(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 21 de fevereiro de 2024)
O presidente Lula é um grande especialista em utilizar sua própria falta de cultura, que ele insiste em manter intacta, para fazer o mal — é o que se chama de ignorância mal-intencionada. Acaba de dar mais um espetáculo do gênero numa conferência de chefes de Estado na África.
Como se entendesse alguma coisa de história — ele, que já foi capaz de dizer em detalhes que Napoleão esteve na China —, revelou ao mundo que nunca houve “um momento histórico” como o da operação militar de Israel em Gaza.
É uma estupidez em estado bruto, mas Lula aproveitou, como é seu hábito, para enfiar um propósito maligno na asneira que estava falando. “Só Hitler”, segundo ele, fez coisa parecida, “com os judeus”. Igualar os crimes incomparáveis do Holocausto nazista com a reação armada de Israel ao ataque terrorista que sofreu cinco meses atrás é dizer que o carrasco e as vítimas têm culpa igual — uma falsidade 100% desonesta, que atiça o antissemitismo e cobre de infâmia o nome do Brasil no mundo.
“Ao dizer que a guerra de Israel contra os terroristas do Hamas se assemelha ao Holocausto, Lula, a um só tempo, vandalizou a história, a memória das vítimas da indústria da morte nazista e os interesses do Brasil”, disse O Estado de S. Paulo em editorial que define com precisão as dimensões do desastre causado pelo presidente — o pior, sem dúvida, de todos os que vem acumulando no campo diplomático em seu primeiro ano de governo.
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Lula, na verdade, não faz uma política externa destinada a defender os interesses do Brasil. Só pensa, desde que chegou ao cargo, em servir a seus propósitos pessoais — uma coleção deformada de recalques, rancores, ideias mortas e um ódio incurável à liberdade econômica, aos Estados Unidos e às democracias ocidentais. No conflito atual, desde o primeiro minuto, tomou de maneira quase-oficial o partido do terrorismo contra Israel. Não pediu licença, nem conselho, a ninguém para fazer o que está fazendo. Apenas impôs a sua posição pessoal como posição do Brasil, e não tem o direito de fazer isso. O presidente da República é o responsável pela execução da política externa, sem dúvida. Mas ele é mais responsável ainda perante o povo brasileiro.
Desde quando o Brasil acha, como Lula, que a Rússia tem direito de invadir a Ucrânia — ou que Venezuela, Cuba e Nicarágua são democracias? Quem o autorizou a colocar o Brasil a favor de um candidato na eleição da Argentina — que perdeu, aliás? Como fica chorando o tempo todo com a “falta de recursos” e doa bilhões de dinheiro público às ditaduras caloteiras que batem palmas para ele?
No caso do atual conflito entre Israel e o Hamas sua arrogância em confundir aquilo que quer com aquilo que o Brasil precisa é mais agressiva ainda. Ele quer que o povo brasileiro considere como vítimas de “genocídio” os que pregam abertamente o genocídio contra os judeus de Israel. Usa as mortes de civis em Gaza, resultado direto do assassinato de 1,2 mil israelenses inocentes por parte do Hamas, para promover a sua política pró terrorismo, disfarçada de “pró-Palestina”. Diz que está “contra Israel, não contra os judeus” — o que diria, então, sobre quem viesse a declarar, por exemplo, que quer destruir “o Brasil”, mas não “os brasileiros”? É o pior momento na calamidade histórica da sua política externa.
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