(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 25 de outubro de 2023)
A Petrobras não sossega. Não num governo Lula-PT: depois de ter sido jogada por eles mesmos à beira da bancarrota, nos 13 anos e meio da sua primeira passagem por Brasília, a estatal sagrada da esquerda brasileira está fazendo o possível, mais uma vez, para voltar à zona do rebaixamento. A Petrobras, naquele período, foi possivelmente a empresa mais roubada da história econômica mundial — com confissões assinadas de culpa, condenações em tribunais estrangeiros, devolução física de dinheiro por parte dos corruptos. Só se salvou da falência porque Lula e Dilma Rousseff tiveram de sair do governo. Com a interrupção na roubalheira nesses últimos sete anos — e com a nova Lei das Estatais, que proíbe o presidente da República de entregar os cargos de direção para os amigos — a Petrobras voltou a dar lucro e a pagar dividendos para o Tesouro Nacional. Poderiam deixar exatamente assim. É claro que querem o contrário. Estão exigindo de volta as oportunidades ilimitadas de fazer fortuna que tiveram até 2016.
O pé-de-cabra para arrombar de novo o cofre é a atual manobra do Conselho de Administração da Petrobras, através da qual estão tentando mudar os estatutos da empresa, baseados na Lei das Estatais; querem ressuscitar as nomeações políticas na direção. O PT e Lula sempre foram contra essa lei, essencial para se combater a corrupção nas empresas controladas pelo poder público. Perderam no Congresso, mas agora não precisam dos votos de deputados e senadores — têm o STF. Não há erro, ali. É pedir e levar. No caso, o Supremo adotou o procedimento-padrão utilizado hoje para se fazer o que o governo quer — como há uma lei atrapalhando, os ministros declaram que a lei é “inconstitucional”. Qual é o problema com isso? Se o STF é capaz de decidir que artigos da própria Constituição são “inconstitucionais”, por que não faria a mesma coisa com a coitada de uma lei aprovada pela Câmara e pelo Senado?
É impossível achar qualquer espécie de argumento racional para justificar a devolução da Petrobras aos políticos, amigos e amigos dos amigos que levaram a empresa à ruína. A repercussão, é claro, foi um desastre. “No auge do ‘Petrolão’, recursos de projetos superfaturados financiavam o pagamento de propinas”, escreveu um editorial de O Globo. “A própria empresa reconheceu desvios de R$ 6,2 bilhões em seu balanço. Eles só ocorreram porque os diretores eram, com o beneplácito de Brasília, apadrinhados pelos políticos de diferentes partidos que se beneficiavam dessas propinas”. É essa a Petrobras dos sonhos de Lula e da esquerda nacional. Desde a sua volta ao governo, em 1º. de janeiro, a empresa está sendo dirigida por um ex-senador do PT — que, por sinal, é sócio de empresas da área petroleira. Estão querendo muito mais que isso.