Em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia, o Prêmio Nobel da Paz deste ano será concedido a uma pessoa e a duas organizações — todos com atuação direta ou indireta no impasse entre os dois países. Anunciados pelo Comitê Norueguês do Nobel nesta sexta-feira, 7, os laureados são:
- Ales Bialiatski, de Belarus;
- A organização internacional russa pelos direitos humanos Memorial;
- A organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis.
Representantes da sociedade civil em seus países, eles foram reconhecidos pela “coexistência pacífica nos países vizinhos Belarus, Rússia e Ucrânia”. “Eles honram a visão de Alfred Nobel sobre paz e convivência, uma visão tão necessária no mundo hoje”, informou o comitê responsável pelo prêmio.
Fundador do Centro para os Direitos Humanos Viasna, há 26 anos, Ales Bialiatski está atualmente preso em Belarus. Ele é um dos principais nomes da oposição ao atual ditador do país, Aleksandr Lukashenko, aliado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e frequentemente acusado de perseguir e prender opositores.
O ativista ficou preso entre 2011 a 2014. Em 2020, depois de manifestações contra o regime, ele foi novamente detido. Após a premiação, a Academia do Nobel pediu a imediata libertação de Bialiatski. As autoridades de Belarus não responderam ao pedido. O porta-voz da oposição em Belarus afirmou que Bialiatski se encontra “em condições desumanas”.
Bialiatski foi também um dos fundadores do movimento democrático que surgiu no país em meados da década de 1980. Em 1996, ele fundou a Viasna, em resposta às polêmicas emendas constitucionais que deram a Lukashenko poderes ditatoriais e que desencadearam manifestações generalizadas.
As organizações russa e ucraniana
A organização de direitos humanos Memorial foi criada em 1987 por ativistas de direitos humanos na antiga União Soviética, cujo objetivo era garantir que as vítimas da opressão ao regime comunista nunca fossem esquecidas. Andrei Sakharov, Nobel da Paz em 1975, e a defensora dos direitos humanos Svetlana Gannushkina são alguns dos fundadores. Depois do fim da União Soviética, a Memorial cresceu e se tornou a maior organização de direitos humanos da Rússia.
Já o Centro para as Liberdades Civis foi fundado em Kiev, em 2007, com o objetivo de promover os direitos humanos e a democracia na Ucrânia. O centro tomou posição para fortalecer a sociedade civil ucraniana e pressionar as autoridades para tornar o país uma democracia de pleno direito. Para transformar a Ucrânia em um Estado governado pelo Estado de Direito, o Centro para as Liberdades Civis tem defendido ativamente que a Ucrânia se afilie ao Tribunal Penal Internacional.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, a entidade se empenhou em identificar e documentar crimes de guerra russos contra a população civil ucraniana. Em colaboração com parceiros internacionais, o centro desempenha um papel pioneiro no sentido de responsabilizar os culpados pelos seus crimes.
O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 10 milhões de coroas suecas (quase R$ 5 milhões) será entregue em Oslo em 10 de dezembro, que é a data do aniversário da morte do sueco Alfred Nobel, que fundou os prêmios em seu testamento, de 1895.