As ruas de Paris, na França, foram tomadas por manifestações violentas no sábado 24, em razão da morte de três pessoas de origem curda. O criminoso invadiu um restaurante e um centro comunitário curdos e abriu fogo contra as vítimas.
Nesta segunda-feira, 26, a polícia francesa prendeu um aposentado, que está sob custódia. Segundo o jornalista brasileiro Ivan Kleber, que acompanha o caso, os curdos não acreditam que o aposentado seja o responsável pelos crimes. “Eles têm plena certeza de que foi um infiltrado turco”, disse.
De acordo com Ivan, a raiz desse problema é histórica: teve início no desmembramento do Império Otomano. “Essa divisão foi considerada um dos piores erros que a Inglaterra e a França cometeram”, salientou Kleber. “Mas o que interessa é que há 30 milhões de curdos sem um país. Então, a Inglaterra e a França se colocaram à disposição para ‘proteger’ essa população. Então, você tem muitos curdos que vivem na França.”
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O jornalista argumenta que os curdos lutam pela criação de um Estado, e a França é berço da sede não oficial desse povo. “Agora, você tem na França uma sede não oficial do PKK, que seria o Partido dos Trabalhadores dos Curdos”, explica Kleber. “O PKK é de um país que nem existe, mas tem um partido. Ele está ligado à esquerda mais marxista-comunista. Nas manifestações que a gente viu, na sexta-feira e no sábado, havia as bandeiras com o símbolo do comunismo — o martelo e a foice vermelhos.”
França 🇫🇷: As imagens abaixo são da cidade de Paris, e mostram o resultado dos confrontos entre a polícia e a comunidade curda. Neste sábado (24) as manifestações continuaram e a polícia trabalha para reestabelecer a ordem em algumas partes da capital francesa. pic.twitter.com/xU6x3pgLnL
— Ivan Kleber (@lordivan22) December 24, 2022
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O que motivou os protestos?
Há mais ou menos 30 dias, tivemos alguns atentados em Istambul, na Turquia, e os turcos acusaram os curdos de organizarem esse atentado. Na sexta-feira 23, em Paris, num bairro onde a comunidade curda é muito grande, um homem começou a atirar nas pessoas. Até o momento, três pessoas faleceram e três estão feridas. Todos curdos. A comunidade curda começou a sair em protesto contra o Estado francês, por não tê-los protegido. Eles estão acusando os turcos, dizendo que, por causa do atentado que aconteceu em Istambul, houve uma revanche.
Esses protestos podem escalar para uma violência maior?
Para mais revoltas e, infelizmente, mais atentados — pelo menos até que a França, a Inglaterra e a Turquia sentem-se para tentar abrir um canal de diálogo. Mas acho muito difícil que eles consigam a criação de um Estado curdo. Isso é quase impossível. A França vai ter de gastar mais dinheiro e aumentar o reforço policial nos bairros de Paris, onde vivem as comunidades curdas. Mas, no longo prazo, isso vai levar a um imbróglio diplomático entre a França, a Inglaterra e a Turquia. Vale destacar que os três países são membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Esses ataques têm a ver com as questões “progressistas”?
Sim. É uma questão de pauta imigratória, cara à esquerda. Então, o que os progressistas na França podem fazer é exigir que o Estado francês acolha os imigrantes e os proteja também.
Como estão as investigações?
Existem duas linhas de investigação: a primeira diz que um cidadão francês, supostamente revoltado por ter muito imigrante na França, cometeu o atentado. Mas os curdos não estão acreditando nisso; acham que um infiltrado turco é o responsável — essa é a segunda linha de investigação.
Se França, Inglaterra e Turquia não conversarem, o que pode acontecer?
Mais revoltas. Os turcos foram ao Consulado da França na Turquia para protestar. Eles dizem que os franceses são coniventes com os curdos. Caso não haja um acordo entre os países, os ataques devem continuar. Isso pode levar à morte de pessoas e a diversos protestos em frente à Embaixada da Turquia na França ou em países que reconhecem ou reivindicam a criação do Curdistão. Essa medida pode desestabilizar ainda mais o cenário geopolítico mundial.