Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, muitas empresas ocidentais saíram em protesto e deixaram o país governado por Vladimir Putin. Mas algumas das maiores companhias do mundo — incluindo Nestlé, Heineken e Mondelez — permaneceram no país.
Mais de um ano depois, as empresas que optaram por ficar na Rússia se encontram em um dilema: sair tornou-se mais caro e complexo, enquanto ficar ficou mais arriscado.
Agora, as multinacionais se veem presas entre as sanções ocidentais e a indignação pública, por um lado, e um governo russo cada vez mais hostil, por outro.
O Kremlin torna mais difícil para as empresas ocidentais venderem seus ativos russos — e impõe grandes descontos e impostos punitivos quando o fazem.
Danone e Carlsberg sob intervenção estatal
A fabricante de iogurte francesa Danone e a cervejaria dinamarquesa Carlsberg passam por uma assustadora intervenção estatal de longo alcance.
A experiência de ambas as marcas fornecem um exemplo do que poderia acontecer com outras empresas ocidentais que esperavam sair da Rússia.
A Danone e a Carlsberg estavam para finalizar as vendas das ações a compradores locais quando Vladimir Putin, no início de julho, assinou um pedido para nacionalizar os ativos locais das duas empresas.
A Carlsberg disse que as perspectivas de venda da marca de cerveja “Baltika Breweries” — uma das maiores empresas de bens de consumo da Rússia — agora são altamente incertas.
Mesmo depois do exôdo em massa de grandes corporações, mais de 200 empresas de todo o mundo continuam a fazer negócios normalmente com a Rússia, segundo pesquisadores da Universidade Yale, dos Estados Unidos. Uniliver, Nestlé, Mondelez e Procter & Gamble se enquadram nessa categoria.
Motivos das multinacionais permanecerem na Rússia
Entre os motivos que as multinacionais apresentam para permanecer na Rússia estão a preocupação com o bem-estar dos funcionários e seus familiares, assim como as obrigações com os parceiros, que incluem agricultores.
As empresas também dizem que entregam suprimentos vitais para pessoas comuns. Alguns argumentam que abandonar seus ativos russos aumentaria poder de guerra do Kremlin, que teria acesso fácil a novas receitas.
A venda das ações não é direta e vem com penalidades, pois as empresas são obrigadas a vender os ativos a 50% de desconto em relação ao valor de mercado, além de pagar uma taxa considerável ao Kremlin.
As empresas norte-americanas precisariam de permissão do Tesouro para pagar essa taxa, conforme orientação emitida pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros, em março.
As sanções ocidentais contra quase 2 mil indivíduos e entidades complicam ainda mais o cenário, o que torna difícil encontrar compradores legítimos.
Na opinião de empresas como Unilever e Nestlé, “operar de maneira restrita é a escolha menos ruim” — como fornecer somente produtos básicos e essenciais à população.
Para o professor de Yale, Jeffrey Sonnenfeld, que lidera a equipe que monitora as respostas das empresas estrangeiras à guerra, deixar a Rússia é a única escolha legítima, pois “aumentaria o desconforto para o país e faria com que o povo se perguntasse quem é o culpado pelo seu infortúnio”.