O gigante asiático busca espalhar seu soft power pelo mundo e mostrar-se uma superpotência magnânima, fazendo com que as pessoas esqueçam que o país tentou encobrir a pandemia
Somente um mês atrás, a China parecia estar desmoronando pelo impacto da epidemia do coronavírus. Sua economia estava em queda e a morte de um médico crítico havia lançado uma revolta virtual contra as autoridades do Partido Comunista.
De acordo com a publicação inglesa The Economist, a velocidade de mudança da situação ficou demonstrada na semana passada pelo presidente da Sérvia, Aleksandar Vučić. Com o centro da pandemia passando da Ásia para a Europa, o presidente da nação balcânica fez um apelo que soou como música nos ouvidos das autoridades chinesas.
“Eu necessito que vocês mandem tudo o que tem”, disse Vučić. “Precisamos de tudo, de máscaras, luvas, respiradores, literalmente de tudo, mas especialmente precisamos de conhecimento e de pessoas dispostas a vir aqui para ajudar”, afirmou o presidente sérvio.
É isso que a China esperava — uma oportunidade para sair do papel de país que acelerou a contaminação com encobrimento de informação e demonstrar que é uma superpotência magnânima, que oferece sua liderança em um tempo de pânico que se está espalhando pelo mundo.
Para Yu Jie, que pesquisa sobre a China na Chatham House, um think-tank britânico: “A China está tentando transformar a crise em oportunidade geopolítica. Está lançando uma campanha de soft power e aproveitando-se do vácuo deixado pelos Estados Unidos”.
Potências que não se entendem
Enquanto o o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fica batendo na tecla do “vírus chinês” e enfrenta as críticas internas e o derretimento do mercado doméstico, a China lançou um plano ambicioso de diplomacia da pandemia, ganhando manchetes positivas em todo o globo pelos feitos na Europa e na África. Claro que Pequim ainda tem muito trabalho pela frente.
Muitas pessoas pelo mundo criticam as falhas da China que permitiram que o vírus se espalhasse e se tornasse uma ameaça tão grande. Mas, com sua economia voltando a funcionar e seu mercado financeiro virando um refúgio para o capital internacional, existe uma chance de que a China saia dessa situação maior do que entrou, algo impensável apenas um mês atrás.
Ao longo das últimas crises, como a econômica de 2008 e a epidemia de Ebola em 2014 na África, os Estados Unidos e a China estavam agindo em conjunto. Mas, após anos de disputa comercial, as coisas estão diferentes, segundo Ryan Hass, um ex-funcionário da Casa Branca e do Departamento de Estado que agora trabalha para o think-tank Brookings Institution.
“Os líderes de ambos os países estão preocupados em falar sobre o local onde o vírus surgiu e quem é o culpado por ele se espalhar. Eles deveriam estar colaborando para acabar com esse problema”, afirma Hass.
A China também lança teorias sobre a origem do vírus sem nenhuma evidência. A suposta descoberta de que o coronavírus tenha sido fabricado por militares americanos foi divulgada pela mídia oficial chinesa e por embaixadores do país em todo o mundo.
A imprensa do gigante asiático ainda afirmou que o sistema chinês é mais eficiente que a democracia americana para lidar com esse tipo de crise, ignorando com isso os exemplos da Coreia do Sul e Taiwan, duas nações democráticas que obtiveram mais sucesso que a China ao controlar o coronavírus.
Está claro que as relações entre Estados Unidos e China estão passando pelo pior momento desde o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989. Para Bill Bishop, um especialista no país asiático baseado em Washington, as relações entre os dois países estão se aproximando de um “precipício”.
Mas a China sempre se aproveita!