Ricardo Felício*
Um dos sonhos mais perseguidos pela humanidade foi e continua sendo obter a previsibilidade. É difícil estimar quando isto começou, mas entender como o mundo natural funciona, retratando o seu estado como uma fotografia e, logo após, estimar o próximo estágio, quadro a quadro, como se fosse uma película de filme cinematográfico, além de ser algo prodigioso, podia oferecer incontáveis vantagens.
Em um princípio remoto envolveu entender o movimento aparente das estrelas na abóbada celeste, as fases da Lua e, claramente, as marés, como relataram Píteas (séc. IV a.C), Aristóteles (384-322 a.C.), Seleuco (312-281 a.C.), Eratóstenes (284-192 a.C.) e Posidônio (135-51 a.C.). Ainda antes, outros elementos também indicavam um entendimento de repetição, como as estações sazonais do ano e as cheias do Nilo. Contudo, ficou claro, já nestes tempos remotos, que alguns elementos apresentavam padrões muito bem definidos, mas outros, embora repetitivos, traziam algumas características semelhantes, todavia não exatamente as mesmas quando se repetiam.
Embora de forma arcaica, os antigos entenderam que deveria existir pelo menos dois conjuntos de fenômenos que eram observados na natureza: os que apresentavam um padrão muito mais mecânico, de alta repetição sincronizada e outros que, embora pudessem ser classificados, tinham apenas alta probabilidade de repetição dos padrões descritos para esta mesma classificação. Como exemplos, podemos incluir o movimento das estrelas, do Sol e da Lua como pertencentes ao grupo que se encaixaria no conjunto dos mecânicos, como descreveria Newton.
Mas as estações sazonais do ano, embora repetitivas como um relógio, pois são afinadas com o movimento também mecânico do planeta, apresentam num determinado lugar, singularidades entre verões, outonos, invernos e primaveras, onde os padrões do tempo meteorológico apresentarão uma probabilidade maior ou menor de ocorrerem. Assim sendo, é possível elencar que para o segundo conjunto, outros elementos, conhecidos ou não, estariam a influir na determinação do resultado que se esperava, como descreveria Lorenz, patrono da Meteorologia moderna.
Previsões, prognósticos e cenários
De forma bastante resumida e simples, mas mantendo ao máximo o rigor das definições, o entendimento humano sobre os fenômenos da natureza e a sua previsibilidade se encaixam em três grandes grupos: os que podem ser previsíveis, os que podem ser estimados e os que se suspeita que podem ser simulados. Isto os fazem ser definidos como previsões, prognósticos e cenários, respectivamente.
As previsões tecnicamente devem ser utilizadas para os fenômenos, naturais ou não, que possam ser descritos de maneira fidedigna, onde a margem de erro é zero ou praticamente muito próxima disto. Desta forma, podemos dizer que o fenômeno em questão tem a sua natureza muito bem observada, descrita e teorizada e que a sua realização seja confirmada, dentro das condições iniciais. Isto permite que seja possível até mesmo a sua representação de forma matemática por uma equação ou conjunto de equações que envolvam a variável tempo.
Creio que um exemplo contumaz que possa representar essa ideia seja a velocidade de um objeto. Se esta é descrita como o espaço percorrido dentro de um tempo, ambos bem determinados, é possível, então, sabendo-se da velocidade, estimar onde o objeto estará em outros determinados tempos no futuro. A viagem de automóvel ou de um avião poderia se enquadrar nesta categoria, se as condições iniciais forem preservadas na sua plenitude, ou seja, a previsibilidade de se alcançar determinado lugar ocorrerá precisamente (ou muito próxima disto) se nada de estranho ocorrer ao sistema (congestionamento, falta de combustível, desvio de rota, troca de um pneu etc.). Newton e Leibniz, em especial, debruçaram-se em criar toda uma área da Matemática que envolve o Cálculo Diferencial e Integral, os quais incluem parte deste fantástico pacote.
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Quando um fenômeno, natural ou não, possui outros fatores, determinados ou indeterminados, que possam interferir na sua suposta previsibilidade, entramos então no mundo das probabilidades. É certo que o exemplo anterior que envolve as viagens poderia se encaixar nesta condição, mas em essência, a diferença para o caso dos probabilísticos é que no âmago da sua existência, já estaria implícita a ideia de não se ter o total conhecimento, ou controle, ou ambos sobre o fenômeno em questão.
Como exemplo, poderíamos utilizar o lançamento de dois dados, não viciados. Quais seriam as probabilidades de se obter os valores de dois a 12 em um lançamento, dez, 100 ou 1000? Poderíamos anotar esses valores e classificá-los em conjuntos das ocorrências e depois produzir um lindo gráfico em uma planilha eletrônica qualquer. Se repetirmos a experiência, veremos, de certa forma, que os resultados são muito parecidos, mas não idênticos. Concluímos que há probabilidades de ocorrências semelhantes que nos permitem criar uma expectativa sobre os resultados. Notemos que não há em essência uma previsão, mas um prognóstico, ou seja, uma boa chance de algo ocorrer ou não.
O tempo meteorológico
No caso do tempo meteorológico, a complexidade é enorme, pois as condições que envolvem a atmosfera da Terra também o são. Assim sendo, as observações, descrições e teorizações sobre a atmosfera refletem essa mesma vastidão. Se retratar a atmosfera sobre um determinado lugar já envolve uma gama enorme de parâmetros para se estabelecer simplesmente o seu diagnóstico (o que está acontecendo naquele exato momento), a complexidade de se estabelecer um retrato desta mesma atmosfera no mesmo lugar em um tempo cronológico do futuro é muito grande.
A este novo retrato no futuro denominamos prognóstico, ou seja, a probabilidade de tal situação ocorrer está ligada a um conjunto de fatores que podem se alterar de forma mais ou menos previsível, conforme passam as horas. No caso do tempo meteorológico, por exemplo, não somente o tempo cronológico, mas a área em observação também refletirá no resultado final. Há situações em que eu posso fazer um prognóstico com 100% de acerto para a minha residência nos próximos dez minutos, simplesmente olhando para o céu e dizer que terei tempo ensolarado, sem nenhuma precipitação, mas não posso garantir a mesma certeza para o mesmo lugar para daqui cinco dias, sem acessar outras informações.
Isto indicou que conforme o tempo se alonga, outros retratos se tornam possíveis de acontecerem no horizonte de eventos. Se a categoria tempo complicou as coisas, quando aliada à categoria espaço, a situação piora. Se a área de controle para o prognóstico é maior, mais elementos devem ser levados em conta. O conjunto de incertezas começa a aumentar significativamente e, portanto, as possibilidades de ocorrência de um prognóstico começam a diminuir. Certamente um novo quadro irá surgir na linha do horizonte, mas não foi aquele em que se criou a expectativa. Por isto que os prognósticos são probabilísticos. Eles erram e são limitados. No caso, estamos retratando as condições do tempo meteorológico que se encerram no espaço e tempo.
Quando falamos de clima, devemos entender que a sua suposta classificação envolve as condições geográficas e a sucessão de centenas de quadros meteorológicos habituais sobre os lugares determinados, aumentando significativamente a complexidade de se estabelecer um novo retrato climático (e não meteorológico) no futuro. Assim sendo, chega a ser plausível estabelecer o clima de certos lugares e regiões, sempre entendendo que há uma variabilidade ligada intimamente com o retrato ou diagnóstico estabelecido para estas áreas.
Contudo, o retrato climático do futuro é altamente incerto, pois as variáveis que o envolvem não são totalmente compreendidas ou são impossíveis de serem estabelecidas, em especial, se o tempo for muito distante. Além disto, os processos que os envolvem precisam se transformar em equações matemáticas de forma que a variável tempo cronológico possa interagir entre os sucessivos retratos. Isto nos remete a duas questões extremamente importantes:
1) Será que as nossas observações e descrições permitiram teorizar, de maneira objetiva, a forma como a atmosfera trabalha para se dizer com total propriedade que é possível estabelecer quem e o que determina as suas condições?
2) Será que conhecemos totalmente cada um dos elementos que fazem esse processo e todos os seus estados, momento a momento, lugar por lugar?
Bom, a resposta para essas questões é não. Não sabemos sequer determinar com precisão o clima dos lugares, pois envolvem de antemão a questão da alta mobilidade da própria atmosfera. Edward Lorenz, em 1994, levantou a questão da previsibilidade dos processos atmosféricos como seu tema principal, em “Climate is what you expect”. Ele explica a partir da definição mais básica de clima, pois como este é algo essencialmente dinâmico, seria impossível falar em “mudanças climáticas”, tendo em vista que o conceito de mudança estaria implícito na própria ideia de entender o que é clima.
Da mesma forma, para a previsibilidade do tempo meteorológico, ele recorre constantemente a uma outra explicação básica que acabamos de descrever: como não conseguimos registrar todos os processos atmosféricos com perfeição, ponto a ponto, em resolução total, então é impossível prever os estados subsequentes, uma vez que os erros se amplificam com o passar do tempo cronológico.
Mudanças climáticas
Ficou evidente a complexidade do objeto de estudo que denominamos de clima. Se não conseguimos com exatidão estabelecê-lo em seus determinados lugares, e se sabemos que ele é dinâmico e que se envolve em processos internos e externos, qualquer tentativa de realizar um retrato de seu futuro deve ser encarado como uma projeção de cenários. Um cenário é uma suposição totalmente hipotética que tenta estabelecer um retrato de futuro, baseado no que se imagina conhecer sobre o processo que vai levar a tal resultado. Pela própria definição, já ficou evidente que tratamos com um universo de incertezas bem maiores, as quais o entendimento está no limiar do conhecimento, beirando muito mais às suposições, especulações e abstrações do que aos fatos mais concretos.
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Alia-se a isto o desconhecimento dos processos inerentes envolvidos e suas representações matemáticas, as quais também entram nas listagens de incertezas. Para piorar, muitas destas mesmas representações podem estar baseadas em hipóteses não verificáveis no mundo real, como por exemplo no caso climático, tratar a atmosfera como uma estufa (a casa de vidro) e equacionar que a temperatura do ar está intimamente ligada à presença de dióxido de carbono (CO2). Como o número de incertezas é enorme, um cenário apenas não basta. Por isso, diversos cenários são literalmente desenhados, abarcando o maior número de possibilidades em resultados. O produto disto será uma coleção de retratos infindável que responderão à lógica imposta pela hipótese a qual se fez referência.
Fatalmente, um destes cenários poderá responder a uma realidade do futuro, mas isto não significa que a hipótese empregada na geração dos cenários está correta, exatamente porque embora um cenário possa acertar, todos os outros erraram magistralmente, indicando categoricamente, o desconhecimento do processo que foi tratado pela mesma hipótese geratriz. Para piorar, diversos destes cenários, mesmo com a debilidade da hipótese, serão dirigidos para rodearem um certo resultado esperado. Isto se consegue com fórmulas de truncamento que limitam algumas extrapolações.
Assim, consegue-se dar certa credibilidade aos retratos dos cenários, pois eles se aproximam muito do que o próprio objeto apresenta como padrão conhecido. Notemos que a criação de cenários não passam de meros exercícios de divagação, baseados em modelos de mundo natural ou artificial que não condizem com a realidade, simplesmente porque a plenitude desta realidade não é totalmente tangível. Cenários foram criados para imaginar a escalada da “Guerra Termonuclear Global”, do mercado de ações e, há mais de 40 anos, o clima planetário.
Nenhum destes pode ser categorizado como uma certeza. Qualquer portfólio acionário lhe informará que “rentabilidade do passado não é garantia para rentabilidade do futuro”, pois um conjunto desconhecido de variáveis poderão interferir no resultado do padrão da curva de investimentos que extrapolam simplesmente “o bom caminhar de uma empresa”, como por exemplo, as políticas de um governo, terrorismo, um judiciário ativista ou uma histeria coletiva pandêmica.
Desta forma, as chamadas “mudanças climáticas” não são previsões e sequer podem ser consideradas prognósticos. Tratam-se de cenários muito mal elaborados. Quando o Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) diz que o clima (temperatura, em especial) do planeta será assim ou assado para o ano de 2100, 2500, 3000(!) tudo isto não passa de suposições fantasiosas, cuja hipótese não é verificável e não é validada com os rastros da história do próprio planeta.
O IPCC, através de seus cenários, não faz climatologia, faz meros exercícios computacionais de modelos que não sabem representar o mundo natural. Seus resultados são tão factíveis quanto os que aparecerem em uma bola de cristal. Se isto não bastou para entender que eles não têm validade alguma, imagine usar estes mesmos cenários para decidir o que toda a humanidade deve fazer nos próximos anos para evitar algo que não se pode mudar: a variabilidade do clima.
*Ricardo Felício é mestre em meteorologia e professor-doutor de climatologia
Perfeita análise técnica sobre climatologia do Dr. Felício, as tais “mudanças climáticas” não tem ciência nenhuma, não passam na verdade de interesses financeiros, políticos e de controle social de um grupo maquiavélico sobre uma população ignorante apoiado por uma mídia parcial e complacente.
O clima na Terra sempre muda, o que questiono é: Qual o interferência do homem nessas mudanças e qual a intensidade dessa interferência? Uma coisa eu sei: Governos e socialistas de Hollywood ñ tem poder e nem capacidade pra fazer nada a esse respeito.
Finalmente alguma da área nos explica de verdade o que está acontecendo e nos revela a mentira dos pseudo-cientistas a serviço dos vendedores de créditos de carbono.
A história geológica da Terra nos mostra quem o planeta já foi muito mais quente e muito frio há poucos milhões de anos atrás, quando a atividade humana era mínima ou inexistente.
Que aula sobre o clima. É prazeroso ler artigos desse quilate.
Parabéns pela paciência da explanação do Ricardo (xará)!
É realmente impressionante como os seres humanos que, sem o menor rigor científico, passam a apoiar certas “causas” de uma forma obstinada tal qual uma falsa e mística religião.
Assim nascem os canalhas que delas se aproveitam.
Muito esclarecedor.
Obrigado!
Perfeita explanação. Com base na lógica e interpretação científica. A verdade é que apesar de todas as incertezas presentes no assunto uma parte considerável de pessoas acredita em ” mudanças climáticas ” que substituiu o ” aquecimento global ” prometido e que não aconteceu. Tem muito dinheiro e interesses envolvidos em se divulgar o terrorismo climatico. Essa proposta desperta o medo nas pessoas e portanto o assunto passa a ser tratado como religião sem nenhuma base científica. Hoje isso é claramente uma ideologia da chamada esquerda pois propicia controle das pessoas através de políticas públicas.