Em 26 de março de 2023, completou um mês da turnê realizada pelo “enviado especial da Presidência dos Estados Unidos para o clima”, John Forbes Kerry, político do Partido Democrata dos EUA. O seu percurso incluiu Brasília, no Brasil, de 26 a 28 de fevereiro; seguido pela Cidade do Panamá, no Panamá, de 1º a 3 de março; e terminando em Houston, no Texas, entre 6 a 7 de março.
Na ocasião de sua passagem pelo Brasil, a “nossa” suprema ministra ambiental e climática encontrou-se com esse enviado especial do clima John Kerry (não confundir com o ator e humorista Jim Carrey, embora ambos façam verdadeiras palhaçadas). No enredo da conversa, tivemos de engolir mais uma vez o questionamento da nossa soberania sobre a Amazônia brasileira e que a floresta, a nossa floresta, em especial, é determinante para “salvar o clima da Terra” (não avisei sobre as palhaçadas antes?).
O discurso vem alinhado com o que já vimos antes. Os leitores devem se lembrar de outra afronta que já recebemos do governo de Joe Biden e seus “representantes”. Na ocasião da saída do embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Todd Chapman, que não ficou nem dois anos no cargo, tivemos de ouvir que o país precisava mostrar ao mundo como pretendia zerar o desmatamento ilegal até 2030 e as emissões de carbono até 2050. Isso serviria para que não saíssemos, na época, como vilões de mais uma das edições das fracassadas Conferências do Clima — os carnavais fora de época que ocorrem nos finais de ano, em que se reúnem os milionários, os donos do mundo e os representantes políticos dos países que tentam, de alguma forma mágica, ver quanto vão lucrar com o quê, causando todas as mazelas possíveis no resto da humanidade, usando sofismas e mentiras (um resumo bem apropriado do que são essas reuniões inúteis).
O fantástico circo climático
Todd Chapman só teve razão quando falou em zerar o desmatamento ilegal, mas erra copiosamente, como todos os outros, em atrelá-lo ao gás carbônico e aos efeitos das florestas para o “clima do mundo”. Assim, acabou errando em praticamente tudo! Chamo sempre a atenção para esse fato. Desmatamento deve estar qualificado! Ilegal é diferente de legal. Desmatamento ilegal deve ser combatido, especialmente os praticados pelos mesmos estrangeiros que apontam seus dedinhos para o nosso país. Ao que parece, a imprensa, os nossos políticos e o pessoal de fora do Brasil, como o assessor especial dos EUA para o Clima, fazem de propósito em não qualificar o desmatamento em seus dois tipos, colocando os proprietários de terras legalmente estabelecidos na mesma vala comum.
A legislação permite o desmatamento de parte de sua propriedade com a finalidade de realizar atividades agropecuárias ou outras necessárias. As taxas de abertura variam, mas as mais drásticas, que envolvem a área da floresta, permitem apenas 20% de uso da terra. Tenho as minhas próprias impressões sobre isto, porque já vejo a ação nefasta do comunismo/ambientalismo agindo através do legislador brasileiro do passado recente do nosso país, formulando leis abusivas que não têm seus paralelos no resto do mundo. Os proprietários de terras precisam arcar com 100% das despesas e dos impostos sobre a propriedade, mas só podem usufruir de 20% desta. Para fazer uma comparação, imagine você, que adquiriu um apartamento, paga IPTU, condomínio etc., mas só pode usar o banheiro! Pois é assim no Brasil.
Voltando ao assessor do clima que nunca leu um termômetro meteorológico na vida, suas falas são verdadeiras preciosidades, que só poderiam ser enquadradas como cômicas se as condições geopolíticas fossem outras. Começando por dizer que a Amazônia será um verdadeiro teste para toda a humanidade, além de relatar que ela é um “tesouro extraordinário que pertence a todos nós”, praticamente parafraseando o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore. Talvez seja algum tipo de fetiche de ex-candidatos perdedores ao cargo de presidente dos EUA, pois assim como Gore, John Kerry também perdeu o pleito em 2004 para George W. Bush. Essas pessoas estão sempre querendo expropriar a Amazônia brasileira, na tentativa fútil de querer criar uma necessidade pública mundial para praticar esse verdadeiro assalto. Assim, clamam “a estabilidade climática” como uma urgência necessária, fazendo alegações com base em pseudociência de que a floresta controla o clima do planeta. Que responsabilidade coube a nós, não?!
A verdadeira floresta
Não! A floresta não faz o clima, é resultado do clima. São as condições ambientais e climáticas da região em questão que permitem que aquele tipo de floresta exista lá. Essa é uma informação básica, de ciência consolidada, que já está inclusive em livros didáticos do segundo grau, nos quais são encontradas as definições estabelecidas das classificações dos diversos biomas, climas e vegetação, entre muitos outros aspectos que fazem parte da disciplina de Geografia, no âmbito da física territorial e analítica. Ela também não é única, pois existem outras análogas pela Terra. Mas o fetiche, insisto, é sempre sobre a do Brasil.
Em complemento, temos o envolvimento da área ocupada pela floresta. Isso representa algo próximo de 1% da superfície da Terra, dependendo dos atributos a serem escolhidos, como tipo de vegetação, bioma etc. De novo, como seria possível que supostamente algo como 1% da área do planeta fosse responsável por todos os outros 99%? Isto já extrapolou o nível do absurdo, caindo para o nível da insanidade! Ademais, atribuem a evapotranspiração da vegetação como elemento climático planetário. Esse foi um equívoco muito bem planejado por Stephen Henry Schneider (1945-2010). Trata-se de um engenheiro que, a partir do conflito estudantil de 1968, engajou na vereda política, fazendo escola e chegando depois no seu atrelamento à Climatologia, através de modelos de computador que não sabem representar o clima do planeta, como se houvesse um específico.
Em 1977, com Kellogg (que não é o do Sucrilhos®), Schneider inventou um modelo arcaico de computador, em que a vegetação dominava totalmente o resultado climático. Uma vez sem vegetação, tudo secava, pois não havia reposição de água — tendo em vista que a contribuição ficou exclusivamente com a folhagem. A refletância total da superfície sem vegetação (solo nu) também mudaria para valores elevados — isto significava que a maior parte da energia que chegaria do Sol seria refletida para o espaço, mas também esquentaria a superfície e apresentaria um intrincado paradoxo do modelo). Como resultado, teríamos uma espécie de desertificação. É óbvio que o modelo era falacioso, pois, além de ser centrado em si mesmo, atribuía um peso exclusivo para uma componente que não é autônoma, mas dependente (a evapotranspiração). Ela não é fonte primária, mas processo intermediário! Este erro de se colocar a evapotranspiração como componente decisiva se propagou até hoje dentro da ciência climática, sem sequer haver um revisionismo altamente necessário para a questão.
Quem têm olhos que veja, alerta Ricardo Felício
O detalhamento do assunto da evapotranspiração rende um prato cheio para discussões. Mas, para o proposto, fica claro que o tema não passava de mero exercício computacional. Isso serviu de impulsionador para uma ciência climática que objetivava encontrar supostos culpados para a secura que ocorria nos anos de 1970 — no sul do Saara, em especial — e definir políticas públicas. É uma postura digna do perfil de Schneider. Ele mesmo deixou claro, em seu artigo da Science de 10 de fevereiro de 1989, além de seu envolvimento extremamente ativo com o IPCC desde o início, em 1988.
A Floresta Amazônica não é nenhum “santuário climático”, e a temperatura do ar média global, cuja pregação se tornou mantra, não será regida por sua existência como sumidouro de carbono (depósitos naturais que absorvem e capturam o CO2 da atmosfera, reduzindo sua presença no ar). Florestas tropicais maduras praticamente reciclam o seu próprio carbono. Por serem do tipo latifoliada, perdem suas largas folhas durante os períodos reduzidos de chuva, voltando a recuperá-las quando a precipitação retorna mais intensamente. Nem Todd Chapman e muito menos o “enviado especial climático”, John Kerry, querem saber desta verdade — Kerry, em especial, que insiste em uma “proteção” da região amazônica, com a finalidade de “manter a temperatura do mundo”. Patético! O único negócio que querem é jogar a conta do embuste do “aquecimento global” nas costas (e nas contas) dos brasileiros, porque, se CO2 controlasse de fato as temperaturas, coisa que não faz, eles deveriam olhar para o seu próprio país, um dos maiores emissores deste gás, seguidos pela China. Ah, claro! Mexer com quem tem biriba atômica é outra história, não é mesmo?!
Temos um discurso cheio de sofismas, que está calcado em nada! É pueril, até mesmo infantil, mas continua a ser propagado em todos os recantos da Terra. O objetivo é denegrir a imagem do Brasil, de seus negócios internacionais e utilizar o assunto para estabelecer controle — seja pelo viés político, seja pelo econômico. Sem contar, neste momento, outras facetas mais perigosas. É certo que os “interventores” que tomam o governo do país na atualidade só fingem uma defesa da nossa soberania para não incorrerem em acusação direta de traição. Testemunhamos que o tom de seus discursos realizados lá fora é outro! De qualquer forma, “os tesouros” que Kerry fez menção durante a sua passagem pelo Brasil são outros. Quem têm olhos que veja e quem têm ouvidos que ouça, pois a turnê do circo climático internacional continua.
Leia mais: “Humanos vampirizam a água do planeta?”
UAU! Que bela satisfação ler aqui na Oeste o Prof. Ricardo Felício! Parabéns pela ‘aquisição’ rs 😉
Revista Oeste, muito obrigado pela oportunidade dada ao Prof. Ricardo Felício. Um técnico conhecedor do tema climático, além de ser muito corajoso.
O acompanho há alguns anos, o vi em discussões em programa de TV, jornais, revisitas e em especial na Câmara dos Deputados, na comissão do clima, juntamente com o Prof. Molion, outro muito corajoso e hábil no tema.
Grato pela oportunidade! Alex.
Marina Silva sozinha salva a comédia de Hollywood, nem precisa de jim carrey
Otimo artigo, vivemos sob a égide da mentira ambiental,política e comportamental
Vale a leitura de Psicose Ambientalista de Dom Bertand de Orleans e Bragança