Das cerca de 80 eleições que ocorrerão no mundo em 2024, três movimentam o eixo responsável por definir o equilíbrio entre as nações e, consequentemente, a continuidade ou não das guerras.
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O think tank Council on Foreign Relations afirma que os pleitos envolverão mais da metade da população mundial. “O ano de 2024 parece ser a mãe de todos os anos eleitorais.”
Estados Unidos, Rússia e Taiwan formam esse eixo eleitoral básico, mas outras eleições, como na Venezuela e no México, também têm a capacidade de influenciar conflitos regionais e globais.
Neste sentido, o professor João Daniel Lima de Almeida, de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), considera que a disputa entre Joe Biden, do Partido Democrata, e Donald Trump, do Partido Republicano, nos Estados
Unidos, terá um peso decisivo na geopolítica mundial.
Trump, por exemplo, tem criticado os gastos do governo Biden em ajuda à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Ele já afirmou que, se eleito, iria acabar com o conflito entre russos e ucranianos em 24 horas.
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“No caso dos Estados Unidos, o impacto deve ser decisivo para toda a política externa global”, afirma o professor, formado pela Universidade Federal Fluminense. “A única parte da política externa americana que eu tenho certeza de que não vai mudar se o Trump for eleito vai ser a política em relação as Israel, que vai continuar sendo de apoio ao governo israelense.”
Isso significa que a menor beligerância norte-americana em relação à Rússia, com os EUA se distanciando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), poderia diminuir as hostilidades entre russos e norte-americanos no Oriente Médio.
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O que, conforme sugere Almeida, faria o governo do presidente Vladimir Putin, mesmo se mantendo aliado de Irã e Síria, intensificar o seu papel de mediador em relação a Israel.
E aumentando as possibilidades de uma trégua mais duradoura nos conflitos entre israelenses e terroristas do Hamas e do Hezbollah, iniciados com os ataques terroristas a Israel em 7 de outubro.
“A crise representa uma oportunidade para a Rússia reentrar na política global, apresentando-se como um defensor improvável de soluções multilaterais no Oriente Médio”, afirma o jornal The Guardian. “Posicionou-se como um potencial mediador, tendo mantido laços com Israel e o Hamas.”
Países populosos
O ano deve ser decisivo para as próximas décadas. Questões como a livre iniciativa, democracia, guerras, saúde e desenvolvimento tecnológico movimentarão o interesse de bilhões de cidadãos.
O Centro para o Progresso Americano, um instituto de pesquisa nos Estados Unidos, informa que mais de 2 bilhões de pessoas vão às urnas em eleições gerais ou municipais nos próximos 12 meses.
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Eleições ocorrerão em oito dos dez países mais populosos do mundo: Bangladesh, Brasil, Índia, Indonésia, México, Paquistão, Rússia e Estados Unidos. Haverá também eleições para os representantes do Parlamento Europeu, em junho, que envolverá 27 nações da União Europeia.
Na Rússia, a eleição a ocorrer em março deve ser um referendo em relação à política de Vladimir Putin. E um endosso à guerra na Ucrânia, com a mais do que provável reeleição do presidente russo.
A tendência, com isso, é de Moscou continuar a buscar alternativas para as sanções do Ocidente. A Rússia ocupa a presidência rotativa do Brics (grupo de países de mercado emergente) e sediará a Cúpula do Brics, em Kazan, em outubro, com o objetivo de reforçar ainda mais a cooperação entre os membros do bloco.
Também tem direcionado suas exportações de petróleo para a China e para a Índia e se beneficiado com o aumento do preço do gás no Ocidente. Isso em função da própria guerra, que regula o mercado dando vazão ou não à energia produzida em suas usinas.
A questão de Taiwan
A eleição em Taiwan, no próximo dia 13, também será decisiva para a continuidade ou arrefecimento das tensões entre Estados Unidos e China.
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O primeiro colocado nas pesquisas é o atual vice-presidente Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (PDP). Próximo dos EUA. é considerado pró-independência da ilha, que se separou da China e do comunismo depois da Revolução Chinesa em 1949.
O principal adversário é o prefeito de Taipé, Hou Yu-ih, do Kuomintang, que defende aproximação com a China. Com uma suposta eleição de Hou, o intercâmbio comercial e de trabalhadores com a China seria intensificado, mas, neste caso, a ilha se distanciaria do EUA.
A situação, no entanto, requer cuidados, para que as tensões não culminem em uma intervenção chinesa e uma ampliação dos conflitos internacionais para a Ásia, segundo o professor Almeida.
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“Em Taiwan, a eleição de um governo mais nacionalista e radical pode acelerar os planos chineses de invasão já declarados pelo presidente Xi Jinping ao Joe Biden.”
Os norte-americanos, além da questão ideológica, têm interesses comerciais em Taiwan. O país é líder no desenvolvimento de microchips, dispositivos minúsculos que têm se tornado estratégicos em várias áreas.
Ditadura, democracia e criminalidade
Outras três eleições são consideradas cruciais em relação neste contexto geopolítico: Venezuela, México e África do Sul.
Na África do Sul, em maio, o Congresso Nacional Africano (ANC), partido do presidente Cyril Ramaphosa, está com uma popularidade em baixa. Segundo o jornal Deutsche Welle, questões como segurança, desemprego, abastecimento de água, corrupção já superaram a ânsia da população por democracia.
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“Na África Austral, por exemplo, em Moçambique, no Zimbabue e na África do Sul, o contrato social tem-se baseado na luta contra o colonialismo” afirma Fredson Guilengue, da Fundação Rosa-Luxemburgo em Joanesburgo, ao jornal. “Mas com o passar dos anos, a geração atual está menos ligada ao passado e espera coisas diferentes dos seus líderes.”
As eleições na Venezuela também serão importantes para aumentar ou diminuir as tensões entre EUA e Rússia.
Caso o ditador Nicolás Maduro permita, como acordado com os EUA, a participação da candidata opositora, Maria Corina Machado, a distensão em relação aos EUA será mantida. Isso na hipótese de Biden ser eleito e de Maduro permanecer.
Nos últimos meses, o governo dos Estados Unidos suspendeu temporariamente suas sanções ao petróleo, gás e ouro venezuelanos. Mas, caso Trump seja eleito, as tensões em relação ao governo Maduro, que recebe o apoio da Rússia, aumentarão.
Também as eleições do México movimentarão o interesse mundial pelo fato de haver grandes chances de uma mulher ser eleita presidente, pela primeira vez, no país.
A ex-prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, é favorita e aliada do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, cuja popularidade cresceu em função de melhoria de índices sociais e do crescimento econômico dos últimos meses.
Na oposição, outra mulher é a principal adversária do atual governo. Os principais partidos se uniram em torno da ex-senadora Xochitl Gálvez como candidata.
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O combate à violência e aos índices de criminalidade será, no entanto, uma prioridade.
Em 2021, o país teve mais de 34 mil homicídios, equivalente a aproximadamente 94 pessoas assassinadas por dia e a um aumento de 76% em relação às taxas de homicídio de 2015, segundo o Índice de Paz México 2022, do Instituto de Economia e Paz (IEP) com base em dados do Sistema Nacional de Segurança Pública.
Em relação a 2020, porém, houve uma queda de cerca de 4%. A situação, no entanto, preocupa, conforme diz Almeida.
“Existe uma conjuntura já de violência estrutural de gangues e de grupos criminosos que estão completamente infiltrados no Estado mexicano”, diz o professor. “Algo muito parecido com o que acontece aqui no Rio de Janeiro ou com o que acontece em alguns estados do Brasil por causa do Primeiro Comando da Capital (PCC). No México também é uma coisa estrutural e que os governos não estão conseguindo combater.”
Enquanto no mundo as expectativas são para as eleições 24, por aqui continuamos reivindicando as urnas de 3ª geração para 26 e a reversão das decisões anti constitucionais dos 9 do STF e do lobby dentro do TSE (por exemplo, sobre Deltan Dalagnol e Jair Bolsonaro).