A pergunta é bastante pertinente e já a fizemos há 20 anos, não apenas no cômputo geral, mas em recortes geográficos mais específicos, notadamente ao que envolve a região da Flórida, nos Estados Unidos, tendo em vista dos acontecimentos verificados na temporada 2024 de furacões do Atlântico. A resposta é muito mais surpreendente do que parece, porque furacões não são simplesmente fenômenos meteorológicos de máquinas termodinâmicas de alta complexidade que se formam na atmosfera da Terra. Eles também envolvem outros elementos do estrato geográfico que acabam influenciando bastante, particularizando cada evento.
Para o caso específico da Flórida, a configuração geográfica destaca-se com mais propriedade. Sua distribuição de terras se apresenta como uma grande península, com boa parte composta de áreas pantanosas. Essa porção continental avança para o oceano, cercado por águas quentes, de oeste, face ao golfo do México, ao sul, mar do Caribe, e a leste, expõem-se ao Oceano Atlântico, submetendo-se as suas circulações de ventos sazonais.
Em uma condição como esta, é naturalmente aceitável que os moradores do Estado acreditem que furacões de alta intensidade (ou apenas, grandes furacões), classificados como CAT-3 a 5, tenham lhes infringido muitos tormentos. Para sabermos qual é a realidade, necessitamos verificar os dados, pois como bem lembrou o climatologista e professor Dr. Roy W. Spencer, em artigo recentemente publicado em seu site de internet, a percepção humana não é confiável, pois se tratam de escalas de tempo diferenciadas, alternando ciclos de maior e menor atividade.
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Para realizar uma análise fria de forma a se conseguir apenas um diagnóstico, mas não descobrir suas causas, faz-se necessário recorrer aos dados, principalmente quando tratamos de eventos extremos, cujas tendências não passam de mera estatística, dada a sua própria natureza singular, imersa na raridade da ocorrência. Seriam necessários muito mais casos e um período bem longo para que a estatística fizesse sentido quanto ao seu próprio conjunto de dados, não para se efetuar prognósticos de coisa alguma, mas para somente entender o padrão observado referente ao período específico. São poucos que compreendem que, em climatologia dinâmica, eventos passados não significam necessariamente tendências para o futuro. Tudo pode se alterar por qualquer coisa.
Flórida e furacões de 1940
Dr. Spencer tratou desta questão recorrendo aos dados entre 1900 a 2024 (ainda em aberto) das ocorrências dos furacões de alta intensidade na Flórida, enfatizando os últimos anos. Ele lembrou que a percepção humana sobre os fenômenos envolve escalas temporais diferenciadas: “a escala de tempo das flutuações da atividade dos furacões é frequentemente maior do que a experiência humana”. Ele exemplifica que uma pessoa nascida na década de 1950 dificilmente teria alguma lembrança da alta e arrasadora atividade de furacões verificados na Flórida durante a década de 1940, incluindo a ocorrência de cinco furacões de alta intensidade.
Contudo, o período de baixas ocorrências, classificado como “calmaria dos furacões”, observado nas décadas de 1970 e 1980, anos bastante frios, com apenas uma ocorrência de grande furacão em cada década, estariam mais marcados em suas memórias. Assim, quaisquer ocorrências de grandes furacões do presente transmitiriam uma sensação de anormalidade sobre os furacões. Esta falsa percepção é tomada dentro da expectativa de vida geracional que dificilmente se encaixa nos ciclos da climatologia dinâmica, causando conclusões equivocadas sobre a evolução dos sistemas, fato este bastante explorado pela mídia e pelos embusteiros do IPCC, o Painel do Clima da Organização das Nações Unidas.
Spencer ressalta a importância geográfica das áreas de abrangência e sua relação com o cômputo de casos. Uma área pequena como a Flórida apresentará alta variabilidade no número de ocorrências ao longo de mais de cem anos, não possibilitando inferir algo significativo de sua estatística. Certamente, uma área maior como a região leste dos EUA ofereceriam uma métrica melhorada sobre esses padrões, permitindo que outras categorias geográficas como a localização dos adensamentos de ocorrências aflorasse sobre os dados, percepção esta, bastante desligada dos estudos de meteorologia.
Esse foi outro ponto interessante elencado por Spencer, pois uma estatística que envolvesse toda a bacia do Atlântico soaria ainda melhor para esses conjuntos de dados, mas ela é restrita pela falta de registros. O mesmo valeria para uma estatística muito mais significativa que envolvesse toda a região tropical do planeta.
Era dos Satélites
O problema é o curto período de dados destas regiões. A Era dos Satélites que permitiu o cômputo de ocorrências em lugares remotos só foi possível a partir da década de 1970. Isto significa que um número desconhecido de furacões comuns e de grandes furacões ocorreu sem que ninguém pudesse testemunhar. Assim, lembra Dr. Spencer, os dados globais de ciclones tropicais antes da década de 1970 são, na melhor das hipóteses, incompletos.
Se voltarmos ao recorte da Flórida, claramente entenderemos que qualquer valor de tendência que os dados oferecerem estará grandemente influenciado pelo acaso, dado a aleatoriedade que as trajetórias dos furacões apresentam, pois são muito dependentes das condições de circulação dos ventos de grande escala na faixa de altitudes compreendidas entre 5.000 a 6.500 metros, fato este crucial, superando o efeito isolado da contribuição dos valores da Temperatura da Superfície do Mar (TSM).
Spencer elaborou um gráfico onde apresentou a intensidade dos grandes furacões (CAT-3 a 5) que atingiram a Flórida desde 1900, computando o Furacão Helene, do final de setembro de 2024. Na ocasião, O Furacão Milton sinalizava que perderia força e não foi computado pelo professor. Atualizamos a informação com os dados verificados pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), por meio do boletim 14 que relatou que Milton atingiu a costa da Flórida como CAT-3, mesmo que vários registros de ventos, os quais foram considerados para essa avaliação dentro do próprio boletim, tenham sido arquivados com velocidades de CAT-2, ou seja, abaixo de 177 quilômetros por hora (110 milhas por hora ou 95 nós).
Quanto ao fator intensidade, verificamos que a linha de tendências para as ocorrências registradas de grandes furacões foi praticamente linear. Dr. Spencer acabou por demonstrar que não podemos de forma alguma tirar conclusões sobre a intensidade dos grandes furacões que atingiram a Flórida desde o último ano do século 19 (1900) até o Furacão Helene, de 2024, muito menos que exista uma tendência futura de aumentando de intensidade. Se Milton fosse acrescentado ao cálculo de tendência do Dr. Spencer, ele não contribuiria favoravelmente ao pessoal alarmista.
Argumentos para desbancar “aquecimentistas alarmistas”
Este fato por si só seria suficiente para desbancar os aquecimentistas alarmistas da Climate Central, um grupo que se diz avaliador das “mudanças climáticas”. Na ocasião, afirmaram que a temperatura anormalmente elevada da superfície do mar teria permitido a rápida intensificação do furacão. Excetuando o “anormalmente”, a afirmação está correta.
Contudo, o pior vem depois quando relataram que esse aquecimento das águas tornou-se 400 a 800 vezes “mais provável” devido às “mudanças climáticas”, conforme a “resposta” do grupo do “Índice de Alternância Climática” de seu modelo computacional oceânico (Ocean CSI). É a velha forma de se misturar verdades com mentiras para se iludir e enganar as pessoas, prática bastante comum dos que seguem o pai dos embustes.
Pior que a fantasia anterior foi observar o reporte da Organização Meteorológica Mundial dizendo que a “mudança climática” fez com que Milton precipitasse de 20 a 30% mais chuvas e que os ventos do sistema aumentassem sua velocidade em 10%. Concluíram, por meio de suas “modelagens estatísticas”, que foi a “ação das mudanças climáticas” que fez o Furacão Milton chegar ao continente em CAT-3. Sem essa “ação”, o furacão estaria na categoria CAT-2 na ocasião (curiosamente, são os valores dos dados relatados no boletim nº14). Difícil de acreditar como conseguem tirar tais conclusões, onde um fenômeno meteorológico isolado que sequer representa clima foi atingido pela “ação” dessa “mudança climática”, tratando-a literalmente como uma “entidade” ou algo palpável e verificável.
Enquanto digerimos esses pontos, da realidade ao absurdo, elencamos que no próximo bloco traremos mais discussões sobre os dados dos grandes furacões que atingiram a Flórida e se há alguma tendência apresentada para a série de dados encerrada em si. Também explanaremos as relações com a temperatura da água do mar e do subestimado valor do número de ocorrências do princípio do século 20.
Ressaltamos nesta primeira parte que qualquer estatística que ofereçamos sobre as informações que abordem a climatologia dinâmica tornam-se insuficientes para tirarmos quaisquer conclusões. Isto ocorre justamente pela brevidade das séries, além de boa parte da tomada de dados apresentar incompatibilidade temporal entre métodos de observação e suas deficiências. Atrelar então este resultado estatístico ao gás CO2 e às atividades humanas porque cresceram no decorrer dos anos em um padrão de curva ascendente, como os supostos geradores do processo dos furacões, onde seu padrão destoa por ser altamente variável, só nos mostra o quanto a hipótese é totalmente contestável, pois uma coisa não encaixa na outra.