Ismail Haniyeh, antes de se tornar líder do grupo terrorista Hamas, era operário da construção civil na cidade de Ashkelon, Israel, conforme informou o jornal Maariv. Era um homem tranquilo, sereno e educado, conta Danny Makhlouf, proprietário da empreiteira para o qual ele trabalhou. Ambos ficaram amigos muito próximos.
Na última quarta-feira, 31, Haniyeh morreu, alvejado em um bombardeio em Teerã. Levou com ele também aquele cidadão comum que, um dia, deixou emergir seu lado cruel, seduzido pelo poder e pela riqueza à custa da morte de inocentes.
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Makhlouf, assim que soube da opção do amigo, relata que arriscou a vida para tentar evitar que Haniyeh seguisse envolvido com o terror.
Em 1978, Haniyeh era um gesseiro de 16 anos, em busca da ascensão profissional e que demonstrava ter esperança em um futuro por meio do trabalho honesto. Era um tempo em que milhares de palestinos podiam se movimentar livremente por Israel, nove anos antes do surgimento do Hamas, a partir das revoltas de parte da população na Cisjordânia.
“Ismail Haniyeh trabalhou comigo em reboco”, contou Makhlouf ao jornal israelense. “Eu o conheci como um trabalhador que só sabia fazer reboco. Eu o ensinei a trabalhar; ele trabalhou comigo por nove anos.”
A convivência fez surgir um vínculo de confiança entre ambos, durante o trabalho.
“Ele era uma ótima pessoa”, revela Makhlouf. “Haniyeh era honesto, inteligente e não era tolo. Era como alguém da família, até compareceu aos casamentos das minhas filhas.”
Uma das filhas, Zehavah, compartilha das mesmas memórias do pai. “Ele era como uma pessoa da família”, lembra ela, sobre o homem que depois se tornou um dos terroristas mais procurados do mundo.
“Trabalhou para meu pai por muitos anos; comia em nossa casa, e nós o visitávamos. Ele comparecia aos nossos casamentos e eventos. Nós os visitávamos também, hospedando-os em nossa casa ou visitando Gaza. Esse era o nosso relacionamento.”
Ela, no entanto, lamentou a opção pelo terrorismo feita por seu ex-amigo.
“Não acho que ele tenha alcançado algo significativo”, afirma a filha Zehavah. “Se ele tivesse feito algo benéfico para seu povo, eu teria dito: ‘Uau, esse trabalhador da construção conseguiu.’ Mas ele os está levou à destruição e à desolação. Então, na minha opinião, ele falhou.”
Viagem até a Faixa de Gaza
Quando soube, tempos depois, que Haniyeh envolvera-se com o terrorismo, Makhlouf viajou para a Faixa de Gaza, para tentar convencê-lo de não seguir por esta trilha sem volta. Mesmo ciente de que corria risco de vida, ele não se importou. Soube onde estava Haniyeh e foi visitá-lo. Mas não foi um encontro tranquilo, como nos tempos em que se reuniam em família.
“Ouvi dizer que ele estava envolvido em terrorismo, então fui para Gaza”, disse ele. “Havia muitos homens mascarados gritando ‘Allahu Akbar’. Um deles tirou seu keffiyeh e disse a eles: ‘Este é meu chefe, voltem, voltem.'”
Haniyeh ficou surpreso em ver o ex-chefe e amigo.
“Ele mandou todos de volta e me perguntou: ‘Por que você veio? Eles teriam matado você se eu não estivesse com você.'”
Makhlouf conta que deu o conselho a Haniyeh: “‘Vim para lhe dizer para parar com esse terrorismo e se acalmar.’ Ele me prometeu: ‘Não vou mais sair pelas ruas para me envolver com o terrorismo’, e foi isso”, acrescentou Makhlouf.
Os dois nunca mais se viram. Haniyeh se tornou chefe do Hamas em 2017, foi morar no Catar, para não ser preso e nem morto pelas Forças de Defesa de Israel. Arquitetou dezenas de atentados, sob o auspício do governo local, morando em palácio, enquanto reclamava por melhores condições de vida de sua população.
Funcionava como um líder à distância, a orquestrar ataques e lançamentos de mísseis, conforme lembra o jornal, inclusive em regiões de Ashkelon que ajudou a construir.