O jornalista Elian Matte entrou com uma ação no Tribunal Superior do Trabalho contra a Record, na qual pede R$ 3 milhões. A ação foi protocolada em junho, mas veio à tona nesta terça-feira, 26.
Matte denunciou o ex-diretor da emissora, Márcio Santos, por assédio sexual em novembro do ano passado. Quatro meses depois, foi demitido. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Além da indenização, Elian e seus advogados pedem também que ele seja recontratado pela Record, já que consideram que a demissão foi uma retaliação pelas denúncias feitas. Tanto a Record quanto Márcio Santos não comentaram o caso.
Segundo Elian Matte, os episódios começaram em 2022, depois de sua transferência para a equipe do programa Câmera Record, de Roberto Cabrini, quando Márcio Santos começou a convidá-lo para reuniões em sua sala. Na terceira reunião, em novembro daquele ano, o diretor de RH teria feito perguntas pessoais ao repórter, que ultrapassavam o limite dos assuntos profissionais.
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A partir de então, as conversas migraram para o WhatsApp, onde, de acordo com Matte, Santos insistia para que eles se encontrassem fora do ambiente de trabalho e enviava mensagens de teor sexual. O repórter anexou screenshots das conversas ao boletim de ocorrência.
Matte também afirma que Márcio Santos o observava por meio do sistema de câmeras do circuito interno da Record, ao qual os diretores têm acesso através de um aplicativo de celular.
Em busca de ajuda, Matte procurou apoio psicológico e foi diagnosticado com síndrome de burnout pela equipe médica da emissora. No entanto, a profissional teria alterado o laudo do atestado pouco tempo depois, sob a alegação de ter receio de ser demitida. A profissional prestou depoimento à polícia sobre o ocorrido.
Além disso, Matte relata que fez diversas tentativas de denúncia à Record. Primeiro, pediu uma reunião com Antonio Guerreiro, vice-presidente de jornalismo, onde contou sofrer assédio sexual, mas sem citar o nome de Santos. Enviou também um e-mail para Luiz Claudio da Silva Costa, presidente da emissora, mas nunca obteve resposta.
Em uma terceira tentativa, Matte mencionou nominalmente o suposto assediador em um e-mail enviado para Silva Costa, com cópia para Marcus Vieira, CEO do Grupo Record. Poucos dias depois, ele foi convocado para uma reunião com Edinomar Galter, diretor jurídico da Record, que lhe orientou a registrar um boletim de ocorrência, esquecer o ocorrido e focar no trabalho.
Márcio Santos, por sua vez, negou as acusações, disse que suas interações com Matte não passaram de brincadeiras e alegou ser vítima de uma mentira. Ele foi desligado do cargo pela Record e proibido de frequentar a Igreja Universal do Reino de Deus, da qual era integrante.
Demissão da Record causou transtornos a Matte
Em um post no Instagram, nesta segunda-feira, 25, o jornalista afirmou que a acusação foi a “pior decisão da vida”. “Denunciar a alta cúpula de uma emissora pelos piores tipos de assédios e ameaças”, afirmou Matte. “Um processo desgastante, desafiador, onde o tempo todo tentam criminalizar a vítima.”
Em seguida, ele destacou a perda de apoio dos colegas. “Quem apoiou desistiu, com medo de perder seus empregos e seus altos salários”, denunciou. “Um ano depois, nada mudou. Os danos não foram reparados, não houve proteção — nem da empresa, nem da justiça do trabalho. Um ano depois, só aprendi uma coisa: a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco.”
Elian Matte encerrou seu desabafo com um conselho: “Troque de emprego, adoeça, tome muito remédio, mas jamais denuncie um crime de assédio em um ambiente corporativo. Nada vai acontecer, nada vai mudar”.
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Em setembro, Márcio Santos aceitou um acordo de transação penal no inquérito policial de assédio sexual movido por Elian Matte. A transação penal é um acordo entre o réu e o Ministério Público, no qual o acusado concorda em cumprir uma pena antecipada, como o pagamento de multa ou a restrição de direitos, e o processo é então arquivado.
Segundo documentos obtidos pelo portal Metrópoles, o Ministério Público propôs que Santos pagasse uma prestação pecuniária, que será destinada ao Fundo Municipal da Criança e do Adolescente. Esse valor é de cinco salários mínimos, equivalente a R$ 7 mil, com prazo de 30 dias para o pagamento.
Ainda em setembro, a família de Matte abriu uma vaquinha virtual para arrecadar recursos para a internação psiquiátrica do jornalista. Depois de ter sua vida virada de cabeça para baixo, Matte tentou o suicídio em diversas ocasiões. Por causa de sua demissão da Record, o jornalista perdeu o plano de saúde, o que levou a família a buscar uma clínica particular para o tratamento.
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