Nos últimos dias, forças militares da Ucrânia avançaram em cidades do sudoeste da Rússia, sobretudo nas proximidades de Kursk. Nesta sexta-feira, 16, Kiev anunciou, contudo, que não tem interesse em tomar parte do território russo. A ação, segundo um assessor direto do presidente Volodymyr Zelensky, é forçar Moscou a abrir negociações que visem a pontos que levem ao fim da guerra entre os dois países.
Ucrânia e Rússia estão em guerra desde fevereiro de 2022. Na ocasião, a mando do presidente Vladimir Putin, o Exército russo invadiu o leste ucraniano. No decorrer do conflito, o Kremlin anexou algumas regiões ao seu território — media que, no entanto, não tem validação da comunidade internacional.
Desde a semana passada, a Ucrânia, que conta com apoio público dos Estados Unidos e da União Europeia, fez o que os militares oponentes vinham fazendo há mais de dois anos: conseguiu avançar sobre solo russo. Essa medida não é tida por Kiev como ação contra a soberania do país vizinho, mas um ato para se ter início a um diálogo entre as partes.
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O chefe do gabinete de Zelenzky, Mykhailo Podolyak, relatou sobre essa estratégia por meio de postagem em seu perfil no Twitter/X. De acordo com ele, os russos podem — finalmente — se ver obrigados a negociar.
“Guerra defensiva”
“A Ucrânia não está interessada em ocupar territórios russos. Isso é óbvio”, afirmou o assessor de Zelensky. “Estamos travando uma guerra exclusivamente defensiva estritamente dentro da estrutura do direito internacional. Mas se estamos falando sobre negociações potenciais — enfatizo o potencial — teremos que colocar a Federação Russa na mesa oposta. Em nossos próprios termos. Não temos absolutamente nenhum plano para implorar: ‘Por favor, sente-se para negociar’.”
Pela rede social, Podolyak ainda reforçou que, em tempos de guerra, as negociações não podem ficar restritas ao campo diplomático. Por isso, ele defendeu o que as tropas de seu país estão fazendo nas proximidades de Kursk. Na visão do aliado de Zelensky, é preciso impor derrotas à Rússia no sentido bélico.
“Precisamos infligir derrotas táticas significativas na Rússia”, afirmou Podolyak. “Na região de Kursk, podemos ver claramente como a ferramenta militar está sendo usada objetivamente para persuadir a Federação Russa a entrar em um processo de negociação justo. Mais uma vez, para entrar em um processo de negociação, não a tradicional propaganda russa e chantagem de capitulação.”
Além disso, o político ucraniano ressaltou que, ainda mais em tempos de mídias digitais, é importante ter a opinião pública ao seu lado. Nesse sentido, ele afirmou que até a postura por parte de alguns russos mudou desde o início da operação em Kursk.
“Uma ferramenta importante também é a influência na opinião pública dentro da Rússia, que está começando a mudar quando a guerra chegou fundo em seu território”, afirmou o chefe do gabinete de Zelensky. “É um fato que, até recentemente, os cidadãos do país agressor geralmente permaneciam indiferentes às hostilidades porque elas ocorriam na Ucrânia.”
A Rússia está “chocada”, afirma político da Ucrânia
Por fim, Mykhailo Podolyak afirmou a estratégia de invadir parte da Rússia tem dado certo para a Ucrânia, em seu objetivo de abrir negociações pelo fim da guerra. Conforme afirmou na mesma postagem, os russos estão “chocados” com o mais recente avanço militar das tropas de Kiev.
“Quando a guerra chegou ao seu território, os russos estavam obviamente assustados”, publicou o chefe do gabinete de Zelensky. “Eles estão chocados. Embora as batalhas na região de Kursk sejam referidas na televisão como a ‘situação conhecida na Borderland’, famílias e amigos começaram a sussurrar sobre a situação real na frente. Mudanças negativas no estado psicológico da população russa serão outro argumento para o início das negociações.”
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