Três lançamentos literários discorrem sobre definições do liberalismo
Muitos pensadores falam sobre o que é o liberalismo, mas poucos realmente conseguem defini-lo.
Três intelectuais americanos tentaram fazer isso nos últimos meses: Patrick J. Deneen, Eric Nelson e Andrew Willard Jones.
Em seus respectivos livros – Why Liberalism Failed (“Porque o Liberalismo Falhou”), The Theology of Liberalism: Political Philosophy and the Justice of God (“A Teologia do Liberalismo: Filosofia Política e a Justiça de Deus”) e Before Church and State: A Study of Social Order in the Sacramental Kingdom of Louis IX (“Diante da Igreja e do Estado: um estudo da ordem social no reino sacramental de Luis IX”) -, esses autores argumentam sobre a ascensão, o declínio, a queda e a ressurreição do pensamento liberal.
A razão para este fascínio? O uso indiscriminado do termo “liberal” por estadistas internacionais como o primeiro-ministro húngaro Victor Orbán, o presidente americano Donald Trump e o político britânico Niall Farage.
Para eles, que se identificam com uma política “populista” (algo muito diferente da demagogia popular praticada por Lula e Chávez), ser liberal significa fazer parte de uma elite que não compreendeu quais são os verdadeiros anseios do povo.
Não é o que afirmam os três pensadores citados no início deste texto. O termo “liberal”, em si, é algo bastante escorregadio; aqui no Brasil, por exemplo, significa alguém de direita; nos EUA e na Europa, significa um sujeito de esquerda. Contudo, de qualquer forma, não seria um exagero admitir que um liberal é alguém que acredita na liberdade humana como motor do progresso civilizatório.
Com isso em mente, as obras de Deneen, Nelson e Willard Jones foram analisadas em um longo ensaio de Daniel Luban para a revista Dissent, que tem um viés de esquerda, mas busca dialogar com outras formas de pensamento – em especial, a do liberalismo.
Para Luban, cada uma delas tem a qualidade de apresentar diferentes facetas do pensamento liberal; porém, nenhuma delas consegue apresentar uma alternativa viável ao que seria o fracasso liberal – pelo menos, segundo esses políticos que adoram se afirmar como respostas a um aparente cansaço desta visão de mundo.
O que fica nítido é que, hoje, as alternativas ao liberalismo não são mais o comunismo, o socialismo, o anarquismo e outros ismos de um passado recente. A alternativa que sobrou – e a mais terrível de todas, segundo Luban – é a de um capitalismo autoritário (ou corporativo) que elimina igualmente todas essas possibilidades.
Por isso, não se pode dizer que o pensamento liberal está em decadência, como supõem Trump, Órban e Farage. Na verdade, como a coruja de Minerva citada por Hegel, é no crepúsculo que ela alcança a sua máxima sabedoria.