Em 2020, Andrea Matarazzo foi candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSD. Ficou em oitavo lugar, com pouco mais de 1,5% dos votos válidos. Na época, confidenciou a amigos o que considera uma das causas do baixo desempenho: “Tenho nome de mulher e sobrenome de grã-fino”, brinca. “Ninguém ganha eleição assim no Brasil.”
De volta ao cenário político, Matarazzo vai testar novamente a popularidade do nome e do sobrenome, mas dessa vez na Itália. Com dupla cidadania, o político de 65 anos vai disputar a única vaga no Senado da Itália destinada à América do Sul. A partir do próximo 21 de agosto, os cidadãos italianos que vivem no Brasil poderão votar pelo correio para escolher o representante da América do Sul no Senado italiano.
O empresário e ex-embaixador na Itália já havia tentado se candidatar ao Parlamento italiano nas eleições de 2018, mas foi impedido, em razão de uma norma que proíbe a candidatura de cidadãos que moram no exterior e tenham ocupado cargos públicos no país de residência nos cinco anos anteriores — Matarazzo foi vereador da capital paulista até janeiro de 2017.
Nestas eleições, o Parlamento italiano vai destinar para a América do Sul três vagas para candidatos que representam o exterior — um senador e dois deputados. Em entrevista a Oeste, Matarazzo falou sobre a decisão de disputar uma vaga ao Senado italiano, o que pretende fazer caso seja eleito e conforme as perspectivas para o cenário político brasileiro. “Não excluo disputar uma eleição aqui, mas meu foco agora é o Senado Italiano. É um grande desafio, uma disputa de que muito me honra participar e espero vencer”, disse.
A seguir, os principais trechos.
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1 – Por que se candidatar a uma vaga ao Senado na Itália? Será a primeira vez?
Sim, já quis disputar uma vez, mas os deputados eleitos na época na América do Sul criaram o que eles chamaram de ‘lei Matarazzo’, impedindo que qualquer pessoa que tivesse exercido um cargo público ou mandato há menos de cinco anos se candidatasse. Era o meu caso. Como italiano, na quarta geração de uma família de imigrantes, é muito honroso fazer parte do mais antigo Senado da República, que é o italiano. Meu bisavô, Cavalieri Andrea Matarazzo, foi senador vitalício e teve o título outorgado pelo rei Vittorio Emanuele. Mas hoje a principal razão foram os apelos de amigos e lideranças da comunidade italiana, argumentando que o Brasil precisava mostrar que a América do Sul poderia ter na Itália uma representação qualificada e à altura dos desafios por que Itália e Brasil passam. Assim, trabalhamos para construir essa chapa, eu como senador e o sociólogo Fábio Porta como deputado, pela nossa experiência na área pública, nosso conhecimento de Itália e por representarmos o que foi a imigração italiana no Brasil.
2- Qual foi o partido escolhido para concorrer?
Para disputar uma eleição na América do Sul inteira — onde a Argentina tem o dobro do registro de cidadanias italianas em comparação aos eleitores cadastrados no Brasil —, é necessário contar com um partido que tenha estrutura política na região. Precisa ter um espectro político democrático coerente com a minha história política, exercida sempre dentro do pensamento da social-democracia. Para compatibilizar as duas premissas, a coligação foi feita em torno do ex-primeiro-ministro Enrico Letta, do Partido Democrático (PD).
3- O que o senhor pretende fazer caso seja eleito?
Há muitas coisas a fazer. Estaremos no Senado de um país que faz parte da União Europeia, num momento de turbulência política. Com relação aos italianos fora da Itália, especialmente aqueles que estão na América do Sul, vou trabalhar para facilitar a vida deles. Vamos estudar a legislação para estruturar as embaixadas e consulados, de forma que possam dar um atendimento eficiente não só com relação à cidadania. Queremos informação com mais agilidade, para trabalhar mais a concessão da cidadania e em tudo aquilo decorrente dela, como passaportes, previdência, uma série de coisas. Hoje os consulados não têm estrutura para atender a uma demanda tão grande. Há também uma infinidade de oportunidade para os jovens brasileiros, seja na educação, para compatibilizar melhor o currículo, para validar com mais rapidez, e ao mesmo tempo há muita oportunidade de emprego, incluindo uma série de atividades que os italianos não querem mais exercer e que aqui no Brasil não se tem informação. A Itália é a porta de entrada da União Europeia. Por meio da legislação, vamos aproximar e facilitar o intercâmbio de tecnologia e de parcerias ou associações entre as empresas brasileiras e italianas. Sem falar no intercâmbio cultural maior, no intercâmbio da informação. Precisamos aproximar esse imenso contingente que existe fora da Itália com a Itália. Esse trabalho, feito por meio do Parlamento, é fácil, pois fui embaixador do Brasil em Roma, conheço a Itália e como funcionam o Congresso brasileiro e o italiano.
4 – Quem pode votar e como é computado esse voto?
Podem votar todos os cidadãos italianos que recebem nas suas casas as cédulas para votação. Elas devem chegar a partir do dia 8 de setembro. A pessoa deve votar e colocar a cédula numa caixa de correio até o dia 17 do mesmo mês. Todos que têm cidadania italiana podem votar. Não é quem tem o passaporte, mas quem tem a cidadania.
5 – O senhor pretende se candidatar novamente a um cargo eletivo no Brasil?
Sou cidadão brasileiro, nascido no Brasil, e cidadão italiano também. Eu me sinto em casa tanto aqui como lá. Não excluo disputar uma eleição aqui, mas meu foco agora é o Senado italiano. É um grande desafio, uma disputa de que muito me honra participar e espero vencer.
A Itália está lascada ! Começamos a exportar o que temos de pior: Políticos !
ahahah, verdade. Mas veja o lado positivo, pelo menos serão os italianos a bancar esse aí, e não nós.