O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Fábio Wajngarten defendeu a queda do sigilo dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República. O posicionamento dele se deu depois do vazamento de áudios, publicados pela revista Veja, em que o militar coloca em xeque a lisura de sua delação premiada.
Em postagem nas redes sociais, Wajngarten diz que a defesa de Bolsonaro ainda avalia quais medidas tomar. De acordo com ele, é necessário dar maior transparência ao que envolve o caso Cid.
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“O levantamento do sigilo das gravações dos depoimentos dele, na íntegra, poderá dirimir potenciais dúvidas e dará a transparência necessária para a elucidação de parte dos fatos”, afirmou Wajngarten, nesta sexta-feira, 22. “Se for uma estratégia da defesa dele, vazando áudios como forma de declaração em off/on não creio que tenha sido oportuna. De todo modo, a defesa do presidente tomará as devidas providências ao longo do dia.”
Wajngarten diz que foi surpreendido com a divulgação dos áudios e que ainda “não tem juízo de valor” sobre o que foi dito por Cid. Segundo o advogado, desde a publicação da reportagem da Veja, seu “telefone derreteu de tantas chamadas”.
“Desde a publicação da matéria da revista Veja sobre um potencial jogo duplo do tenente-coronel Mauro Cid, meu telefone derreteu de tantas chamadas”, afirmou o advogado de Bolsonaro. “Confesso que fui surpreendido e ainda não tenho opinião formada, nem juízo de valor diante de tantas possibilidades que podem ter ocorrido.”
O caso Mauro Cid
Preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), Mauro Cid fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF) e, desde então, passou a responder às perguntas sobre seu envolvimento e a suposta participação do ex-presidente Bolsonaro em várias irregularidades: da tentativa de se apropriar de joias recebidas de presidente do regime da Arábia Saudita ao esquema para fomentar um golpe de Estado e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi solto depois da homologação do acordo.
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No dia 11 deste mês, o ex-ajudante de ordens da Presidência da República confirmou detalhes de uma série de encontros com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro e da cúpula de seu governo para debaterem um plano de golpe de Estado. O militar afirmou não ter participado da discussão entre Bolsonaro e o alto escalão das Forças Armadas sobre o mesmo tema.
Nos áudios divulgados pela Veja nesta quinta-feira, 21, Mauro Cid diz que o inquérito da PF sobre a tentativa de golpe de Estado é uma “narrativa pronta”. Cid também diz que o ministro do STF Alexandre de Moraes já tem a sentença dos investigados.
“Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa dele”, disse Cid, conforme os áudios vazados. “É isso que eles queriam, e toda vez eles falavam: ‘Olha, a sua colaboração tá muito boa’. Ele até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa’, e mais um termo lá. Ele disse assim: ‘Só essa brincadeira vai ser 30 anos pra você.”
Por meio de nota, o advogado Cezar Bittencourt, responsável pela defesa de Mauro Cid, admitiu que a voz nas gravações divulgadas pela revista são do militar. Mas alegou que as declarações são mero desabafo do investigado.
“Mauro César Babosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da PF, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador, aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios”, afirmou o advogado.
A defesa do militar ainda sustenta que a gravação foi clandestina. “Referidos áudios não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda”, afirmou Bittencourt. “Mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade.”
Leia também: “O veneno do STF”, artigo de J. R. Guzzo publicado na Edição 209 da Revista Oeste
Revista Oeste, com informações da Agência Estado
Penso que a PF precisa liberar os depoimentos na íntegra, precisamos saber as circunstâncias do depoimento. Inclusive é prudente que todos os depoimentos coletados pela PF sejam gravados, para posterior fiscalização.