Em seu último pronunciamento de 2024, o presidente da França, Emmanuel Macron, se vangloriou por seu país ter se tornado pioneiro no mundo ao incluir o aborto na Constituição. Em retrospectiva que exaltou seus próprios feitos em rede nacional, ele admitiu, contudo, que sua decisão de antecipar as eleições parlamentares, em junho, intensificou a instabilidade política.
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O pronunciamento do líder francês ocorreu na noite desta terça-feira, 31, véspera de Ano Novo.
“Nós fomos a primeira nação a modificar a Constituição para garantir o direito das mulheres de interromper voluntariamente sua gravidez”, ressaltou o presidente ao listar as “conquistas” que viabilizou. “Nós fizemos avançar a legalidade e a igualdade entre mulheres e homens”.
Macron também destacou as medidas ecológicas que implantou no país, que, segundo ele, contribuíram para baixar as emissões de gás carbônico. Elogiou ainda a maneira como a França sediou os Jogos Olímpicos e Parolímpicos em 2024.
Este é o vídeo completo do discurso de Emmanuel Macron para o povo francês:
Pour 2025, je nous souhaite d’être unis, déterminés et fraternels. pic.twitter.com/LMLVR8pdlK
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) December 31, 2024
Macron faz mea-culpa por eleições na França
Em junho, Macron dissolveu a Assembleia e convocou novas eleições legislativas. Sua justificativa para a medida, à época, foi a “necessidade de esclarecer” o cenário político depois do desempenho insatisfatório de seu partido nas eleições do Parlamento Europeu.
Ontem, o presidente reconheceu que a dissolução da Assembleia Nacional provocou “mais divisões na Assembleia do que soluções para o povo francês”. Essa foi sua declaração mais contundente de mea-culpa desde a realização do pleito.
“A lucidez e a humildade me obrigam a reconhecer que, neste momento, essa decisão produziu mais instabilidade do que paz”, afirmou o presidente. “E eu reconheço isso plenamente”.
Impacto das eleições antecipadas
Macron pretendia formar uma nova maioria robusta no Parlamento, aproveitando a fragmentação da esquerda e o receio de uma ascensão da direita. No entanto, o resultado foi um Parlamento sem maioria clara, dividido em três blocos: esquerda, centro-direita e direita.
Durante seu pronunciamento, Macron sugeriu que os franceses terão que tomar decisões importantes sobre temas cruciais em 2025. Com isso, ele indicou a possibilidade de consultas populares ou referendos para resolver impasses políticos.
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O chefe do Executivo destacou que as escolhas atuais vão impactar a esperança, prosperidade e paz do próximo quarto de século. Além disso, Macron apelou aos europeus para “deixarem para trás a ingenuidade”, especialmente em áreas como comércio e agricultura.
´Pacto prejudicial’
Sem mencionar diretamente o recente acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), o qual chama de “inadmissível”, Macron pediu para a população “dizer não às leis comerciais ditadas por outros”, considerando o pacto prejudicial aos agricultores franceses.
A conclusão do acordo ocorreu em dezembro, depois de 25 anos de negociações, e ainda precisa ser ratificado pelos países da UE. O ano de 2024 foi de tumultos para Macron, especialmente pela dissolução do Legislativo em junho e pela instabilidade política que se seguiu.
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Em dezembro, o país ficou novamente sem primeiro-ministro quando, apenas 90 dias depois da nomeação de Michel Barnier, uma moção de censura, aprovada tanto pela esquerda quanto pela direita na Assembleia Nacional, derrubou o governo.
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