Uma equipe de cientistas encontrou um possível antídoto para um cogumelo mortal, conhecido como tampa da morte (Amanita phalloides), de uma fonte inusitada: um corante fluorescente. O estudo foi publicado na revista Nature Communications, em 16 de maio.
Batizado indocianina verde (ICG, na sigla em inglês), o corante é geralmente usado em imagens médicas para ajudar a avaliar a funcionalidade do coração e do fígado. No entanto, os cientistas descobriram que ele também pode bloquear a alfa-amanitina (AMA), a toxina do cogumelo letal.
Até o momento, os pesquisadores informam que esse antídoto funcionou em células humanas, minimodelos do fígado e em camundongos, mas não foi testado em humanos.
Sobre o cogumelo mortal
O estudo informa que os cogumelos Amanita phalloides possuem a forma de um guarda-chuva, e são responsáveis por 90% de todas as mortes por cogumelos venenosos em humanos. Embora esses cogumelos sejam nativos da Europa, eles podem ser encontrados na América do Norte.
Quando ingeridas, as toxinas do fungo podem causar vômitos, diarreia ou urina com sangue, danos ao fígado e rins, e até a morte. Os tratamentos variam de acordo com o instante em que as toxinas foram ingeridas, mas podem incluir bombeamento do estômago e remoção cirúrgica de partes do cogumelo.
“Até agora, ainda não está claro como exatamente os cogumelos matam pessoas”, disse o coautor do estudo Qiao-Ping Wang, professor e chefe de departamento da Escola de Ciências Farmacêuticas da Universidade Sun Yat-Sen, em entrevista ao portal Live Science. “Mas pensava-se que a toxina mais tóxica, AMA, era responsável por sua citotoxicidade”, ou capacidade de matar células, acrescentou o pesquisador.
Como o antídoto para o cogumelo mortal foi descoberto
Para ver quais genes e proteínas eram responsáveis pela toxicidade, a equipe usou CRISPR, uma tecnologia de edição de genoma, para criar um agregado de células humanas, cada uma com uma mutação diferente. Em seguida, os cientistas testaram quais das células mutantes sobreviveriam à exposição da toxina AMA.
Os especialistas descobriram que a AMA provavelmente requer uma enzima conhecida como STT3B, para exercer seus efeitos tóxicos. “Descobrimos a proteína STT3B e sua via biológica é crítica para a citotoxicidade da toxina”, disse Wang.
O STT3B está envolvido na produção de N-glicanos, essenciais para garantir que as proteínas “dobrem” em suas formas corretas. Retirar o gene da STT3B nas células aumentou a resistência delas células à AMA, e também dificultou a capacidade da toxina de entrar nas células.
Para encontrar um potencial antídoto para a AMA, os pesquisadores consultaram a lista da Food and Drug Administration com cerca de 3,2 mil compostos aprovados, assim, reduziram a 34 possíveis inibidores da proteína STT3B.