O Museu do Prado, em Madri, na Espanha, começa a exibir nesta terça-feira, 28, o Ecce Homo, de Caravaggio, pintor italiano do século 17. A obra, que surgiu em um leilão três anos atrás, foi inicialmente atribuída a um artista sem importância, com valor inicial de € 1,5 mil (cerca de R$ 8,5 mil).
Em abril de 2021, uma pequena foto num catálogo de leilão chamou atenção dos especialistas em arte renascentista do Museu do Prado. Havia rumores antigos sobre um quadro perdido de Caravaggio, o que aumentou a curiosidade.
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A casa de leilões atribuía a pintura a um discípulo não identificado de José de Ribera, contemporâneo de Caravaggio. Sabia-se que um Ecce Homo havia sido presenteado ao rei Felipe 4º, em 1664, mas a obra estava perdida havia cerca de um século depois de várias trocas de posse.
Antes que a pintura fosse leiloada, o governo espanhol, a pedido do Prado, declarou a obra “inexportável” e de interesse cultural. Seguiu-se um processo de estudo e restauração que durou três anos.
Neste ano, um britânico residente em Madri adquiriu a obra. Por causa da sua proibição de exportar, o preço ficou em € 36 milhões (R$ 200 milhões) — muito abaixo do valor usual de um Caravaggio, que poderia alcançar até € 150 milhões (R$ 840 milhões), segundo especialistas.
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Nesta segunda-feira, 27, o museu recebeu mais de uma centena de jornalistas para apresentar a obra e contar sua história.
“A pintura veio de Nápoles no século 17”, explicou Cristina Terzaghi, professora de arte italiana da Universidade de Roma. “Viajou para a Espanha, provavelmente, no mesmo navio em que também veio Salomé com a Cabeça de São João Batista.”
Salomé com a Cabeça de São João Batista é outra obra-prima de Caravaggio, exibida na Galeria das Coleções Reais, em Madri. “Esta é uma ocasião extraordinária”, afirmou Cristina, uma das especialistas que confirmaram a autenticidade da obra. “Estamos olhando para um fragmento da beleza que o mundo redescobriu.”
“Havia 45 anos que não acontecia no campo acadêmico o aparecimento de uma pintura que pudesse ser claramente atribuída a um pintor como Caravaggio”, comentou David García Cueto, chefe do Departamento de Pintura Italiana do Prado. “E que os críticos concordassem unanimemente em incluí-la no catálogo.”
Ecce Homo foi criada por Caravaggio no século 17
A obra foi criada entre 1606 e 1609, um período turbulento na vida de Caravaggio. Em 1606, ele matou um homem em uma disputa e passou três anos em fuga e em busca por absolvição judicial. Na época, viveu e trabalhou em Roma, Nápoles, Malta, Sicília e novamente em Nápoles.
Ecce Homo retrata Jesus Cristo depois da flagelação, apresentado a Pilatos, então governador da Província da Judeia. Segundo o “Evangelho de João”, Cristo foi mostrado à multidão com uma coroa de espinhos, cetro de junco e manto roxo, itens que zombam de sua afirmação de ser o rei dos judeus. “Eis o homem [Ecce homo]”, anunciou Pilatos.
Conforme o catálogo do museu, “a figura mais próxima do observador, inclinando-se enfaticamente sobre o parapeito da varanda, é Pilatos. Envolvendo tanto a multidão implícita quanto o espectador diretamente, Pilatos fica arrasado com indecisão”.
“Não encontrando provas da acusação contra ele, o romano governador entrega o destino de Jesus à multidão, e ele é condenado à morte por gritos de ‘Crucifica-o'”, informa o catálogo do museu. “Brilhantemente iluminado com o dramático claro-escuro típico do estilo de Caravaggio, Cristo ocupa o centro da composição.”
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“Pontos vívidos de sangue ecoam o rico carmesim do manto zombeteiramente colocado sobre seus ombros pelo soldado atrás, contrastando sua pele pálida”, comunica a publicação.
Em acordo com o novo proprietário, o Museu do Prado vai exibir a obra até outubro. A peça será exposta em uma sala exclusiva e ao lado da sala de outro Caravaggio do museu, Davi com a Cabeça de Golias (1606). A entrada para o museu custa € 15 (R$ 85).