcialidade do processo.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu uma “ampla presença” de observadores, mas o Tribunal Superior Eleitoral brasileiro não enviará uma missão. A publicação acredita que observadores internacionais independentes podem ajudar a garantir a segurança dos eleitores e a integridade do processo.
“A eleição de 2018, descrita pelos Estados Unidos como “falsa”, ainda está fresca na memória”, expressou a revista. “Tais observadores poderiam monitorar e fornecer relatórios confiáveis sobre o que ocorre no país”.
Recentemente, os líderes do G7, reunidos na Itália, pediram à ditadura de Nicolás Maduro que reconsiderasse suas decisões. “Apelamos à Venezuela para implementar plenamente o Acordo de Barbados e garantir eleições competitivas e inclusivas em 28, com missões de observação eleitoral internacionais robustas e credíveis”, declararam os líderes em seu comunicado final.
Desafios para a oposição e diáspora
A ditadura de Maduro também está dificultando o acesso dos venezuelanos às urnas, tanto no país quanto no exterior. Num cenário pós-eleitoral tenso, os relatórios dos observadores independentes serão essenciais para avaliar a legitimidade das eleições.
No exterior, os serviços consulares venezuelanos têm dificultado o recenseamento eleitoral. No consulado de Montevidéu, por exemplo, apenas 37 dos 22 mil venezuelanos aptos a votar conseguiram se registrar. A plataforma Mi Voto Cuenta documentou cerca de 3.200 reclamações de irregularidades em 46 consulados de 35 países.
Para a Americas Quarterly, diante das restrições, votar na Venezuela torna-se ainda mais crucial. A oposição, no entanto, enfrenta obstáculos para registrar candidatos. A repressão avança contra os críticos do chavismo. Muitos eleitores estão registrados longe de onde vivem e enfrentam dificuldades logísticas, como a escassez de combustível.
A revista acredita que a diáspora venezuelana terá um papel vital nas eleições, e que os cidadãos impossibilistados de votar devem incentivar familiares e amigos no país a superar os obstáculos e participar do pleito. “Seu voto é meu voto” tornou-se um lema entre eles.
Venezuela vive momento decisivo
Apesar dos esforços do regime chavista para manter o controle, ele precisa de legitimidade internacional para se reintegrar à comunidade global. Observação eleitoral independente é crucial para garantir que as eleições sejam minimamente justas.
A publicação avalia que as tentativas do governo de manipular o resultado destacam a necessidade de observação independente antes e durante a votação. Em condições adequadas, onde observadores possam circular livremente e ter acesso a informações, tal monitoramento não legitimaria uma ditadura.
“Estas eleições são cruciais para o futuro da Venezuela”, prosseguiu a Americas Quarterly. “Aqueles no poder não o abandonarão sem garantias. É necessário um esforço coordenado para assegurar uma transição política viável e oferecer uma ‘ponte de ouro’ para alguns membros do regime”.
De acordo com a More Consulting, 74% dos venezuelanos que desejam mudanças nas eleições de 28 defendem que figuras-chave do governo não sejam apresentadas à justiça se houver anistia.
A Americas Quarterly acredita que o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, precisa equilibrar a proteção do direito ao voto com a negociação do cenário pós-eleitoral, identificando aliados dentro do chavismo dispostos a colaborar em troca de benefícios legais.
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