O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta terça-feira, 16, que não há problema em não cumprir a meta fiscal. Conforme o petista, é aceitável não alcançá-la se houver “coisas mais importantes a fazer”.
“Você não tem obrigação de estabelecer uma meta e cumpri-la se tiver coisas mais importantes para fazer”, disse Lula em entrevista à TV Record, publicado pelo portal R7. A conversa foi ao ar na noite desta terça-feira.
Diante das falas de Lula, o dólar, que operava em baixa pela manhã de terça-feira, avançou para R$ 5,46. Depois, desacelerou e agora opera estável, em leve queda. Agora, no meio da tarde desta quarta-feira, 17, é cotado a R$ 5,49.
Diferença de visão entre Lula e o mercado
Lula afirmou que o Brasil é um país grande, mas que a visão de alguns dirigentes e especuladores é “limitada”. Ele destacou que diverge do mercado ao considerar certas ações como investimentos, enquanto operadores as veem como gastos.
O presidente ressaltou seu compromisso com a seriedade fiscal e disse que o importante é que o país mantenha o crescimento. Lula garantiu que fará o necessário para cumprir o arcabouço fiscal, a nova regra para controle das contas públicas.
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Em relação ao corte de gastos, o presidente disse que precisa ser convencido sobre sua necessidade e que a única coisa fora de controle na economia brasileira é a taxa de juros. “Tenho de estar convencido se há necessidade ou não de cortar.”
Lula e a taxa de juros
O petista alegou que os números mostram que a economia do Brasil vai bem e que “a única coisa que não possui controle é a taxa de juros”.
Além disso, afirmou que a meta de déficit zero para este ano não sofreu rejeição. Lula ainda destacou sua experiência de administração bem-sucedida em seus primeiros mandatos como presidente, de 2003 a 2010.
“Às vezes, fico irritado, porque não sou marinheiro de primeira viagem”, argumentou. “Sou o presidente da República mais longevo deste país depois de Getúlio Vargas e de Dom Pedro II.”
Mercado se preocupa com os gastos do governo
O mercado e o setor produtivo cobraram os ministérios da Fazenda e do Planejamento a realizarem um ajuste fiscal pelo lado das despesas. A exigência surge diante do esgotamento da agenda arrecadatória no Congresso e dos sinais de fragilidade do arcabouço fiscal.
A fala de Lula gera preocupação no mercado de que a equipe econômica anuncie, na próxima semana, um contingenciamento (congelamento preventivo de despesas) menor do que o necessário para cumprir a meta de déficit zero para 2024.
Para a próxima segunda-feira, 22, está prevista a divulgação do terceiro relatório bimestral de receitas e despesas.
Nele, espera-se o anúncio de um bloqueio de recursos mais expressivo, para demonstrar compromisso com a meta e com o limite de gastos estabelecido pelo arcabouço. Este último prevê alta real (acima da inflação) de até 2,5% ao ano.
Em meio às pressões do mercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se comprometeu com um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias no próximo ano. Isso seria feito por meio de revisão e pente-fino nos cadastros de benefícios sociais.
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