(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 9 de setembro de 2023)
Mal se completaram oito meses de governo e o presidente da República manda para o público pagante a fatura da sua primeira “reforma ministerial”. Já? Para quem quer ficar oito anos no Palácio do Planalto, pelo menos, o mercadinho de secos e molhados movido com dinheiro do Erário parece estar abrindo cedo demais — nesse ritmo, quanta gente ainda vai ter de subir no bonde? Não há reforma nenhuma, é claro. Reforma ministerial é mudança nas opções, prioridades e projetos do governo — e para isso é preciso que haja opções, prioridades e projetos. O que acaba de ser feito é uma operação de compra e venda para Lula arranjar mais votos no Congresso — ou a gravíssima “governabilidade”, que serve como absolvição antecipada para tudo e para todos. Lembram-se do “projeto de país” que Lula e o PT prometiam para o Brasil? O “projeto de país” é isso: abrir o Tesouro Nacional para as gangues partidárias que operam na política brasileira sob a denominação genérica de “centrão”.
A operação, mais uma vez, foi cara e malfeita. O ministro dos Portos, que em oito meses no cargo não foi capaz de projetar um único metro de cais, ou de qualquer outra coisa útil, foi demitido e rebaixado para um ministério que até agora não existia — e do qual ninguém jamais sentiu a menor falta. Mais um, além dos 37 que Lula já conseguiu socar em cima do pagador de impostos? Sim: esse é o 38º. O nome que inventaram, acredite se quiser, é “Ministério do Empreendedorismo, do Cooperativismo e da Economia Criativa”. O ex-ministro dos Portos, cuja cadeira foi entregue a um fidalgo do “centrão”, achou que ficava ruim ser ministro da “Pequena e Média Empresa”, como se anunciou no começo; perdeu o cargo que realmente o interessava, esse de chefe dos Portos, mas levou um título mais bonito. O mais cômico nessa história foi dizerem que ele tinha “aceito” o novo ministério. É mesmo? E quem recusa? Se não aceitasse já estaria no olho da rua — só isso.
A ministra dos Esportes, cujo desempenho na função também ficou entre o zero e o menos um, não teve essa escolha: foi mandada embora, simplesmente, sem que o seu nome sequer fosse citado no palavrório oficial. Quem se lembrou dela, no consórcio da esquerda, diz que fez um “grande trabalho”. Qual? E se fez, por que foi demitida? Parece que tentaram compensar a dispensa de uma “mulher” fazendo Lula aparecer cercado de mulheres no palanque do desfile do 7 de Setembro; tudo bem, mas isso não lhe devolveu o emprego. Para o seu lugar foi o deputado “Fufuca”, outra estrela do “centro democrático”. Eis aí, então, o “novo Brasil” de Lula. Mais um ministério – e “Fufuca” no governo.