Uma extensa reportagem publicada na edição deste sábado, 6, no jornal americano The Wall Street Journal, revela todos os preparativos e os detalhes da fuga de Carlos Ghosn, o executivo brasileiro nascido em Porto Velho (RO), que cresceu no Líbano, e por mais de 20 anos exerceu foi diretor das montadoras japonesa Nissan e francesa Renault. Acusado de fraudes pela Nissan, ele foi preso em Tóquio em novembro de 2018. Dizendo-se inocente das acusações e temendo um julgamento duro, que poderia resultar em 15 anos de prisão, ele começou a pensar em fugir.
Em meados de 2019, Ghosn, qualificado na reportagem como mais proeminente executivo do setor de automóveis do século 21, procurou quem o ajudasse na arriscada fuga, que aconteceu no último dia daquele ano: ele estava escondido dentro de uma caixa de guitarra e foi embarcado num voo charter de Osaka para Istambul. De lá, partiu para Beirute, que não tem acordo de extradição com o Japão. Um amigo do executivo ligou, então, para Michael Taylor, que aceitou planejar a fuga.
Baseando-se no inquérito policial, a reportagem relata que além de Taylor, outras duas pessoas foram fundamentais na fuga do brasileiro: o próprio filho de Taylor, Peter, e George Zayek. Os dois mais velhos, que se passaram por músicos – violinistas – foram os responsáveis por “despachar” Ghosn no voo fretado. Peter ajudou nos preparativos iniciais. Ghosn, que estava com 65 anos, e em prisão domiciliar em Tóquio, mas tinha permissão para viajar pelo Japão, saiu de sua casa para encontrar com o trio em um hotel em Osaka.
A reportagem diz que Taylor e Zayek “formavam o par de violinistas menos provável que se possa imaginar”. Eles chegaram no Japão em 29 de dezembro de 2019 para pôr em prática o plano. O primeiro “parecia o ex-Boina Verde que era” e o Zayek, um miliciano libanês, “era parcialmente surdo do ouvido esquerdo e parcialmente cego de um olho e andava mancando pronunciadamente, resultado de uma lesão na perna décadas atrás”.
Fazia parte do plano que Ghosn encontrasse os dois em um hotel em Tóquio. De lá, partiram em um trem bala para um hotel em Osaka e, só então, para o aeroporto. Segundo a reportagem, “precisamente às 14h30, Ghosn abriu a porta da frente de sua casa de dois andares e saiu. Um momento antes de cruzar a soleira, ele era Carlos Ghosn, reverenciado executivo da indústria automobilística que lutava para limpar seu nome. Assim que o atravessasse para executar seu plano, na melhor das hipóteses ele se tornaria Carlos Ghosn, o fugitivo internacional. Se ele fosse pego, estaria de volta à prisão, talvez pelo resto de sua vida”.
Meia hora depois, Ghosn chegou ao Grand Hyatt em Tóquio. Mantendo a cabeça baixa, ele caminhou pelo saguão até os elevadores dos quartos de hóspedes. Ele desceu no nono andar, e encontrou com jovem Taylor. Michael Taylor e Zayek chegaram mais tarde.
Logo depois, os quatro – Ghosn, Zayek e os Taylors – saíram do hotel com a bagagem de Ghosn. Peter Taylor dirigiu-se ao estacionamento do hotel e tomou um táxi para o aeroporto, onde tinha um voo reservado para a China – seu pai queria que seu filho saísse do país antes que algo potencialmente ilegal acontecesse.
Então, os outros três – Ghosn, Zayek e Michael Taylor – saíram pela entrada principal do hotel e chamaram um táxi para a Estação Shinagawa. Ghosn agora usava um par de óculos pretos de aros grossos e uma máscara cirúrgica, uma visão comum em Tóquio durante a temporada de gripe, como um meio conveniente de impedir que as pessoas reconheçam o rosto do suspeito de crime mais notório do Japão. A estação estava cheia de viajantes de férias. Os três homens se dirigiram para a plataforma do trem.
O trem-bala chegou à estação Shin Osaka às 19h20. Então, entraram em outro táxi com destino ao Star Gate Hotel, com Ghosn e Taylor no banco de trás e Zayek na frente, ao lado do motorista. Às 20h15, o trio passou pela entrada do Star Gate Hotel. Ghosn e Zayek foram diretamente para o 46º andar, onde as caixas dos instrumentos musicais estavam guardadas, enquanto Michael Taylor foi para a recepção antes de ir para o seu quarto no 40º andar, pegar uma mala e o estojo da guitarra antes de se dirigir ao encontro dos outros dois.
Enquanto Ghosn e Zayek descansavam, Taylor voltou ao terminal de jatos particulares para garantir que o avião sairia conforme planejado. A maioria das companhias aéreas charter não exige que as malas sejam despachadas, mas ele temia que o aeroporto insistisse em abrir a caixa com Ghosn. Se isso ocorresse, diz a reportagem, “o trio poderia nunca deixar o Japão”.
Taylor deu uma gorjeta aos funcionários do aeroporto de cerca de 10 mil dólares, o que não despertou suspeitas sobre o plano dele. Então, ele voltou ao 46º andar e entrou no quarto por volta das 21h30. O jato particular deveria deixar o terminal de Osaka, com destino a Istambul, em uma hora.
Conforme a reportagem, que analisou transcrições e imagens do inquérito, Ghosn ficou contemplando a caixa que deveria levá-lo a bordo do jato. “Foi o último obstáculo – e de longe o maior. No entanto, era a caixa que ele havia escolhido. Era isso ou uma cela de prisão.”
Respirando fundo pela última vez, Ghosn deitou-se na base da caixa, e Taylor puxou um lençol da cama e o colocou sobre ele. Taylor então colocou sua guitarra em cima de Ghosn e tentou fechar a caixa. Encaixou, mas a guitarra pressionou Ghosn. Ele teria que passar pelo menos uma hora lá, e ele precisava estar confortável. E assim, ele conseguiu chegar no Líbano.
Roubou mesmo! Pagou até gibi para dizer que ele era herói. Canalha! Larápio!
Acredito que você deveria ler um pouco mais sobre o caso, buscar mais informações antes de chamar o Carlos Ghosn de Canalha e Larápio. Há uma longa história de disputa pelo poder na Nissan por trás disso tudo. Você já ouviu falar em Keiretsu?
Keiretsu é um termo japonês que designa as redes fechadas de empresas cuja produção é destinada a uma empresa-líder. As integrantes não podem fornecer a empresas que não façam parte do grupo. Em alguns casos, é permitido fornecer mercadorias a outras empresas, desde que seja dada prioridade ás da rede.
Vai dar um bom filme!!!