Quando achamos que o poço dos absurdos chegou ao seu final, sempre nos enganamos, pois o devaneio da mente humana pode ir mais longe e o poço, mais fundo. É o que observamos na análise retratada, há cerca de dois anos, pelo escritor Michael Shellenberger e o autor e filósofo Peter Boghossian, quando publicaram a sua tabela Religião Woke: uma taxonomia, agora ampliada com as questões psicopatológicas (veja cópia das tabelas no blog do professor Dr. Pedro Erik Carneiro).
Shellenberger e Boghossian foram cirúrgicos em demonstrar como uma gama de comportamentos e movimentos sociais contemporâneos foram transformados em seitas de adoração fervorosa, onde a racionalização do universo foi completamente posta de lado e cuja discordância dos indivíduos em relação ao grupo, pode eleger “hereges”. Os castigos para estes incluem desde ataques brutais até a perda de vidas, pois estas atitudes são plenamente justificadas para os que discordam da doutrina.
Não caberá a este artigo discutir todas as categorias elencadas por Shellenberger e Boghossian, mas tecer comentários ao assunto que sempre lidamos, ou seja, a “mudança climática”. De certo, todas as outras categorias também se enquadram nas mesmas bizarrices, até mesmo com pesos muito mais danosos à sociedade ocidental contemporânea.
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Alerta-se, contudo, que será necessário um pouco de entendimento teológico e conhecimentos bíblicos para entender alguns dos paralelismos, os quais elucidaremos na medida do possível. Observe que faremos nosso texto sempre pela óptica deles, os fiéis, seguindo “religiosamente” (com o trocadilho da palavra) a forma que os autores brilhantemente identificaram cada item da sua primeira tabela (figura 1, abaixo), tecendo alguns comentários, quando pertinentes.
A religião do wokeísmo e a mudança climática
Como toda religião elenca um conceito de religação a uma deidade, tendo em vista que a ligação original foi perdida por meio do pecado, não seria diferente na religião woke, na qual a “mudança climática” é uma das potestades, um reino (aqui categorizada), devidamente representada por Gaia. Como Satanás adora plagiar Deus, o pecado da perda da ligação “homem-gaia” ocorreu pelo uso de “combustíveis fósseis”, industrialização, agricultura moderna e pela evolução do desenvolvimento ocidental com suas benesses (todos frutos proibidos), devidamente copiadas pelo mundo, quando isto foi e ainda é possível. Todo praticante deste usufruto é um pecador e precisa de conversão, pois tudo que fizeram no passado ao “Éden Terrestre” resultou no mundo “caído” de hoje.
A tabela segue indicando quem foram e ainda são os que encarnam o mal que fazem à Gaia, ou seja, as pessoas que tornaram as coisas tão terríveis ao clima. Dentre os diabos culpados temos a Exxon Mobil, sempre lembrada em primeiro lugar pela sua irrisória contribuição à pesquisa científica dos céticos nos Estados Unidos. A British Petroleum e toda a indústria dos combustíveis, além de todas as corporações que estão listadas.
“Como atuam contra o discurso dos fariseus climáticos, (os ‘negadores’) precisam ser banidos, caçados e mortos”
Ricardo Felício
Todavia, os wokes omitem propositalmente que a relação de gastos com pesquisas da turma do “aquecimento” supera em mais de mil vezes o dinheiro gasto pela Exxon, além de terem orçamentos renovados ano a ano com fundos governamentais (dinheiro de impostos do cidadão). Também — convenientemente — se esquecem que muitos fundos climáticos recebem dinheiro de empresas do petróleo, como é o caso da Petrobras no Brasil.
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Os “negadores climáticos” também entram no rol dos diabos, pois trazem à luz as trevas que eles tanto querem impor com seus dogmas. Afinal, os céticos demonstram todos os exageros cometidos pela fraude ambiental e climática. Se quiser, podemos vê-los como uma espécie de profetas que anunciam as boas novas, que não há uma emergência climática e que o mundo segue melhor agora que no passado, trazendo muito mais prosperidade onde há liberdade. Como atuam contra o discurso dos fariseus climáticos, precisam ser banidos, caçados e mortos. Assim como no passado, eles podem ser até destruídos, mas as suas palavras prevalecerão.
Os mitos dos religiosos climáticos
A religião woke também tem seus mitos na categoria da “mudança climática” que envolvem desde a história da criação até afirmações em que “o clima da Terra era seguro no passado”, como se houvesse uma segurança climática destoada do processo civilizacional. Os principais mitos visíveis envolvem muito mais o maior monitoramento do planeta, aumento da população e riqueza do que a realidade de seu contexto. Assim, “as ‘mudanças climáticas’ estão a tornar as catástrofes naturais mais mortíferas e mais caras”. Além de não ser real no cômputo dos óbitos, isso faz uma relação financeira que envolve crescimento da ocupação territorial com construções e a especulação financeira imobiliária, mas não os danos em si.
Os mitos continuam com “as ‘alterações climáticas’ sendo a principal causa dos incêndios florestais de elevada intensidade”, quando este fator, sendo apenas natural, é altamente variável conforme os períodos de estiagem, tirando os criminais que cresceram vertiginosamente nos últimos anos e que…
- “raramente discutimos a mudança climática”, quando isto não sai dos noticiários;
- “podemos energizar o mundo inteiro somente com energias renováveis”, um absurdo facilmente estimado como falso quando se mede tudo o que é necessário em potência elétrica mundial e o que se gera com renováveis; e
- o final, que “a civilização humana é insustentável”, logo, a religião woke apoia que precisamos reduzi-la e isto faz os cruzamentos com as outras categorias, quando necessário, como expandir homossexualidade, destruição da família, liberação de aborto, incentivo ao suicídio, eutanásia, entre outras abominações.
Além dos vilões e dos mitos, temos as vítimas sacralizadas que incluem os fazendeiros de subsistência e as nações insulares, como os moradores das Maldivas e Tuvalu. É claro que nestes últimos, “esquecemos” que situações de La Niña provocam um aumento do nível médio dos mares nesta região e que não se deve fazer moradias praticamente dentro do mar. De qualquer forma isto não importa, pois a religião do aquecimento diz que a ação humana no clima acentua o processo natural, tirando o peso da realidade do mundo e aplicando-o fantasiosamente como responsabilidade humana.
As vítimas dessa doutrina climática
Temos como vítimas todos os jovens, pois arcam com uma “herança maldita” dos pais por terem trabalhado e desenvolvido o processo civilizatório em que hoje esses mesmos jovens desfrutam sob a ação do tal “clima ruim”, ou seja, o absurdo paradoxo desconexo entre “vida ruim com clima bom” ou “vida boa com clima ruim”. Os autores da tabela também não se esqueceram de elencar os moradores de Bangladesh e toda a população do “sul global”, termo que faz alusão à divisão geográfica entre ricos e pobres no globo, promovendo a “justiça climática”, outro falso paradigma de esquerda que abordaremos em muito em breve.
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Claramente, Shellenberger e Boghossian também identificaram “os eleitos”, os santos salvadores que foram escolhidos para consertar as coisas, na sua jornada épica mitológica, como bem diria o professor Joseph Campbell. Dentre estes, temos os “cientistas climáticos” (só os que fazem parte da seita, é claro), os ativistas, os jornalistas, os membros da Organização das Nações Unidas, a “santa” Rapunzel Greta Thunberg, a “sacerdotisa” Vandana Shiva (ativista ambiental indiana, ecofeminista com sua pseudo-filosofia) e, é claro, o mártir Thomas Malthus e sua hipótese ultrapassada, mas ressuscitada e sintetizada atualmente pelos reformistas, dentro da sua (des)orientação política de esquerda.
Com os mitos, surgem as crenças sobrenaturais que vão além da compreensão científica ou das leis conhecidas da natureza. Tais chavões foram identificados pelos autores da tabela e incluem que a “‘mudança climática’ conseguirá extinguir os seres humanos do planeta”, absurdo nem mesmo defendido pelo extinto James Lovelock (1919-2022), o autor da fracassada hipótese Gaia.
Na listagem ainda temos que “os humanos são a sexta causa de extinção em massa das espécies”, quando sequer sabemos o número total de espécies no planeta, estimado em bem mais de um trilhão, e muito menos o número de indivíduos em cada espécie; que “o estudo dos ‘pontos de inflexão’ é científico”, como se existissem funções definidas e lineares para os assuntos de clima; que “prosperidade não depende de alto uso de energia” e que “prosperidade não é necessária para felicidade”, lembrando claramente os discursos proferidos pelos asseclas do Fórum Econômico Mundial, todos pertencentes à elite bilionária globalista. Os autores também não esqueceram que, para os religiosos, a “agricultura orgânica pode alimentar o mundo enquanto protege a natureza”, demonstrando total alienação de como funciona o mundo natural e a produção de alimentos, com seus diversos problemas.
Tabus em discussão
Ainda temos os fatos que são tabus, considerados pecados capitais, portanto, proibidos de serem propagados como, por exemplo, os autores lembraram de mortes causadas por desastres naturais e sua redução significativa em 90% desde 1900. Além deste, eles explanaram o fato de que “as energias renováveis não podem abastecer o mundo com potência energética firme e estável”. Eles também citaram que…
- “as emissões estão diminuindo nos países desenvolvidos e poderão em breve atingir seu pico e começar a diminuir globalmente”, embora isto não importe em nada para o clima, afinal, como já falamos, o CO2 não controla absolutamente nada no clima da Terra;
- o “suprimento de comida está aumentando”, dadas as técnicas agrícolas e de irrigação cada vez mais sofisticadas e a própria fertilização atmosférica por carbono;
- várias das “políticas climáticas prejudicam os pobres e aumentam as emissões” de CO2; e
- “a energia nuclear é segura, limpa e eficaz, com inúmeros efeitos colaterais benéficos” e que as defendidas “energias renováveis são ‘sujas’ para produzir e distribuir energia”, no sentido de também contribuem com emissões e poluentes reais, tanto na produção quanto na própria construção de sua infraestrutura.
Claro que eles não esqueceram do primordial, de que “a prosperidade (sem inflações) segue-se à mudança para combustíveis mais baratos e de maior densidade energética, e não para combustíveis mais caros e de menor densidade energética”. Isso porque barateia-se o processo da cadeia de produção e transporte — o fato mais avassalador contra os alarmistas.
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Certamente, teremos palavras que provocarão raiva entre os “heróis eleitos”, pois questionam seu discurso e a sua santa autoridade climática woke. Dentre elas, os autores elencaram o fato das “usinas nucleares terem o menor impacto ambiental quando comparadas a qualquer outra fonte de energia”, gerando muita eletricidade em pouco espaço confinado, que “as energias renováveis prejudicam o meio ambiente”, bastando ver quantos problemas temos com as torres eólicas relatadas ao redor do mundo, sem contar o elevado número de acidentes fatais entre seus operadores.
Ademais, como os “eleitos” são seguidores de orientações políticas de esquerda, não suportam que o desenvolvimento econômico supere o suposto impacto climático e que a riqueza para todos é boa (não só para eles, os “eleitos” — hipócritas, como diria um Santo Homem, em Mateus; 23:23-39). Enfim, como disseram os autores, a ira deles recai para todos que proferirem a simples sentença: “estamos mais seguros do que nunca”.
Mais análise sobre a seita woke em relação ao clima
Mas se você não quer ser perseguido pela nova religião woke, especialmente representada pela potestade de Gaia e seus sacerdotes terrestres, não se preocupe. Eles providenciaram a “salvação”, obtida pelos seus rituais de purificação, onde Shellenberger e Boghossian os classificaram como “atos para tornar as pessoas inocentes de culpa e responsabilidade”. Afinal, atitudes simples como caminhar, andar de bicicleta ou transporte público já mostram sua preocupação climática. Você também deve preparar seu “orçamento climático” por meio de compensações de carbono, gerar créditos por produzir energia renovável, efetuar seus balanços de carbono, reciclar tudo e, sempre que for possível, efetuar reparações climáticas (seja lá o que isto signifique).
Claro que sua ação de purificação pode ser muito mais ativa no ministério woke climático, pois você ainda pode efetuar sua participação em conferências climáticas, mas especialmente fazendo encenações artísticas da extinção generalizada da humanidade, de bichos ou da natureza, por meio de protestos públicos rebeldes. Conquista-se, assim, mais adeptos; digo, fiéis e ganhando galardões no paraíso terreno de Gaia.
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Um manto sacerdotal de urso polar, branco e imaculado utilizado por horas sob Sol escaldante lhe purificarão a alma. Também são válidos os rituais de enfiar a cabeça dentro de buracos na praia por horas, pedindo ao mar que não suba, ou deitarem nas calçadas, às dezenas, fingindo-se de mortos pelo clima. Sempre registre tudo com câmeras, pois mostrar o que se faz indica sinal de busca por santidade climática.
Os autores não se esqueceram de lembrar que em todas as homilias e sermões há a necessidade de se utilizar o discurso purificador, o qual deve conter as palavras certas, de forma que todas as pessoas percebam o quanto os convertidos são virtuosos: renováveis, orgânico, combustíveis climáticos, ser sustentável, sustentabilidade, balanço zero (referindo-se às emissões de CO2), carbono zero e, melhor ainda, carbono negativo, sendo o ápice “pentecostal” em transformar uma atmosfera cada vez mais límpida.
Se você, caro leitor, sentiu-se transtornado com tantas sandices ou a que nível de estupidez a humanidade chegou em pleno século 21, bom para você, pois nada melhor que ser um herege desta contra-cultura religiosa woke, em especial, na abordagem referente ao clima. Vale a frase que cita que a nossa tecnologia pode ter dado saltos gigantescos, mas boa parte das mentes ainda está nas cavernas.
De qualquer forma, para a seita woke da “mudança climática”, a única coisa que seus adeptos propagam é mais miséria, com arrependimento por consumir qualquer coisa que seja. Mas quando for necessário ir às compras, lembrem-se que a salvação habita no consumo de produtos verdes.
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Excelente artigo, faltou falar dos papas do wokerismo e dos ambientalistas um personagem que não é geógrafo, nem biólogo, nem meteorologista, nem geólogo, mas entende de tudo.
Parabéns pelo artigo
Náusea…
Deus me livre desse “paraíso woke”.
excelente!!