Israel realizou um ataque em grande escala contra posições das Forças Armadas da Síria na madrugada desta terça-feira, 10. O objetivo era eliminar arsenais que poderiam ser usados contra o Estado judeu caso caíssem em mãos extremistas depois do colapso da ditadura de Bashar al-Assad.
Diversos relatos na imprensa árabe revelaram que tanques israelenses teriam atravessado a fronteira durante a noite e avançado até Qatana, uma cidade localizada a 25 km de Damasco. No entanto, no início da tarde, as forças israelenses negaram a informação e disseram que estavam operando apenas na zona desmilitarizada próxima à Síria.
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A área de 400 km² que separa a Síria das Colinas de Golã, anexada por Israel em 1967, e mantida sob acordo desde 1974, foi tomada nesta segunda-feira, 9. Israel descreveu a ação como temporária e a justificou como necessária para proteger a população em regiões fronteiriças.
Inicialmente, os ataques miraram centros de produção e supostos arsenais de armas químicas, proibidas por convenções internacionais e usadas por Assad na guerra civil iniciada em 2011. A ação mais recente, contudo, evidencia a intenção de Tel-Aviv de enfraquecer militarmente a Síria pós-ditadura.
O bombardeio ao Porto de Latakia, onde está baseada a pequena Marinha síria, é o exemplo mais claro disso. Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, a frota síria conta com 31 embarcações, incluindo uma fragata e 22 navios-patrulha armados com mísseis.
Além disso, foram atacadas bases militares em todo o território sírio, com foco em estoques de mísseis balísticos e parte da força blindada de Assad. Há relatos de destruição de parte da frota aérea do país.
Síria já foi alvo de outras potências depois de queda de ditador
A Síria, que já enfrentou Israel em três guerras e no conflito civil libanês (1975-1990), também foi alvo de outras potências depois da queda de Assad. Os Estados Unidos, com 800 soldados no território, bombardearam posições do Estado Islâmico no domingo, justificando sua presença no país pelo combate ao grupo terrorista.
Nos últimos anos, os ataques de Israel contra a Síria focaram em romper conexões do Irã, que usava Assad para sustentar aliados como o Hezbollah e o Hamas, próximos ao Estado judeu.
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Depois da guerra iniciada por terroristas na Faixa de Gaza no ano passado, o confronto se intensificou, o que gerou retaliações do Irã.
Potência regional mais afetada pela queda de Assad, Teerã enfrenta incertezas sobre o futuro de seus 529 pontos militares na Síria, incluindo instalações ligadas ao Hezbollah.
Segundo a ONG Jusoor, com sede na Turquia, boa parte dessas estruturas, majoritariamente postos de controle, já foi abandonada.
O mesmo ocorre com os 114 pontos russos no país. Moscou, que interveio em 2015 para salvar Assad, concentra esforços na preservação de sua Base Aérea em Hmeimim e do Porto de Tartus, essenciais para sua projeção no Mediterrâneo e operações na África.
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Relatórios revelam que uma retirada russa está em andamento. Aviões de transporte foram vistos ao chegar a Hmeimim, e há relatos de que um contingente de caças MiG-31K, equipado com mísseis hipersônicos Kinjal, já deixou o país.
No Porto de Tartus, apesar da dificuldade de monitoramento devido à interferência nos sinais de GPS, há indícios de que parte da frota russa esteja em mar aberto, aguardando desdobramentos ou utilizando portos na Líbia para evacuação.