O Centrão não é o único grupo da Câmara contrário ao adiamento das eleições. Deputados independentes e os da base de apoio direta ao governo entendem que o melhor é não postergar
Não é só o Centrão que se mobilizou para travar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 18/2020, que adia o primeiro e o segundo turno das eleições municipais. Partidos independentes da Câmara e parlamentares da base governista também desejam manter as datas atuais, em 4 de outubro e 25 de outubro.
A pauta foi aprovada no Senado na terça-feira, 23, e chegou na quarta-feira, 24, à Câmara. O Centrão prontamente se movimentou nos bastidores para deixar claro que não deseja adiar. Inclusive, levou a proposta a consulta parlamentar dentro das próprias bancadas.
O que era um sentimento supostamente predominante do Centrão, na verdade, é mais amplo do que se pensa. “O que está em jogo é quem quer adiar e quem quer manter as eleições e não aceita prorrogação [de mandato] e mudar as regras do jogo. Eu não sou Centrão e tenho minha posição já definida de manter a data em 4 de outubro”, destaca o deputado José Nelto (Podemos-GO), pré-candidato à prefeitura de Goiânia.
O parlamentar é taxativo ao explicar o que aconteceu para os senadores terem aprovado a PEC 18 com o adiamento das eleições, sendo que não é o desejo da Câmara. “Faltou articulação. É falta de articulação mesmo. A Câmara não foi ouvida. Agora, corremos o risco de não aprovarmos o texto no prazo estabelecido pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral], de 30 de junho”, critica Nelto.
Vantagem
Um dos argumentos levantados pelo deputado para não adiar as eleições é, inclusive, a vantagem que prefeitos e vereadores terão em suas campanhas. Quem já se encontra no poder terá o poder da “máquina” para exercer sua força. “Ele vai poder utilizar a máquina e levar vantagem. Pode fazer mais favores, nada impede que um prefeito possa mandar fazer uma ação uma rua, por exemplo”, sustenta o deputado pré-candidato do Podemos.
O deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), da base governista, é outro que partilha da ideia que faltou articulação entre as duas Casas. Particularmente, o parlamentar concorda com o sentimento dos senadores, mas analisa que pecaram na falta de diálogo. “O Senado chegou a um entendimento interessante e que eu, particularmente, concordo. A gente está ainda vivendo no meio da pandemia, mas somos nós, deputados, que representamos mais o anseio da população”, destaca.
Covidão
O Senado é, tradicionalmente, a Casa da Federação. Mas é a Câmara, por meio dos deputados, que está mais ligada ao clima político nos municípios. “E o clima é de que os prefeitos e os vereadores não querem o adiamento das eleições”, alerta Otoni. O deputado discorda, entretanto, da análise de Nelto de que seja vantajoso para para prefeitos o adiamento das eleições.
A leitura de Otoni é de que quem está na cadeira quer que isso o processo acabe o quanto antes. “Porque não é possível prever, ainda, se, até a eleição, vai ter achatamento da curva, ou se teremos uma renovação da pandemia em 15 de novembro, por exemplo”, explica. Fora isso, o deputado pondera que há muitas suspeitas e investigações em municípios acerca do Covidão. “Quanto mais estica o prazo, mais você está dando tempo para questionamentos”, justifica.
Com ou sem adiamento, não comparecerei para votar.
(Em pesquisa informal entre amigos, esta posição é unânime. )