Depois de mais de 40 dias longe de casa, em virtude das enchentes que inundaram o Rio Grande do Sul, Carlos Roberto Pedroso Ribeiro, de 67 anos, ainda teve de enfrentar outros problemas. Morador do município de Charqueadas, no interior do RS, ele foi pego de surpresa ao ver que o fornecimento de água em sua casa foi interrompido pela Companhia Riograndense de Saneamento, a Corsan, nesta terça-feira, 11.
A Oeste, Carlos explicou que a companhia cortou a água em razão de uma conta pendente de abril. Contudo, o morador alega que perdeu tudo nas inundações que tomaram o Rio Grande do Sul. Apesar disso, dois funcionários da empresa lacraram o abastecimento de água na manhã de hoje.
Com a água, Carlos limpava a casa. “Tudo ficou sujo com as enchentes”, contou. “Daí, a Corsan chegou com ordem de cortar a água. Disseram que havia uma conta vencida do mês de abril, que seria paga em março. Só que a enchente levou tudo. Perda total.”
Corte de água sem aviso prévio
Segundo o morador, não houve aviso prévio sobre o corte. “Eles não deram tempo e nem avisaram nada”, lamentou.
O gaúcho está fora de casa desde 30 de abril e, atualmente, vive na casa da irmã. Ele abandonou a residência antes mesmo de a água chegar. Conforme revelou Carlos, em novembro de 2023 sua casa já havia sido atingida pelas chuvas. Porém, apenas a parte da cozinha. Dessa vez, as águas chegaram até o telhado.
Na tarde de hoje, Carlos procurou a Corsan para falar sobre o caso. A companhia afirmou que a decisão fazia parte das “normas da empresa”. A segunda via da conta foi entregue a ele. A Corsan informou que a água voltaria apenas mediante pagamento.
Privatização da Corsan
A Corsan foi criada na década de 1960. Segundo a própria companhia, desestatizada em dezembro de 2022 por meio de um leilão, seu objetivo é “preservar os recursos hídricos para assegurar o fornecimento de água potável às comunidades”.
Em março deste ano, representantes da Aegea, empresa que arrematou a Corsan, se reuniram com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSBD), para apresentar um balanço das atividades. A Aegea assumiu oficialmente a operação da Corsan em julho de 2023.
Na reunião, destacaram a previsão anual de R$ 1,7 bilhão em investimentos e mais de R$ 600 milhões em outorgas a municípios. Também foi realizado o pagamento de R$ 4,1 bilhões, referente às ações leiloadas pelo governo do Estado.
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Eduardo Leite disse que a privatização de uma empresa pública não serve para desonerar o Estado sobre o assunto. Além disso, o governador afirmou que a prestação de contas é necessária para que a população acompanhe a evolução do serviço depois da venda.
“A privatização de uma companhia que opera um serviço público não é a desoneração do poder público sobre o tema”, disse o governador. “O que fizemos aqui nesta reunião foi justamente pedir à concessionária que prestasse contas. A privatização sozinha não resolve. Ela encaminha uma solução na medida que tem agilidade e capacidade de investimento do privado, mas com o poder público ao seu lado.”
Oeste entrou em contato com a Corsan, mas não obteve retorno até essa reportagem.