O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que a retirada do opositor Edmundo González Urrutia da Venezuela não envolveu reconhecimento à “vitória” do ditador Nicolás Maduro. Em entrevista ao jornal El País, Albares destacou que o asilo foi concedido por motivos “humanitários e políticos”.
“Não há nenhum tipo de contrapartida, não houve nenhum tipo de negociação política entre governos”, afirmou Albares. “A Espanha não mudou e nem mudará sua posição em relação ao resultado eleitoral de não reconhecê-lo sem as atas [de votação].”
Principal aliado da líder da oposição, María Corina Machado, González Urrutia chegou à Base Aérea de Torrejón no domingo. Ele saiu de Caracas em um avião militar espanhol. Acusado de cinco crimes pelo Ministério Público venezuelano, controlado pelo chavismo, González não aparecia em público desde as eleições de julho.
Segundo o ministro das Relações Exteriores da Holanda, Caspar Veldkamp, ele passou mais de um mês na embaixada holandesa em Caracas e saiu na quinta-feira 5.
A operação de retirada foi planejada por duas semanas, segundo fontes oficiais. As negociações incluíram o ex-presidente espanhol José Luiz Rodríguez Zapatero e autoridades venezuelanas, como o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente, Delcy Rodríguez.
Albares confirmou que González Urrutia esteve na residência oficial espanhola em Caracas antes de viajar para a Espanha. O ministro também disse que Zapatero teve um “papel positivo na libertação” e que a Espanha agiu a pedido de González Urrutia.
“Foi Edmundo González quem pediu ao governo da Espanha que fosse acolhido em nosso país. Não hesitamos em responder a esse pedido”, disse Albares, ressaltando que a operação não foi guiada por “afinidades ideológicas” com Maduro.
Chanceler acredita que crise pode ser resolvida com negociação entre Maduro e oposição
O ministro espanhol afirmou que a única solução para a crise venezuelana seria uma negociação entre governo e oposição, já que o acesso às atas de votação pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) parece improvável.
Albares disse que, sem as atas, é impossível reconhecer Maduro ou González como vencedor, e que uma imposição externa poderia replicar o cenário de Juan Guaidó, reconhecido internacionalmente, mas sem chegar ao poder.
“A única saída continua a ser uma solução pacífica entre os venezuelanos, uma fórmula genuinamente venezuelana”, disse Albares.
Albares comentou também a situação da líder opositora María Corina Machado, que enfrenta pressões institucionais e políticas. Segundo ele, a líder opositora seria bem-vinda na Espanha, mas ela não pediu asilo.
“A Espanha tem suas portas abertas para quem necessitar, mas quero deixar claro que María Corina Machado não solicitou nada”, afirmou o chanceler.
María Corina Machado se pronunciou sobre o exílio de González no domingo, afirmando em comunicado nas redes sociais que a vida dele “corria perigo” e que, diante das “crescentes ameaças, intimações, mandados de prisão”, o exílio era necessário para “preservar sua liberdade, sua integridade e sua vida”.
Embate diplomático entre Brasil e Venezuela
Albares também comentou a situação da Embaixada da Argentina em Caracas, sob custódia do Brasil, depois da expulsão do corpo diplomático argentino por Maduro. Questionado se a perda da proteção da embaixada acelerou a saída de González, o diplomata negou.
“Não. Em todo caso, rechaçamos a situação em torno da embaixada argentina sob gestão do Brasil”, disse.
No sábado, o regime venezuelano revogou a autorização para que o local ficasse sob custódia do Brasil, alegando planejamento de atos terroristas por “fugitivos da Justiça venezuelana” abrigados na embaixada.
Ao jornal O Globo, uma fonte do governo brasileiro em Caracas disse que recebeu “com surpresa” a notícia, e o Itamaraty afirmou que só deixará a custódia quando outro país assumir o local.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu a situação com a secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, substituta do ministro Mauro Vieira, que estava em viagem ao Oriente Médio.
As forças policiais venezuelanas encerraram na tarde de domingo o cerco à Embaixada da Argentina após a saída de González Urrutia do país.
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