Após uma longa permanência de três anos do estado de La Niña, o Oceano Pacífico sinaliza que mudou a sua condição. A temperatura da superfície do mar (TSM) no setor leste do Pacífico tropical indicou que o fenômeno El Niño está para se estabelecer de forma definitiva.
Algumas áreas mais próximas à região costeira do Chile e do Peru, na América do Sul, apresentaram setores onde os valores de temperatura chegaram a ficar até 4 graus Celsius mais altos em relação aos valores médios habituais climatológicos para a região. O prognóstico será de alta probabilidade de estabilização em El Niño.
Nos últimos três anos, a situação de La Niña imperou no Pacífico. Um período longo desta fase ocorreu somente em três ocasiões anteriores, segundo a série de dados que remonta de forma contínua e sistemática os registros desde 1950. As outras ocorrências do “mergulho triplo” foram registradas no período de 1954-1956 e, dentro da Era dos Satélites, os períodos de 1973-1976 e 1998-2001, com o evento recente também entrando nesta estatística.
Com a situação, a Oceania, em especial a costa leste da Austrália e áreas oceânicas adjacentes, terão uma súbita redução de chuvas intensas que antes dominavam a região pelo favorecimento da situação do La Niña. Com a mudança, os ventos alíseos (que sopram dos trópicos para os oceanos) sobre o Pacífico tropical tendem a diminuir significativamente. Na área leste nos trópicos, chegam até mesmo a parar. Desta forma, a água da superfície e até cerca de 100 metros de profundidade permanecerão mais quentes do que normalmente ficam.
Leia mais:
Um quadro de águas mais aquecidas indicará uma quantidade maior de vapor d’água liberado para o ar. Não se pode esquecer que os oceanos são o principal fator de contorno inferior da atmosfera e trocam uma quantidade de massa e energia descomunais. Essa energia é passada pelo vapor que adentra a atmosfera e acaba formando nuvens de grande envergadura. Algumas destas se transformarão em imensas nuvens e provocarão não somente grande quantidade de chuvas sobre a área leste do Pacífico tropical, como também próximo da costa oeste da América do Sul.
O fenômeno El Niño e o vapor na atmosfera
Também é interessante observar que o próprio vapor presente no ar atmosférico sobre o oceano ajuda a instabilizar toda a coluna de ar da troposfera (a primeira camada da atmosfera de baixo para cima). Isto facilita muito mais os movimentos verticais causados pelos processos convectivos do que os movimentos horizontais, que dependem muito mais dos campos de pressão atmosférica. De fato, toda a região tomada pelo El Niño sobre o mar tende a apresentar pressão atmosférica em superfície mais baixa que a habitual e uma intensa formação de nuvens.
Os efeitos do El Niño, contudo, não se restringirão simplesmente ao Pacífico, pois ele é classificado como um fenômeno de escala global. Uma de suas consequências “secundárias”, digamos assim, é a interferência na temporada de furacões do Oceano Atlântico. Em geral, as estatísticas indicam que durante os períodos de El Niño, os ciclones tropicais do Atlântico têm menos chances de atingir a parte continental dos Estados Unidos, especialmente os de alta intensidade (categorias CAT–3, CAT–4 e CAT–5). A redução pode chegar até 47%.
A situação de possível redução da atividade de furacões no setor oeste do Atlântico tropical ocorre porque as chances de ocorrer cisalhamento dos ventos na coluna vertical de ar, em altitude na troposfera desta região, aumentam significativamente. O cisalhamento é um fenômeno identificado pela variação do sentido de vento. Neste caso, nas faixas de altitude da troposfera, os ventos não seguem o mesmo sentido. Como os furacões são fenômenos que necessitam de uma coesão dos ventos seguindo o mesmo sentido por toda a troposfera para se manterem, não somente intensos, mas essencialmente estruturados, se houver o cisalhamento vertical, essa condição fica muito prejudicada, reduzindo as chances dos ciclones permanecerem até mesmo ativos.
O embate de forças torna-se interessante de ser observado pelo aspecto dos registros climáticos. Se por um lado temos o fechamento de uma enorme célula, subindo do leste do Pacífico tropical, seguindo pela corrente de jato de oeste para leste, no topo da troposfera, e finalmente formando um processo descendente do ar na região do Golfo do México, do outro lado, teremos algum ciclone tropical se aproximando desta mesma área e tentando se desenvolver para um furacão, onde o processo ascendente é prioritário para sua evolução (imagem abaixo). Este é o jogo do El Niño versus Furacões!
Situação da pesca nos oceanos
Vale notar que a estrutura geral dos processos envolvidos mostra como não se pode avaliar a situação geral por apenas poucos parâmetros. Neste caso, mesmo com o Pacífico e o Atlântico tropicais se apresentarem aquecidos, cada um pelo seu motivo, nem sempre os mecanismos se tornam favoráveis para um aumento de ocorrência de outros fenômenos e suas particularidades, como a chegada de furacões na costa dos Estados Unidos, por exemplo.
Também é interessante ressaltar que estabelecida a condição do fenômeno El Niño, outras situações passam a ocorrer, incluindo problemas econômicos e geopolíticos. Uma delas é a gradativa redução da oferta de pescados para além da costa oceânica à oeste da América do Sul, como as anchovas, que ainda preferem águas entre temperadas e pouco frias. Em geral, boa parte dos cardumes de peixes se beneficia das condições que a ressurgência de águas profundas e frias, cheias de nutrientes, desencadeiam os processos biológicos marinhos os quais favorecem o crescer dos cardumes.
A corrente fria de Humboldt, que margeia boa parte do Sul da costa oeste da América do Sul, também perde sua intensidade, não atingindo distâncias mais longas ao sul da linha do Equador na área do leste do Pacífico. Tal região ficará dominada pelas águas quentes da condição de El Niño e acaba gerando alguns problemas com as embarcações pesqueiras de nacionalidades diferentes que disputam o pescado. As áreas de oceano e mares territoriais sempre afloram as questões de domínios, em especial entre Chile e Peru, embora a decisão da Corte Internacional de Haia, favorável ao Peru, tenha sido acatada pelo Chile, desde 2014.
O clima e o alarmismo
Não se pode esquecer do alarmismo tradicional para este período de El Niño, em especial, se ele se tornar muito intenso. Lá virão os ambientalistas falarem que os corais e suas barreiras estão a desaparecer por causa do “aquecimento global”. Podem esperar por esses alardes, pois eles já têm história pretérita, devidamente desmascaradas. As barreiras de corais, consideradas como um organismo vivo complexo, vão e voltam quando as águas apresentam estas amplitudes maiores de temperatura.
Tais oscilações na quantidade de corais já foram bem documentadas nos últimos 40 anos, inclusive derrubando as alegações que alguns tipos haviam desaparecido ou entrado em processo de extinção, porque justamente foram verificadas as suas recuperações de forma expressiva, logo depois.
Leia também: “O circo climático internacional continua”
Quem manda na Greta e até quando a Greta continuará com 15 anos? Quem manda na Greta já sabia que a genética da Greta a mantém “diabinha travessa” até 40 anos de idade. Haja estômago para aguentar a pirralha e seus vaticínios fake. Parabéns por mais um artigo brilhante, professor.
Caro Ricardo,
“Veio para ficar”, talvez, por um período um pouco mais longo que o usual…, pois se as águas do Pacífico (um terço da superfície do planeta) se aquecem, aumenta então a evaporação da água no oceano, que propicia o aumento da formação de nuvens, que logo passam a sombrear mais a superfície, reduzindo então a insolação na superfície e consequentemente reduzindo a temperatura na superfície, e então se reduz a evaporação, formam-se menos nuvens, que por sua vez passarão a permitir maior insolação da superfície e elevação da temperatura, e o ciclo todo – que pode demorar um ou alguns poucos anos – recomeça, uma oscilação que se retroalimenta negativamente e que tende sempre ao equilíbrio, certo, Professor?
Forte abraço!
Escrita bem confusa. Recorde-se ao autor que ele não escreveu para si
A Greta Thunberg já marcou nova data para o mundo acabar? As redes sociais que se cuidem.