Sem identidade, desmoralizado e prestes a morrer. Esse é o quadro clínico do PSDB, diagnosticado por Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus e um dos fundadores do partido. Deputado federal e senador pela sigla, o político, de 77 anos, lembra com saudosismo do que um dia foi uma das maiores legendas do Brasil. De acordo com Virgílio, o PSDB não conseguiu sobreviver ao desgaste da política nos últimos anos, sobretudo pelos escândalos de corrupção que atingiram praticamente todas as siglas. “A pá de cal veio quando não se respeitaram as prévias”, disse, sobre a decisão do partido de tirar o ex-governador de São Paulo da disputa pelo Palácio do Planalto, em 2022, depois de o tucano não decolar nas pesquisas. Para Virgílio, o PSDB também deixou ser cortado seu cordão umbilical com o eleitorado tradicional do partido, que migrou para Bolsonaro.
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, cargo que o fez dialogar com o Congresso Nacional e proporcionou maior entendimento sobre como funcionam as engrenagens do Legislativo, Virgílio vê o Parlamento inerte aos avanços do Supremo Tribunal Federal (STF). Para ele, congressistas se venderam em troca das chamadas “emendas Pix”. Além disso, para Virgílio, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que poderia colocar freio nas investidas no Judiciário, se cala diante de determinações vindas do Palácio da Justiça, além de se curvar ao presidente Lula, cujo governo “sobrevive de restos de gestões passadas”.
O ex-prefeito de Manaus falou ainda sobre o que pensa a respeito do vice-presidente Geraldo Alckmin, a quem vê como um “vice na expectativa”, e o papel da oposição diante do Poder Executivo. Descontente com o PSDB, Virgílio deixou o partido no ano passado.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O PSDB encolheu na Câmara dos Deputados e no Senado. O que houve com o partido?
Muita gente atribui a queda do PSDB a Jair Bolsonaro. Discordo radicalmente. O partido vinha caindo antes mesmo de o ex-presidente ganhar projeção e vencer a disputa contra Fernando Haddad. A sigla entrou em decadência porque não conseguiu sobreviver ao desgaste da política que começou nos últimos anos. O PSDB perdeu sua identidade. A pá de cal veio quando não se respeitaram as prévias. Não deveriam ter tirado o ex-governador de São Paulo João Doria da disputa. O certo era perder com ele, já que não decolava nas pesquisas, assim como fez no passado com José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Desmoralizaram um processo que poderia ser o início da retomada do partido.
Com a revelação da conversa entre o deputado Aécio Neves e o mal desempenho de Doria no governo de São Paulo, o PSDB vê sumir seu quadro de personalidades. Qual o futuro dos tucanos?
O PSDB é um paciente em estado terminal. Não tem mais o que fazer, o que é muito triste de ver, principalmente por uma pessoa que dedicou anos da vida para ajudar a solidificar o que já foi um dos maiores partidos da América Latina. Sinto falta do velho PSDB, dos tempos de Fernando Henrique Cardoso e dos intelectuais que frequentavam as reuniões. Gente muito letrada contribuiu para o crescimento da sigla. Servi à essa legenda com enorme paixão e afinco. Hoje, contudo, depois de tantas coisas que me chatearam, não quero mais saber o que vai ser daqui para a frente.
Como o senhor vê os primeiros oito meses de Lula no poder?
Cada dia mais fica evidente que não há um governo no Brasil. O presidente passa mais tempo no exterior que resolvendo os problemas daqui. Nada de concreto foi apresentado até agora. Esta administração vive de restos de avanços obtidos pelos governos Temer e Bolsonaro. A indicação do economista Márcio Pochmann para a presidência do IBGE é a face mais evidente da incompetência, em virtude de seu histórico deplorável no Ipea e outros órgãos por onde passou. O mesmo se aplica à tentativa de enfiar goela abaixo o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na chefia da Vale. É um absurdo cogitar a possibilidade de esse senhor, um dos responsáveis pela catástrofe econômica na gestão Dilma, ocupar o alto comando de uma empresa respeitada como aquela. Resumidamente, o “governo” tem mais ódio e ressentimento para dar aos outros do que trabalho em prol dos brasileiros.
Qual a avaliação do senhor do papel da oposição?
Vem apresentando bom desempenho em alguns confrontos, sobretudo o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) e os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Eduardo Girão (Novo-CE). Olhando como um todo, porém, há o que melhorar. Primeiramente, a oposição tem de saber quais causas defende e combate. Depois, delinear estratégias de enfrentamento dos opositores, no caso, o PT e a esquerda. Não basta apenas “lacrar” nas redes sociais, como tem sido feito. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por exemplo, é muito bom. Mas achei desnecessária a forma como abordou a discussão sobre pessoas trans na tribuna da Câmara. Há inúmeras formas de tratar de temas polêmicos de um jeito no qual se possa sobressair.
Muitas pessoas se surpreenderam com Alckmin na chapa de Lula, em razão do histórico de críticas ao PT. O que aconteceu?
A ambição de ser presidente da República falou mais alto que tudo, inclusive, o seu passado de críticas contundentes ao PT. A mudança de postura também está atrelada ao desgaste político de sua trajetória. Em 2018, Alckmin tentou se eleger, mas não chegou ao segundo turno. Depois disso, foi ficando esquecido pelas pessoas e sem muito o que oferecer a elas. Essa aliança com Lula tornou-se a “oportunidade dos sonhos”, a qual abraçou com força e partiu para o tudo ou nada. Quando nos zangávamos, eu sempre lembrava da história de uma tia dele que via seu rosto em um retrato na sala e dizia: “Meu filho, você vai ser presidente um dia”. Alckmin nunca deve ter esquecido isso. Ele é o famoso “pisa mansinho”, o sujeito que com passos leves chega aonde quer, sem se importar muito com o tempo que vai demorar. Alckmin está sempre com Lula, acompanhando o presidente no aeroporto e recebendo-o na volta das viagens, mas sempre torcendo para o presidente cair e rolar escada abaixo. É um vice na expectativa.
O senhor criticou o ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo tendo votado pela indicação do magistrado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2008. De que modo o senhor avalia o desempenho dele agora?
Tem agido de forma parcial, o que é impróprio para um magistrado. A cassação do agora ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), cujo maior pecado é ter combatido a corrupção, deixou isso mais evidente. Antes desse episódio triste para a democracia, Gonçalves proferiu a frase polêmica que vazou no microfone em uma conversa com o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, durante a diplomação de Lula: “Missão dada é missão cumprida”. O que ele quis dizer com isso? Quem mandou e qual o objetivo? O Brasil todo se pergunta até hoje. Se eu soubesse dessa índole, à época, jamais teria votado pela indicação desse senhor ao STJ. Faria pior: impediria a sua indicação. Há 15 anos, ele recebia meu apoio por ser negro, como meu avô, e porque eu o via como alguém humilde e confiável.
O Poder Judiciário tem entrado nas esferas de outros Poderes. Por que o Legislativo se mantém inerte?
No caso da Câmara, deputados têm aberto a carteira para receber as chamadas “emendas Pix”. No Senado, o presidente Rodrigo Pacheco deixou-se seduzir facilmente pelo “canto da sereia” de Lula e o apoiou da campanha até agora. Logo, essa Casa se dobrou ao governo. Às vezes, Pacheco dá bola dentro, como quando relembrou que o papel do STF não é legislar, mas, sim, proteger a Constituição. Isso foi positivo, porém pouco perto do que se espera de um chefe do Congresso Nacional. O Parlamento tem de tomar de volta as rédeas do Legislativo, porque, caso contrário, o STF continuará avançando da maneira que está agora. Quando se há um vácuo de poder, alguém o ocupará.
As liberdades de expressão e imprensa estão em xeque no Brasil?
O Brasil vive hoje espasmos autoritários, os quais espero que terminem logo. Esse momento fica pior ainda ao ter um desgoverno sem plano de ação. Entre outras trapalhadas, a reforma tributária que está aí é inadmissível, pois onera o agronegócio, nosso maior motor da economia. Lá na frente também vai prejudicar o setor de serviços, que emprega muita gente. Lula quer ainda reabrir os cofres do BNDES para ditaduras latino-americanas. Essas propostas são o fim da picada. Como sou otimista, espero que o melhor aconteça para o Brasil voltar aos trilhos e ao caminho que conduz a um porto seguro.
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O sr. Arthur Virgílio acertou quando falou que os eleitores do PSDB, migraram para o Bolsonaro, o partido enganou seus eleitores durante anos, eu fui eleitor fiel que também foi seduzido pelo canto da sereia, só fui abrir os olhos quando no assassinato do Prefeito Celso Daniel onde o PSDB era governo o inquérito sobre o crime não chegou a lugar nenhum. Faço votos que quando o partido morrer também seja cremado.
Acordou tarde demais.
Sr. Arthur Virgílio:
Chorar agora é meio tarde. Assim como defender um Dória indefensável também. Ele estava perddo desde o primeiro dia como prefeito de SP.
Mais do que o Alkimin, Dória não temnenhum crédito pelo que ele fez e ainda faz.
Boa análise do Arthur Virgílio, mas ele também se deixou sucumbir à própria ambição.
FHC jogou a pá de cal…
Como velho (78 anos) ex seguidor do PSDB gostei dessa entrevista do Artur Virgilio, somente não concordo quando diz sentir falta do velho PSDB de FHC, sem lembrar de Franco Montoro, Covas, Richa enfim essas sim lideranças sérias e não vaidosas como o pavão FHC. Basta ler os “diários da presidência” de FHC para melhor conhecer suas vaidades, seus conchavos e seus autoritários poderes como intervir na PF e na imprensa. Também o admirava até ler parte desses diários e mais recentemente quando foi ressuscitado para fazer o L.
OBRIGADO JOÃO AGRIPINO DÓRIA…CANALHADA TUCANA!!!