A existência de exoplanetas possivelmente habitáveis era algo inimaginável décadas atrás. Hoje, o único “impedimento” para que os humanos façam colônias em outros astros é a distância de anos-luz que nos separa desse objetivo.
Mas, antes de mais nada, é necessário entender o que são exoplanetas. Eles são planetas localizados fora do Sistema Solar, pois estão na órbita de outras estrelas. De acordo com um artigo do Núcleo de Astronomia da Universidade Federal de Minas Gerais, o melhor modo para detectá-los é por meio da identificação da origem da luz refletida por eles, já que os exoplanetas não emitem luz própria.
Conforme o site Exoplanet Exploration, da Nasa, os cientistas da Agência Espacial Norte-Americana encontraram mais de 4 mil exoplanetas até o momento. O primeiro deles foi descoberto na órbita de uma estrela semelhante ao Sol, em 1995. Mais da metade dessas descobertas ocorreu graças ao Telescópio Espacial Kepler, lançado em 2009. Na época, o equipamento tinha uma missão de determinar quão comuns são os planetas semelhantes à Terra em toda a Via Láctea.
“Conseguimos aprender muita coisa com eles [exoplanetas]”, disse a professora e pesquisadora Adriana Valio, do Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica do Mackenzie, em entrevista a Oeste. Adriana disse podemos conhecer melhor “sobre como o nosso planeta e o Sistema Solar se formaram e quais são as possiblidades de tipos de atmosferas diferentes”. “Olhando para uma variedade de planetas, muitas vezes bem diferentes do nosso, a gente consegue aprender bastante coisa”, acrescentou.
O que os exoplanetas precisam para ser “habitáveis”
De acordo com a professora, uma das “regras” é que esse planeta tenha água líquida em sua superfície. “Para ter agua líquida, primeiro ele precisa ter uma superfície rochosa”, explicou. “Ou seja, precisa ser um ‘planeta terrestre’, assim como é a Terra, Marte e Vênus.” Adriana também afirma que o planeta precisa ser pequeno, “com no máximo duas vezes o raio da Terra, ou até dez vezes a massa da Terra”. A atmosfera, o campo magnético e o eixo de inclinação do exoplaneta também são fatores importantes para determinar se ele pode ser habitável.
Esses astros são encontrados em uma “zona habitável”, região em torno de uma estrela que permite a acumulação de água na superfície de um planeta. E, assim, viabiliza a existência de vida. De maneira simplificada, isso significa que o planeta tem de orbitar sua estrela a uma determinada distância — nem muito perto, para a água não evaporar, nem muito longe, para que tudo não congele.
Conheça alguns exoplanetas
Kepler-22b
Este planeta está a 600 anos-luz de distância da Terra, na constelação Cygnus. Ele foi o primeiro planeta encontrado na zona habitável de sua estrela-mãe e é mais de duas vezes maior que a Terra. Não está claro, porém, se este planeta é rochoso, líquido ou gasoso.
Segundo informações do site Space.com, o astro Kepler-22b completa uma órbita a cada 290 dias e orbita uma estrela de classe G, como o nosso Sol. Todavia, é menor e mais frio que a Terra.
Kepler-62f
Este planeta é aproximadamente 40% maior que a Terra. De acordo com a Nasa, orbita numa estrela muito mais fria que o nosso Sol. Kepler-62f está a cerca de 1,2 mil anos-luz de distância da Terra, na constelação Lyra. Em virtude de seu tamanho, pode ser um planeta rochoso ou inundado por água.
O corpo celeste completa sua órbita a cada 267 dias. Quando orbita mais próximo de sua estrela anã vermelha, em comparação com a Terra do Sol, sua estrela-mãe produz muito menos luz.
Kepler-1649c
Este exoplaneta é considerado como “o mais parecido com a Terra”. O Kepler-1649c está localizado na constelação Cygnus, a 300 anos-luz da Terra, e é apenas 6% maior que o planeta terrestre. O astro Kepler-1649c realiza sua órbita em 19,5 dias terrestres
Ao comparar a luz que os dois planetas recebem de suas estrelas, os cientistas descobriram que este corpo celeste recebe aproximadamente 75% do total de luz que a Terra recebe do Sol. Portanto, as temperaturas de superfície entre os dois astros podem ser “bem parecidas”.
Kepler-186f
A uma distância de quase 500 anos-luz da Terra, este planeta é no máximo 10% maior que o nosso. Ele recebe somente um terço da energia de sua estrela.
O exoplaneta Kepler-186f está localizado na constelação de Cisne, em uma zona habitável, com temperatura ideal para a existência de água em estado líquido, oceanos, nuvens e até mesmo calotas polares.
Kepler-452b
Segundo a Nasa, Kepler-452b é 60% maior que a Terra e sua estrela-mãe é apenas 10% maior que o Sol. Pelo seu tamanho, o astro pode ser rochoso. Este exoplaneta planeta encontra-se na constelação Cygnus, a 1,4 mil anos-luz da Terra.
Gliese-667Cc
Este astro fica a 22 anos-luz da Terra e tem pelo menos 4,5 vezes a massa do planeta terrestre, segundo o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. O Gliese-667Cc completa uma órbita em torno de sua estrela, uma anã vermelha consideravelmente mais fria que o Sol, em apenas 28 dias.
O corpo celeste recebe cerca de 90% da luz que a Terra recebe do Sol. Boa parte dessa radiação eletromagnética estaria na parte infravermelha invisível do espectro.
Gliese-832c
A apenas 16 anos-luz de distância, na constelação de Grus, o Gliese-832c tem quase cinco vezes o tamanho da Terra e provavelmente é o mais parecido com o nosso em condições de vida já encontrados.
O planeta orbita sua estrela, também uma anã vermelha, a cada 36 dias. Como o Gliese-832c orbita mais próximo de sua estrela, ele recebe a mesma energia que a Terra recebe do Sol. Como outros aspectos do planeta (massa e atmosfera) são desconhecidos, não é possível afirmar que o planeta seria 100% habitável.
Proxima Centauri b
De acordo com a agência espacial norte-americana, o corpo celeste Proxima Centauri b está localizado na constelação Centaurus, a apenas quatro anos-luz de distância da Terra. Assim, é o exoplaneta conhecido mais próximo da Terra. Ele tem uma massa 1,27 vez maior que a da Terra.
Embora este planeta possa ser encontrado na zona habitável de sua estrela, ele está exposto à radiação ultravioleta extrema. Isso é resultado de ele estar muito próximo de sua estrela-mãe e tem um período orbital de somente 11 dias.
TOI 700 e
O corpo celeste TOI 700 está a 100 anos-luz da Terra, na Constelação Dorado, e completa uma órbita a cada 28 dias. Além disso, este exoplaneta é provavelmente rochoso e possui cerca de 95% do tamanho da Terra.
TRAPPIST-1e
Ele está localizado a cerca de 40 anos-luz da Terra, na constelação de Aquarius. O TRAPPIST-1e completa sua órbita a cada seis dias, entorno de uma estrela anã “ultrafria”. Além disso, este planeta é considerado o mais provável de suportar a vida como a conhecemos, visto que seu tamanho é praticamente igual ao da Terra e possui muitos oceanos.
Como são captadas as informações sobre os exoplanetas habitáveis
Para captar mais informações acerca desses corpos celestes, são usados observatórios espaciais — como o Kepler, o Hubble, o TESS e atualmente o James Webb. Segundo Adriana, várias técnicas são utilizadas para as novas descobertas, tais como:
- Método de Trânsito: técnica que reduz o brilho de uma estrela no instante em que o exoplaneta passa em sua frente e percorre o seu disco, com respeito à linha de visada (linha imaginária que une dois objetos sem interceptar obstáculos). Este método é responsável por mais de 20% das detecções realizadas; e
- Método de Espectroscopia: busca estudar as interações entre a matéria e a radiação. Isso pode ser obtido usando um espectrômetro ( telescópios que podem analisar uma partícula pelo comprimento da onda e pela frequência da luz).
A professora explica, no entanto, que os cientistas não analisam a luz “diretamente” emitida pelas estrelas. Mas conseguem detectar pequenas variações dela.
Adriana disse, por fim, que uma possível colonização dos homens nesses planetas é improvável. Isso porque há limitações tecnológicas e, além disso, a distância para os exoplanetas “levaria um período maior do que o de uma vida humana” para ser percorrida. No entanto, a professora revela que, assim como chegar à Lua no começo do século 20 seria uma ideia “ilusória”, o caso dos exoplanetas pode mudar.