A brasileira Michal Wertman, de 70 anos, mora em Israel há 50. Chegou com o marido, Haroldo, e se instalou em Ashkelon, sul de Israel, onde vive até hoje. Meses depois da chegada dela, teve início a Guerra do Yom Kipur.
Leia mais: Confederação Israelita notifica Meta por fake news de Letícia Sabatella sobre ataque do Hamas”
No último dia 6 de outubro, ela relatava para a neta mais velha, de 11 anos, o que sentiu durante aquele conflito. E na manhã seguinte ocorreram os ataques do Hamas. “Agora, daqui a 50 anos anos, será ela que contará para a neta o que ocorreu naquele dia”, conta a Oeste.
A cidade onde mora Michal sempre foi um alvo para o grupo terrorista, que se acostumou a lançar mísseis em Ashkelon, a apenas 20 km da fronteira com Gaza.
Ela observa que, desde que mora em Israel, se acostumou com sirenes e lançamentos de foguetes. Naquela manhã do dia 7, porém, estranhou.
“Eu estava habituada com isso, há anos eles lançam mísseis”, conta. “Mas, naquele dia, estranhei. Estava na cama e começaram a vir foguetes atrás de foguetes, por horas, não era um ou dois, foi massivo.”
A ordem, quando esses ataques acontecem, é ir para o quarto com estrutura especial, que existe na maioria dos apartamentos em Israel. Ela e o marido foram. E novamente passaram por um susto acima do que estavam acostumados, quando uma bomba caiu a 50 metros do local onde moram.
Leia mais: “Diretor da CIA visita Israel e outros países do Oriente Médio”
“O estrondo foi assustador, mesmo com o reforço, sentimos o prédio tremer todo”, diz. “Quando olhamos pela janela, vimos um carro incendiado, e veio todo aquele cheiro de fumaça, que entrou em nosso apartamento.”
Desde então, ela quase não sai de casa. O faz apenas para algumas situações, como se encontrar com os dois filhos (uma de 40, outro de 36) e os três netos ou ir ao médico.
Nesta segunda-feira, 6, por exemplo, ela foi ao ambulatório para se vacinar contra a gripe, por orientação médica. E percebeu como quase não existe movimento na cidade.
“O centro de saúde é muito movimentado, atrai toda a região”, revela. “Mas hoje não havia quase ninguém. Ashkelon está vazia, muitas lojas estão fechadas, os supermercados fecham mais cedo. Quem vai comprar roupa e sapato a esta altura?”
Diferenças com a Guerra do Yom Kipur
Em Ashkelon, por ser uma região de maior risco, as crianças não estão tendo aulas. Em outras partes de Israel, a maioria das escolas foi reaberta.
“Meus netos começaram hoje a ter aulas em casa, por computador, vai ser assim até pelo menos o fim do ano”, afirma Michal. “A vida aqui não está normal.”
Na comparação com a Guerra do Yom Kipur, Michal conta que, no atual momento, as informações se multiplicam, algo que não ocorria naqueles anos 1970.
“Foi muito diferente, não havia informações como hoje”, lembra a brasileira. “A programação da TV ia só das 18 horas às 22 horas, as notícias do rádio eram censuradas por segurança.”
+ Leia mais notícias de Mundo na Oeste
E se atualmente existem os quartos com reforço de estruturas de aço, naquele tempo a solução era descer para os bunkers. E evitar qualquer sinal de vida vindo das residências.
“Era um tempo em que tínhamos de ficar com as luzes apagadas, sem poder abrir a janela ou fazer algum tipo de barulho”, destaca ela. “Não havia tanto a presença da TV, não havia internet, ninguém sabia de ninguém.”
Hoje, porém, com todo o aparato tecnológico, ela diz que o medo que tem sentido é até maior. Os mísseis, neste momento, diminuíram de intensidade. Mas podem voltar a cair a qualquer momento.
“Temos a defesa de mísseis com o Iron Dome, mas acho que algo ficou mais traiçoeiro e agressivo”, comenta. “Não lutamos contra um país formal, os inimigos são terroristas, não os vemos, estão à espreita e por isso sinto uma insegurança maior.”
Michal ainda carrega o horror vivido em regiões próximas à dela, no ataque do Hamas. Ouviu relatos de conhecidos que sobreviveram, salvos pelas Forças de Defesa de Israel, e viram o grau de brutalidade dos terroristas. Testemunharam assassinatos na frente deles.
“Nem consigo ver as cenas, em Israel é proibido”, revela. “Mas o que estamos vivendo, não desejo para ninguém. E agora vejo Israel sem apoio e me pergunto: por que nós, judeus, que somos apenas 16 milhões no mundo, incomodamos tanto?”
Antes da invasão, o que Michal diz que mais gostava de fazer era sair pela orla de Ashkelon e contemplar as águas do Mediterrâneo e o horizonte. Há quase um mês, não pode fazer isso.
“Agora, com a incursão dos nossos soldados em Gaza, o que temos a fazer é acreditar, rezar e reconstruir, Israel sempre soube se reconstruir”, ressalta Michal. E completa. “Mas torço a cada dia para que isso ocorra o quanto antes, porque estou com saudades de ver o mar.”