Eles passaram os Jogos Olímpicos de 2024 quase despercebidos. Não puderam ostentar no rosto o orgulho de representar um país. Os russos e bielorrussos banidos da Olimpíada de Paris foram as vítimas esportivas das questões políticas.
Por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia, foram obrigados a disputar as competições como atletas neutros, por determinação do Comitê Olímpico Internacional (COI).
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Mas foram poucos os que se dispuseram a se expor, diante de governos autoritários como os de Vladimir Putin (Rússia) e de Aleksander Lukashenko (Belarus). Apenas 17 russos e 16 bielorrussos tiveram tal coragem. Sentiram o gosto injusto e amargo de não serem acolhidos nem por sua própria população. E terminaram com poucas medalhas.
Nenhum russo levou o ouro, como ocorria nos áureos tempos de Alexander Dityatin (ginástica, 1980), Aleksandr Popov (natação, 1992 e 1996), Ivan Litvinovich (ginástica de trampolim masculina), Yelena Gadzhievna Isinbaeva (salto com vara, 2004 e 2008) e Olga Kaniskina (marcha atlética, 2008).
Do grupo, apenas o bielorrusso Ivan Litvinovich foi ouro na ginástica de trampolim masculina. As tenistas russas Mirra Andreeva e Diana Shnaider ficaram com a prata em duplas, assim como Viyaleta Bardzilouskaya (ginástica de trampolim feminina) e Yauheni Zalaty (skiff simples do remo masculino). Foram apenas quatro as medalhas dos “atletas neutros”.
O resultado contrasta com a força da Rússia em Jogos Olímpicos. Depois do fim da União Soviética, foram 423 medalhas na Era Moderna dos Jogos, entre 1996 e 2016, o que coloca o país em 12º lugar na soma geral.
Com a inclusão dos tempos do Império Russo (8), União Soviética (1.204), Equipe Unificada (112), e Russian Olympic Committee (ROC, 71), a soma chega a 1.818, a segunda maior depois da dos Estados Unidos, como 2.629.
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— Revista Oeste (@revistaoeste) August 12, 2024
A experiência da exclusão já esteve presente em Tóquio 2020, quando modalidades como levantamento de peso e atletismo da Rússia foram proibidas de participar pela agência de controle de doping World Anti-Doping Agency (Wada). O COI, no entanto, permitiu a participação, entre todas as modalidades, de atletas que não eram acusados de envolvimento com doping.
Sorriso de medalhista
Em Paris 2024, no entanto, a exclusão teve o caráter de pesada sanção política. Nem mesmo os voluntários dessas duas nacionalidades puderam participar. Os atletas que disputaram os Jogos foram considerados traidores em seus países de origem.
Mirra Andreeva treina em um centro particular de tênis em Cannes, França, desde 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
Treinada pela ex-tenista espanhola Conchita Martinez (campeã de Wimbledon em 1994), ela chegou ao 23ª no ranking da Women’s Tennis Association (WTA). Ela não queria prejudicar sua carreira, depois de tanto esforço para chegar aos Jogos.
“Não me importa”, afirmou Andreeva, de 17 anos, em coletiva, depois de conquistar a medalha de prata, em jogo contra as italianas Sara Errani e Jasmine Paolini, em Roland Garros. “Só saio para a quadra para jogar e lutar em quadra. Foi isso que fizemos juntas nesta semana.”
Diana Shnaider, número 24 do mundo, também deixou a Rússia depois da invasão. Foi morar nos Estados Unidos e treinou na Universidade Estadual da Carolina do Norte.
“Não responderei a nenhuma pergunta sobre política”, declarou na entrevista. “Estou aqui para falar de tênis”, disse ela, com o semblante sério, sem ostentar o sorriso de um medalhista.