Na entrevista em que comparou o ditador nicaraguense Daniel Ortega à chanceler alemã Angela Merkel, em 2021, o então aspirante ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva se permitiu uma leve crítica, cheia de condicionais, ao amigo esquerdista. É o que afirma o editorial do jornal Gazeta do Povo deste domingo, 8.
“Se o Daniel Ortega prendeu a oposição para não disputar a eleição, como fizeram no Brasil contra mim, ele está totalmente errado”, disse Lula, na ocasião.
O jornal destaca que Lula não foi preso “para não disputar a eleição” — sua estadia nas instalações da Polícia Federal em Curitiba se deveu a uma condenação (posteriormente anulada pelo STF) em duas instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro, baseada em farto conjunto probatório.
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“E não havia ‘se’ no caso nicaraguense: Ortega de fato mandou encarcerar boa parte dos que se atreveram a desafiá-lo nas urnas naquele 2021”, diz o jornal
Nicolás Maduro acaba de fazer o mesmo – mudando apenas o timing para depois do pleito, e não antes dele –, mas agora Lula está bem mais quietinho.
No dia 2 de setembro, o Ministério Público venezuelano, alinhado ao chavismo, pediu a prisão do candidato oposicionista Edmundo González, que, a julgar pelos boletins de urna publicados pela oposição, venceu a eleição de julho com ampla vantagem sobre Maduro.
No entanto, o ditador foi declarado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral, sem que o órgão eleitoral apresentasse uma única ata de seção.
A Gazeta do Povo destaca a ampla lista de crimes que o MP imputava a González: usurpação de funções, falsificação de documentos públicos, instigação à desobediência às leis, conspiração, sabotagem a danos de sistemas e associação criminosa.
No mesmo dia 2, a Justiça venezuelana, igualmente subserviente a Maduro, ordenou a prisão. González não se entregou e seu paradeiro é desconhecido.
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“O momento é de denunciar a permanência ilegítima de Maduro no poder e a repressão violenta que ele promove, mas nem Lula nem Celso Amorim querem nada disso”, afirma o jornal.
A ordem de prisão foi prontamente repudiada por oito nações latino-americanas – Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai emitiram nota conjunta, e o Chile publicou manifestação isolada.
Além disso, o episódio foi provavelmente a gota d’água para que dois pedidos de prisão de Maduro fossem ou estejam em vias de ser enviados ao Tribunal Penal Internacional (TPI) pelo “conjunto da obra” da violenta repressão desencadeada desde a farsa eleitoral. Um deles assinado pelo governo argentino e outro, por 31 ex-presidentes latino-americanos e três ex-primeiros-ministros da Espanha.
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Já o Brasil de Lula, sempre acompanhado da Colômbia de Gustavo Petro, emitiu mais uma de suas notas tíbias no dia 3. Manifestando “profunda preocupação” (como se o caso não exigisse repúdio enfático), Lula e Petro afirmam que a ordem de prisão “dificulta a busca por solução pacífica, com base no diálogo entre as principais forças políticas venezuelanas”.
“A postura brasileira de omissão-cumplicidade tem abalado tanto a imagem do país que o chanceler de facto, Celso Amorim, até teve um breve momento de dignidade em entrevista à agência Reuters, também no dia 3”, afirma a Gazeta do Povo.
Disse que a ordem de prisão contra González foi a “coisa errada a fazer” e que, se o candidato fosse encarcerado, “seria uma prisão política, e não aceitamos presos políticos” – ignorando o fato de que na Venezuela existem presos políticos há muitos anos, sem que isso merecesse críticas de Lula.
No mesmo dia, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, chegou até a dizer que o Brasil poderia conceder asilo político a González, uma oferta que o venezuelano precisaria analisar com extremo cuidado, já que o histórico petista nesse aspecto é lamentável.
“Que o digam os boxeadores cubanos que escaparam das garras da vigilância comunista durante os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, mas foram caçados até serem encontrados e devolvidos a Fidel Castro”, destaca a publicação.
“Mas as falas de Amorim e Costa, pelo jeito, foram apenas um breve surto de sensatez, logo desfeito pelo chefe de ambos”, acrescenta o jornal.
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Lula pega leve ao comentar atitudes de Maduro
Em entrevista a uma rádio de Goiânia, Lula voltou a fazer o jogo de Maduro ao criticar as sanções impostas pelas grandes democracias ocidentais como meio de pressionar o ditador, e prometeu que não romperá relações com a Venezuela mesmo que as atas de votação jamais apareçam.
“Por fim, limitou-se a dizer que ‘o comportamento do Maduro deixa a desejar’, como se estivéssemos apenas diante de alguém que governa mal, toma decisões equivocadas ou diz algumas bobagens, e não diante de um ditador que devasta seu país e persegue ferozmente qualquer um que lhe faça oposição”, diz o texto.
Como bem disse Isabel Díaz Ayuso, presidente da Comunidade (o equivalente a um governador de estado) de Madri, ao defender que a Espanha concedesse asilo a Edmundo González, “já acabou o momento” de insistir na divulgação de boletins de urna – posição que, além de Brasil e Colômbia, também é a do PSOE, a legenda que governa a Espanha atualmente.
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Para a publicação, de fato, nada indica que tais atas aparecerão, pois já foram consideradas dispensáveis pelo Tribunal Supremo de Justiça venezuelano ao confirmar a “vitória” de Maduro. “E, ainda que aparecessem subitamente, mais de um mês depois do pleito, nada garante que não seriam forjadas apenas para camuflar a fraude”, afirma.
A Gazeta do Povo avalia que o momento é de denunciar a permanência ilegítima de Maduro no poder e a repressão violenta que ele promove, e de garantir os meios para que o verdadeiro vencedor seja empossado.
“Mas nem Lula nem Amorim querem nada disso, afundando a reputação brasileira a cada dia com sua covardia movida a camaradagem ideológica”, conclui o texto.
é tudo conversa fiada. O Lula continua amando o Maduro e vice-versa. Agora é só uma tática eleitoral para este ano e para a próxima eleição. Depois, continua tudo igual, incluindo a invasão de Maduro em território brasileiro para conquistar parte da Amazônia.