Mais de 30 pessoas detidas por atos do 8 de janeiro de 2022, na Operação Lesa Pátria, estão concorrendo nas eleições municipais de 2024. Em 27 cidades, elas disputam cargos de vereador ou prefeito e defendem, principalmente, liberdade de expressão e valores familiares.
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Um levantamento do jornal Gazeta do Povo e do site Bureau de Comunicação identificou 35 candidatos, ligados ao 8 de janeiro, com candidaturas aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Desse total, nas eleições, três disputam prefeituras: em Vitória, em Itajaí (SC) e em Mogi das Cruzes (SP). Os outros buscam assentos em Câmaras Municipais.
Aspectos legais das candidaturas
Carolina Siebra, especialista em Direito Eleitoral, afirmou à Gazeta do Povo que as candidaturas são legais, mesmo com restrições como tornozeleira eletrônica. “Não há nenhum impedimento, porque elas não possuem condenação e, portanto, estão aptas perante a lei eleitoral para concorrer a cargos eletivos”, explica, citando o artigo 15 da Constituição.
Segundo a especialista, a perda de direitos políticos ocorre apenas em circunstâncias específicas, como “incapacidade civil absoluta” ou “condenação criminal transitada em julgado”. Candidatos sob processo devem cumprir medidas cautelares, incluindo recolhimento noturno e restrições nas redes sociais.
Desafios das campanhas para as eleições
Essas restrições representam desafios para candidatos. Maxcione Pitangui, radialista que concorre a vereador em Serra (ES), descreveu a situação como “disputar uma corrida de Fórmula 1 usando uma bicicleta com pneus furados contra carros velozes”.
Tatiane Marques, de Santa Maria (RS), relata que eventos eleitorais à noite e aos finais de semana dificultaram sua participação. Ela depende de amigos, familiares e apoiadores para compartilhar sua mensagem de campanha.
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Armandinho Fontoura, vereador que tenta a reeleição em Vitória, começa seu dia cedo para organizar as atividades de campanha. Ele inicia o trabalho às 6h, horário permitido pelo monitoramento eletrônico, e trabalha até as 20h.
No Rio de Janeiro, o mecânico Gildemar Lins Pimentel, conhecido como Pimentel Patriota, distribui materiais de campanha em Duque de Caxias (RJ), às 6h, com ajuda de amigos. Ele enfrentou dificuldades financeiras, como a falta de gasolina. Já Susi Bittencourt, educadora infantil de Rio das Ostras (RJ), destacou o desafio de não ter acesso às redes sociais.
Mais relatos pessoais
Fabiana Sanches Prado, candidata em Muzambinho (MG), compartilhou sua experiência e afirmou que “muitos ainda não sabem absolutamente nada do que eu vivi”. Ela busca conscientizar o público sobre sua situação.
Guilherme Rodrigues da Silva, de Gravataí (RS), defendeu a liberdade de expressão e relatou o uso de tornozeleira eletrônica depois de postar um vídeo sobre os atos do 8 de janeiro. “Entraram na minha casa dia 29 por ordem do ministro Alexandre de Moraes”, denunciou ao jornal.
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“Não há nada contra mim, e tenho repetido isso da forma que posso durante essa campanha, pois o pilar da democracia é poder falar”, concluiu Guilherme.