(Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 11 de novembro de 2021)
O ex-presidente Lula, ex-presidiário, ex-chefe de palanque em comício de operário, ex-portento mundial (“he’s the man”, disse Barack Obama em sua então augusta posição), e atual candidato à presidente da República, está de viagem pela Europa em cumprimento a mais um dos seus deveres de marketing eleitoral. É sempre melhor circular por Paris, alavancado por olhares de adoração de toda aquela gente que faz o tipo “europeu de esquerda”, do que amassar barro no interior da Paraíba — mas aí é que está: toda campanha também tem os seus momentos de vida boa.
Para Lula, que enfrenta um tempo de chuva e frio por aqui — onde não pode sair na rua com medo de vaia — este passeio de milionário pela Europa, com tudo pago e tratamento cinco estrelas, é o que poderia acontecer de mais gostoso no momento. Durante uns dias, pelo menos, ele vai viver uma das fantasias preferidas da esquerda de país rico — a de que Lula é um herói da classe operária, que nunca cumpriu pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, nunca se meteu com empreiteiro de obra e nunca teve ministro que delatou crimes de ladroagem no governo e devolveu dinheiro roubado.
Onde mais Lula pode viver esse tipo de conto de fadas? Só mesmo lá, onde trinta anos de propaganda na mídia e a necessidade de criar heróis populares vindos de terras distantes (Mandela, etc.) fizeram dele uma espécie de santo padroeiro de tudo aquilo que a esquerda europeia mais gosta. Lula, por lá, é o homem que “acaba com a pobreza” (embora, por alguma razão, nunca tenha acabado com os pobres). Defende os indígenas. Salva os quilombolas, os transgêneros e as “mulheres”. Faz reforma agrária. É o protetor das florestas, das nascentes e da ararinha-azul. Combate, com as próprias mãos e o risco da própria vida, o “capitalismo selvagem”.
Quem não gosta de cair de cabeça nesse tipo de Terra do Nunca, onde só tocam a sua música e é proibida a entrada de realidades? Em Paris, por exemplo, logo em Paris, ele vai ter uma recepção de Papa. A prefeita municipal, justo ela, é uma devota arrebatada — deu o nome de “Marielle Franco” a uma praça da cidade, para se ter uma ideia de quem é a peça, e da festança que vai armar para Lula e a admiração sem limites da mídia. Lava-Jato? O que é isso? Não existe Lava Jato em Paris.
Campanha eleitoral assim dá gosto de fazer.
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