(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 3 de julho de 2022)
Os fatos descritos a seguir foram mantidos como uma espécie de segredo de Estado pela mídia brasileira, ou por esse “consórcio de órgãos de imprensa” que hoje se apresenta em seu nome — e já é para dar graças a Deus, porque qualquer notícia que fosse publicada a respeito correria o risco de ser denunciada como “fake news” pelas “agências de checagem”, ou de “verificação de fatos”. Trata-se de coisa de compreensão imediata. Um músico de “rap” e um artista cubanos foram condenados a penas de prisão em Cuba por protestarem contra governo. O “rapper” fez um vídeo com uma canção de crítica ao regime. O artista colocou uma bandeira cubana nos ombros numa manifestação de rua. O primeiro pegou nove anos de cadeia — isso mesmo, nove anos por cantar uma música. O segundo pegou cinco, por sair com a bandeira do seu próprio país num ato pacífico de protesto. É o tipo de notícia que deixa claríssimo, mais uma vez, como funcionam as liberdades individuais e públicas em Cuba — o país-modelo da esquerda nacional e de seu candidato a presidente da República. É notícia que não sai na imprensa.
As canções de Maykel Osorbo, que lidera uma banda de “rappers” negros, não chegam nem perto da agressividade dos “raps” contra a lei e a polícia, e a favor do crime e dos criminosos, tão festejados no Brasil pela esquerda e pelas classes culturais. Mais que isso: os dois cubanos presos não organizaram, nem fizeram parte, de nenhum grupo armado. Não quebraram uma única vitrine em seus protestos de rua, nem cometeram o mínimo ato de violência. Não fizeram vídeo jogando futebol com a cabeça de Fidel, ou de Che Guevara. Não escreveram no jornal: “Quero que o presidente morra”. Não chamaram ninguém de “genocida”. Tudo o que o músico fez foi uma canção pedindo liberdade, igualdade e comida na mesa. Como o sujeito pode ser enfiado nove anos numa cadeia por fazer uma coisa dessas?
Osorbo foi condenado por “usar imagens falsas, manipuladas digitalmente”, no seu vídeo — como se fosse um crime utilizar fantasias e recursos digitais num vídeo musical. Segundo o tribunal que o condenou, ele teve o propósito de “ultrajar a honra e a dignidade das autoridades máximas do país”. Dois dias antes do julgamento, sua advogada foi afastada do caso pelo governo; puseram um outro, que não levou nenhuma testemunha de defesa. Tudo a ver com a linguagem, os métodos e as penas do inquérito perpétuo e ilegal que vem sendo tocado num certo país sul-americano?
Cuba está completando 63 anos de ditadura em tempo integral — mais um pouco, bate o recorde mundial da tirania comunista da Rússia, entre 1917 e 1989. Sonham fazer isso, aqui.
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