Uma década depois de sua fundação, o site norte-americano The Intercept enfrenta uma crise que vai além das finanças. Em 2022, perdeu o apoio do fundador e financiador bilionário, Pierre Omidyar. De lá para cá, sofre com problemas administrativos, disputas internas e perda de credibilidade.
Criado em 2014 por Omidyar, fundador do eBay, o projeto tinha como objetivo ser um bastião do jornalismo independente.
“Um lugar para responsabilizar as corporações e os governos mais poderosos do mundo”, diz um de seus slogans. A equipe inicial incluía os jornalistas Glenn Greenwald, Laura Poitras e Jeremy Scahill.
Os problemas administrativos do The Intercept
Disputas internas e má administração foram apontadas por ex-colaboradores como causas da decadência do Intercept. A incapacidade de finalizar tarefas simples, como a aprovação de orçamentos, e as frequentes trocas de gestores minaram a eficiência da redação.
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O desejo de “desenvolver meios para revitalizar a privacidade virtual” expresso por Omidyar se viu comprometido com o caso Reality Winner. Esta última, ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA), foi presa depois de fazer documentos vazarem ao Intercept.
O site, ao verificar a autenticidade dos dados com a NSA, deixou expostas informações cruciais, como a data e o local onde a cópia havia sido impressa. Reality foi condenada, em 2018, a mais de cinco anos de prisão.
“Minha intenção era expor a verdade, mas acabei sendo exposta e penalizada por isso”, afirmou Winner ao site The Record. Especialistas criticaram a falha do Intercept em proteger suas fontes.
“É uma ironia amarga que um site que se vangloria de defender os informantes tenha, na verdade, exposto alguns deles ao perigo”, afirmou a advogada Jesselyn Radack, acostumada a atuar em processos do gênero, em entrevista ao site Politico.
Saída de grandes nomes
A saída de Glenn Greenwald, em 2020, e de Laura Poitras, em 2022, agravou a situação. Glenn Greenwald alegou censura interna, ao tentarem diminuir o tamanho de uma reportagem sua sobre Hunter Biden.
Já Laura Poitras foi demitida depois de criticar a proteção das fontes. “Um campo minado de interesses e agendas pessoais”, descreveu Jeremy Scahill.
Problemas financeiros
No fim de 2022, Omidyar interrompeu o financiamento e alegou ter novas prioridades filantrópicas. O Intercept, então, passou a depender de doações de leitores e outras formas de financiamento externo.
Segundo o site Semafor, a organização perde cerca de US$ 300 mil por mês e pode ficar sem dinheiro até maio de 2025. Em fevereiro, 30% dos colaboradores foram demitidos. A CEO, Annie Chabel, afirmou que essa projeção é o pior cenário possível e que há um plano de aumento de receitas.
As doações dobraram recentemente, principalmente depois da cobertura anti-Israel dos ataques do grupo terrorista Hamas em 7 outubro de 2023. A cobertura atraiu uma parcela da esquerda, mas as doações são pequenas.
Democratas moderados, que tradicionalmente apoiariam o site, têm se afastado em virtude de sua posição radical. O Intercept Brasil, separado da matriz norte-americana em 2022, também enfrenta dificuldades financeiras e lançou uma campanha de arrecadação em maio.
Mas não valem nada. Isso aí foi braço de investigação do PT.