O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em discurso histórico realizado no Congresso dos Estados Unidos (EUA), na quarta-feira 24, defendeu o fortalecimento de uma aliança militar regional para combater o Irã.
Foi o quarto discurso do primeiro-ministro na casa. Netanyahu enfatizou que todos os países em paz com Israel, ou que venham a fazer a paz, devem se unir contra a ameaça iraniana.
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“Vimos um vislumbre dessa aliança em abril”, disse Netanyahu, ao se referir a cinco Exércitos que se uniram para derrubar um ataque iraniano com mísseis e drones contra Israel. Ele sugeriu, conforme registrou o The Jerusalem Post, que essa nova aliança poderia ser uma extensão natural dos Acordos de Abraão, ao chamá-la de Aliança de Abraão.
Em 15 de setembro de 2020, o governo israelense assinou um acordo de paz com o Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, que eram hostis a Israel, mediado pelo então presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. Posteriormente, vieram entendimentos com países como Marrocos e Sudão.
Netanyahu comparou a aliança com os EUA a uma versão do Oriente Médio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA formaram uma aliança de segurança na Europa para conter a ameaça soviética crescente.
Netanyahu propôs que EUA e Israel façam uma aliança similar no Oriente Médio para enfrentar a ameaça iraniana crescente, com a inclusão de outros países. Entre eles está a própria Arábia Saudita, antes inimiga declarada de Israel.
Ele realçou, no Twitter/X, este trecho do discurso em que destaca a união entre os dois governos.
“Nesta nobre missão, como em muitas outras, Israel sempre permanecerá como o aliado indispensável da América”, afirmou Netanyahu. “Nos bons e maus momentos, Israel sempre será seu amigo leal e seu parceiro firme.”
Para tentar manter um ambiente de cordialidade, ele agradeceu ao presidente dos EUA, Joe Biden, pelo papel na defesa de abril, contra o Irã. Mas também expressou gratidão ao ex-presidente Donald Trump por mediar os Acordos de Abraão.
Ele acrescentou que veio agradecer aos norte-americanos pelo apoio e pela solidariedade em momentos de necessidade.
O primeiro-ministro assegurou que, trabalhando juntos, Israel e os EUA podem defender a democracia contra a tirania, principalmente ao enfrentar o “eixo do mal” encabeçado pelo Irã.
Apesar da ausência de dezenas de legisladores democratas que boicotaram o discurso, Netanyahu foi calorosamente recebido na Câmara. A fala de 55 minutos foi interrompida cerca de 80 vezes por aplausos, em sua maioria de pé.
Netanyahu destacou que o Irã considera os EUA seu maior inimigo desde que o governo islâmico radical assumiu o poder em 1979, com ações como a tomada de reféns norte-americanos, assassinato de militares e bombardeio de embaixadas.
Ele também mencionou planos iranianos recentes de assassinar altos funcionários dos EUA, incluindo o ex-presidente Trump.
Netanyahu afirmou que o Irã entende que, para conquistar os EUA, deve primeiro dominar o Oriente Médio. Neste contexto, Israel, como uma democracia pró-americana, é um obstáculo nesse caminho. “Quando lutamos contra o Irã, estamos lutando contra o inimigo mais radical e assassino dos Estados Unidos”, disse Netanyahu.
Sobre a guerra contra o Hamas, o primeiro-ministro afirmou que a vitória de Israel é um golpe significativo ao eixo do terror e mencionou os combates das Forças de Defesa de Israel (FDI) contra proxies iranianos, Hamas em Gaza, Hezbollah no Líbano e os houthis.
Na semana passada, os houthis enviaram um drone armado a Tel-Aviv, causando uma explosão perto de uma filial da Embaixada dos EUA. Uma pessoa morreu nesse ataque.
Em um recado para Biden, Netanyahu apelou aos EUA para acelerar a ajuda militar a Israel para destruir o Hamas, acabar com a guerra em Gaza e evitar um conflito mais amplo no Oriente Médio. No início de maio, os EUA interromperam o envio de bombas a Israel, que se preparava para a incursão na cidade de Rafah, em Gaza.
No discurso, o líder israelense citou as manifestações anti-Israel e pró-palestinas fora do prédio do Congresso e lembrou que 68 dos 263 membros democratas boicotaram o discurso, além de um republicano.
Dentro do Congresso, porém, o apoio a Netanyahu foi nítido. Ele se encontrou com o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson (Republicano), e com o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer (Democrata).
O primeiro-ministro observou que o encontro ocorria em um momento crucial da história e foi aplaudido de pé quando afirmou que, para que as forças da civilização triunfem, EUA e Israel devem estar unidos.
Referência ao ataque de outubro e promessas
Sobre a invasão liderada pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro, que resultou na morte de mais de 1,2 mil pessoas e na tomada de 251 reféns, Netanyahu prometeu não descansar até que todos os reféns sejam libertados.
Ele descreveu a brutalidade do ataque e mencionou os reféns e seus familiares presentes na galeria, incluindo Noa Argamani, resgatada, que estava entre seu pai e a esposa de Netanyahu, Sara.
Ele voltou a buscar proximidade com Biden ao agradecer ao presidente pelo apoio inabalável desde o início da guerra, que inclui visita de outubro, dias depois do ataque.
Netanyahu também reconheceu a bravura dos soldados das FDI, em que se incluem muçulmanos e beduínos, como o sargento-mor Ashraf al Bahiriof, presente no Congresso.
Netanyahu enfatizou que o povo judeu não é mais indefeso diante de seus inimigos e prometeu às famílias enlutadas dos soldados das FDI que o sacrifício de seus entes queridos não será em vão. Seu compromisso, segundo ele, é o de lutar até que o Hamas seja derrotado e todos os reféns estejam em casa.
Sobre os protestos, Netanyahu definiu os manifestantes como “idiotas úteis” do Irã e disse que aqueles que defendem o Hamas deveriam se envergonhar. Ele acusou o Irã de financiar e apoiar os protestos anti-Israel nos EUA para desestabilizar o país.
As acusações do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Israel também foram lembradas no discurso de Netanyahu. Ele voltou a manifestar indignação com o tribunal ao afirmar que as denúncias de genocídio e crimes de guerra são absurdas. Israel, acrescentou Netanyahu, sempre defenderá seu direito de autodefesa e não permitirá que suas “mãos sejam amarradas.”
Por fim, o primeiro-ministro destacou que Israel lutará até destruir as capacidades militares do Hamas e garantir que Gaza jamais represente outra ameaça ao país. O objetivo do governo israelense, completou Netanyahu, é o de que Gaza seja desmilitarizada e que o radicalismo na região seja neutralizado. Ele ainda ressaltou que, em qualquer acordo de paz, Jerusalém permanecerá como a capital eterna e indivisível de Israel.