Uma equipe de cientistas identificou um caso de sífilis congênita que data do início do Holoceno, período iniciado há mais de 11 mil anos, considerado o mais antigo já descoberto. O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista International Journal of Osteoarchaeology, em novembro do ano passado.
“É o caso mais antigo de sífilis encontrado no Homo sapiens em todo o mundo”, disse o pesquisador Rodrigo Elias Oliveira, do Instituto de Biociências da USP, e principal autor do artigo, conforme o jornal O Globo. “Nós o identificamos em ossos e dentes de uma criança, de aproximadamente 4 anos de idade, que viveu na Lapa do Santo, região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, há, no mínimo, 9,4 mil anos.”
Oliveira explica que “as alterações ósseas e dentárias observadas são típicas da sífilis congênita, uma das manifestações clínicas da sífilis venérea.”
Sobre a população em que o caso de sífilis mais antigo foi detectado
A Lapa do Santo, onde o esqueleto foi encontrado, é um dos sítios arqueológicos mais importantes do Holoceno inferior na América, com registros de presença humana de até 12 mil anos atrás. Mais de 200 esqueletos foram localizados na região.
Os fósseis humanos têm características morfológicas distintas das populações nativas americanas atuais e semelhantes às de Luzia, o fóssil humano mais antigo descoberto na América do Sul, que data entre 12 mil e 13 mil anos.
Segundo Oliveira, os dentes da criança chamaram atenção pela quantidade de cáries acima da média da população da Lapa do Santo. O pesquisador afirma que, além das cáries, identificou alterações morfológicas nos dentes que ainda iriam nascer, mas já estavam presentes nos ossos dos maxilares, além de verificar mudanças importantes no crânio, como a ausência dos ossos nasais e lesões nas faces externas e internas de ossos da calota craniana.
A equipe acredita que a enfermidade foi herdada pela mãe da criança, visto que a Treponema pallidum, bactéria causadora da doença, é capaz de atravessar o saco amniótico e contaminar o feto, o que produz um quadro de alterações morfológicas antes e depois do nascimento.
Parabéns aos pesquisadores da USP pelo achado e pesquisa